25 de dez. de 2015

Papos de Sexta: Toda Forma de Amor é Linda



A gente sempre diz que não tem preconceito. Mas assumo que durante muito tempo o tive e o carreguei comigo por não entender, por achar que era errado. Mas quem mesmo diz o que é certo? Nossos pais? A religião em que somos criados? Sou de uma época onde a internet não era algo tão comum na adolescência; sim, ela já existia, mas não fazia parte da vida de todos nós.  Sendo assim, a gente sabia o que vivia, o que lia na revista, o que via na TV... e tudo que se falava de homossexuais parecia errado, o mundo não aceitava (e sei que muitos ainda torcem o nariz até hoje).

Em casa também não tínhamos o hábito de discutir sobre isso, então toda vez que alguém vinha com o assunto eu pensava que não era a favor, mas não abria a boca. Gente, mas do que eu tinha que ser a favor? É isso que eu não entendia e que as pessoas não entendem...até onde a opção sexual de alguém interfere na sua vida? Não devo me meter. Sei disso hoje, mas demorei um certo tempo para descobrir.

Não vou citar nomes, mas foi quando ouvi da boca de uma amiga, que amo muito, que ela gostava de meninas que acordei para o tema. À primeira vista, pensei que ela estava brincando, depois vi que era verdade quando me apresentou à namorada. E foi exatamente o convívio com ela que me fez perceber o quão pouca informação eu tinha a respeito e o quão preconceituosa eu era. E não se enganem,  o preconceito não é somente o que você coloca para fora em palavras e gestos...ele mora em você; e, por comodismo ou outro motivo, você não se interessa em saber porque ele existe.

É tão estranho pensar na pessoa que fui e na que sou hoje em dia. Eu pude ver no rosto da minha amiga a felicidade de poder dizer a todos de quem ela gostava... o parar de se esconder foi libertador e a aceitação de quem ela amava – e isso me incluía – foi fundamental nessa fase.

Não lembro quantos anos tem isso, exatamente, mas de lá para cá as vitórias foram muitas nesse assunto. Claro que ainda há diversas batalhas a serem vencidas, mas o número de amigos e amigas que gostam do mesmo sexo só aumentou, e isso só me faz ver o quanto isso sempre existiu, mas a vida não deixava eles serem quem são.

Por abraçar o tema, e compreendê-lo e não aceitar de nenhuma forma que meus amigos se magoem com pessoas que acham que tem o direito de interferir em suas vidas, eu me encantei com os livros de David Levithan. Já tinha lido Nick & Norah e amado, mas aqui entre nós, os livros dele com a temática LGBT são sensacionais. Sempre recomendo a todos, aos que já entenderam que vencer o preconceito depende de nós. Quem ama de verdade quer ver o outro feliz, seja ele da sua família ou seu amigo.

Se você se sente como eu me sentia antes da minha amiga revelar “seu segredo”, acorde, nunca é tarde demais para mudar de lado, e os do bem, aqueles que aceitam os outros como eles são, sempre têm lugar para mais um.


Leia Will & Will, suspire com Garoto encontra Garoto, mergulhe de cabeça em Dois garotos se beijando...o resultado com certeza vai ser único. Não tem como não amar Levithan, muito menos como entrar 2016 sendo tão 1916 ;) 

18 de dez. de 2015

Papos de Sexta: 365 dias e milhares de páginas

Essa é a minha última coluna do ano e escolher o tema foi difícil.

Pensei em escrever sobre o aniversário de Jane Austen e como ela influenciou tantos autores de gerações futuras e continua a fazer isso até hoje. Mas deixei para uma próxima vez.



Pensei, em seguida, em abordar Guerra nas Estrelas e como estamos prontos para assistir a um novo filme, rezando para que ele resgate o arrepio que a trilogia clássica nos trouxe e ignore a tristeza de foi a trilogia mais nova. Mas achei melhor viver a experiência antes de escrever sobre ela.

Aí fui para o lado polêmica e pensei em fazer mais uma coluna sobre comportamento (ou a falta do mesmo) em redes sociais, tema que curto debater, inclusive por aqui. Mas achei melhor esperar para uma data menos simbólica.

E aí fiquei sem tema...  E essa falta de tema me fez pensar no ano inteirinho e como ele foi repleto de altos e baixos para todos nós.

Como brasileiros, nossa paciência com corrupção e injustiça está no fim. Buscamos justiça, mas parece que o mar de lama nos engole a cada braçada.

Por falar em lama, ela clamou vidas esse ano e a revolta fica ainda maior ao notarmos que, tentar corrigir um dos piores desastres ambientais do país parece não ser prioridade para quem o causou.

Em 2015, vimos pessoas utilizarem a beleza da fé para tentar justificar massacres.

Em 2015, vimos muita coisa ruim e revoltante nos noticiários, mas também vimos – dentro e fora da mídia – compaixão, felicidade, amor.

Como todos os anos, 2015 foi um ano complexo, de uma forma ou de outra, para todos nós. E o interessante é que, em todos esses dias, fossem eles bons ou não tão bons, tivemos uma constante: os livros.

O dia estava ruim? É só a gente se perder nas páginas do novo volume dos diários de uma certa princesa e pronto! Sorriso garantido.

O dia estava bom? Então podemos compartilhar esse sentimento com aventuras vividas em mundos fantasiosos onde o trono é de vidro e a situação é mais tensa.

Frustração, tristeza, contentamento, felicidade, angústia, e tantos outros sentimentos que nos faz humanos podem ser compartilhados entre nós e elas, as páginas.  

Então, na minha última coluna de 2015, agradeço aos autores por nos manter firmes em nossas jornadas individuais. Vocês podem estar apenas contando uma história, mas para nós, vocês fazem muito mais. Mesmo sem saber, vocês nos mantém fortes e corajosos; sensíveis e apaixonados; completos.



Que à meia-noite de 31 de dezembro de 2015, quando as doze badaladas anunciarem o novo ano, possamos olhar para trás com a certeza de que fizemos o nosso melhor. E que tenhamos a certeza em nosso coração de que os próximos 365 dias serão ainda mais incríveis. Obrigada pela leitura durante esse ano e que venha mais um!

Feliz Natal e um 2016 repleto de páginas para todos nós!

  

17 de dez. de 2015

Galera entre letras: O presente dos Magos

Na coluna de Natal do ano passado [aqui], eu já tinha citado “O Presente dos Magos” como um dos contos mais importantes que têm como tema o Natal. Hoje resolvi arriscar uma tradução e postá-la aqui, junto com meus votos de boas festas e um 2016 com muitas leituras pra todos nós! A.R.

O Presente dos Magos, de O. Henry*

Um dólar e 87 centavos. Era tudo. Sessenta moedinhas de um centavo. Moedinhas economizadas de duas em duas, às vezes, ao intimidar o dono da mercearia, o verdureiro e o açougueiro até as bochechas de um deles arderem com a acusação de parcimônia que tal negócio íntimo implicava. Três vezes Della contou. Um dólar e 87 centavos. E o Natal era no dia seguinte.

Era evidente que nada se podia fazer, além de desabar no pequeno sofá velho e chorar. E foi o que Della fez. O que provoca a reflexão moral de que a vida é feita de soluços, fungadas e sorrisos, com o predomínio de fungadas.

Enquanto a dona da casa está, aos poucos, passando do primeiro para o segundo estágio, deem uma olhada na casa. Um apartamento mobiliado a oito dólares por semana. Não é que faltassem palavras para descrevê-lo, mas certamente a palavra falta se destacava na observação para o esquadrão da pobreza.

No vestíbulo abaixo, havia uma caixa de correio na qual carta alguma entrava, e um botão elétrico, do qual nenhum dedo mortal poderia obter um som. Além disso, próximo a ela via-se um cartão com o nome “Sr. James Dilingham Young”.

O “Dilingham” fora lançado à brisa durante uma época anterior de prosperidade, quando o nomeado recebia trinta dólares semanais. Agora que a receita encolhera para vinte dólares, eles pensavam seriamente em abreviá-lo para um modesto e despretensioso D. Mas sempre que o Sr. James Dillingham Young voltava para casa e pisava em seu apartamento no andar de cima, era chamado “Jim”, e recebia um grande abraço da sra. James Dillingham Young, já apresentada a vocês como Della. O que é muito bom.

Della parou de chorar e cobriu suas bochechas com o pó facial. Ela estava parada perto da janela e fitava, indiferente, um gato cinzento que caminhava sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã era dia de Natal, e ela tinha apenas um dólar e 87 centavos para comprar um presente para Jim. Andara economizando cada centavo que podia durante meses, e este era o resultado. Vinte dólares por semana não davam para muita coisa. As despesas foram maiores do que ela havia calculado. Sempre são. Somente um dólar e 87 centavos para comprar um presente para Jim. Ela havia passado muitas horas felizes planejando comprar alguma coisa bonita. Algo belo, raro e de boa qualidade ― alguma coisa só um pouquinho digna da honra de pertencer a Jim.

Havia um imenso espelho decorado entre as janelas do cômodo. Talvez você tivesse visto um espelho desses num apartamento de oito dólares. Uma pessoa muito magra e ágil, ao observar o reflexo numa rápida sequência de faixas longitudinais, obtinha uma visão bastante precisa de sua aparência. Della, por ser esguia, tinha dominado a arte.

Subitamente ela girou e se afastou da janela, postando-se diante do espelho. Seus olhos brilhavam, mas o rosto perdeu a cor vinte segundos depois. Rapidamente ela soltou o cabelo e o deixou cair em todo seu comprimento.

Dois eram os bens do casal James Dillingham Young dos quais ambos se orgulhavam tremendamente. Um era o relógio de ouro de Jim, que havia pertencido ao pai e ao avô. O outro eram os cabelos de Della. Se a rainha de Sabá vivesse no apartamento do outro lado do duto de ventilação, Della botaria cabelos para fora da janela para secar apenas para humilhar as joias e presentes de Sua Majestade. Se o rei Salomão fosse o zelador, com todos os seus tesouros empilhados no sótão, sempre que Jim passasse por ele sacaria o relógio, apenas para ver o outro cofiar a barba com inveja.

Então agora os lindos cabelos de Della desciam como cascatas, onduladas e reluzentes, de águas castanhas. O cabelo alcançava até debaixo de seu joelho e quase se tornava uma peça de roupa para ela. Em seguida, ela o prendeu de novo, rápida e nervosamente. Ela hesitou por um instante e ficou parada enquanto uma lágrima e outra pingavam no tapete vermelho surrado.

Ela vestiu o velho casaco marrom; botou na cabeça o velho chapéu marrom. Com um giro das saias e a centelha brilhante nos olhos, passou rapidamente pela porta e desceu os degraus que davam para a rua.

Parou onde a placa dizia: “Mme. Sofronie. Cabelos de Todos os Tipos”. Della subiu correndo um degrau e se recompôs enquanto arfava. Madame, gorda, muito branca, antipática, nem parecia a “Sofronie”**.

― A senhora quer comprar o meu cabelo? ― perguntou Della.

― Eu compro cabelo ― respondeu Madame. ― Tire seu chapéu e vamos dar uma olhada nele.

A cascata castanha desceu em ondas.

― Vinte dólares ― falou Madame, erguendo a massa com mão treinada.

― Me dê rápido então ― retrucou Della.

Ah, e as duas horas seguintes voaram em asas cor-de-rosa. Esqueçam a metáfora confusa. Della estava revirando as lojas atrás do presente de Jim.

E finalmente ela encontrou. Sem dúvida, tinha sido feito para Jim e mais ninguém. Não havia outro presente como este em loja alguma, e ela tinha revirado todas. Era uma corrente de platina para relógio de bolso com um desenho simples e austero, que de modo adequado somente proclamava seu valor pela substância e não pela ornamentação vulgar ― como todas as coisas boas deveriam fazer. Era digna até do Relógio. Assim que a viu, soube que deveria pertencer a Jim. Era como ele. Austeridade e valor ― a descrição se aplicava aos dois. Tiraram dela 21 dólares, e ela se apressou para casa com 87 centavos. Com aquela corrente no relógio Jim poderia parecer adequadamente preocupado com as horas junto a qualquer companhia. Por mais grandioso que o relógio fosse, algumas vezes Jim olhava para ele disfarçadamente por causa da tira de couro velha que usava no lugar de uma corrente.

Quando Della chegou em casa, a agitação deu lugar à prudência e à razão. Ela pegou o ferro de cachear, acendeu o gás e se pôs a trabalhar para reparar a destruição feita pela generosidade somada ao amor. O que sempre é uma tarefa tremenda, caros amigos ― uma tarefa gigantesca. 

Quarenta minutos depois, sua cabeça estava coberta com cachos minúsculos, bem rentes à cabeça, que faziam com que ela se parecesse graciosamente com um garotinho preguiçoso. Ela fitou longa, cuidadosa e criticamente o reflexo no espelho.

― Se Jim não me matar ― falou para si mesma ― antes que olhe para mim uma segunda vez, ele vai dizer que pareço com uma corista de Coney Island. Mas o que eu poderia ― Oh! O que eu poderia fazer com um dólar e 87 centavos?

Às sete horas, o café fora passado e a caçarola estava no fundo do fogão quente, pronta para preparar os bifes.

Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente na mão e se sentou no canto da mesa perto da porta pela qual ele sempre entrava. Então ela ouviu seus passos no degrau do primeiro lance, e empalideceu por apenas um momento. Ela tinha o hábito de rezar uma oração curta e silenciosa sobre as coisas simples do dia a dia e agora murmurou:

― Por favor, meu Deus, fazei com que ele ainda me ache bonita.

A porta se abriu e Jim entrou e a fechou. Ele aparentava magreza e muita seriedade. Coitado, apenas 22 anos e o fardo de uma família! Precisava de um sobretudo novo e não calçava luvas. 
Jim parou no lado de dentro da porta, tão imóvel quanto um cão de caça ao sentir o cheiro da codorna. Seus olhos se fixaram em Della; neles via-se uma expressão que ela não podia interpretar, e isso a apavorou. Não era raiva, não era surpresa nem desaprovação, também não era horror ou qualquer sentimento para o qual ela estivesse preparada. Ele simplesmente a encarou com aquela expressão peculiar no rosto. 

Della circundou a mesa e foi até o marido.

― Jim, querido ― gritou ela ―, não me olhe assim! Eu cortei e vendi meu cabelo porque não podia passar o Natal sem lhe dar um presente. Vai crescer de novo... Você não vai se importar, não é? Eu simplesmente tinha que fazer isso. Meu cabelo cresce ridiculamente rápido. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e vamos ficar contentes. Você não sabe que adorável… que belo e adorável presente eu comprei para você.

― Você cortou seu cabelo? ― indagou Jim, com dificuldade, como se não ainda tivesse assimilado o fato evidente apesar do tremendo esforço mental.

― Cortei e vendi ― falou Della. ― Mas você gosta de mim do mesmo jeito, não é? Ainda sou eu sem o cabelo, não sou?

Jim olhou ao redor do cômodo com curiosidade.

― Você está dizendo que seu cabelo se foi? ― falou, com um ar de idiotia.

― Você não precisa procurar ― falou Della. ― Eu vendi, já disse… vendi e ele se foi também. É véspera de Natal, homem. Seja bonzinho comigo porque ele se foi por sua causa. Talvez os fios na minha cabeça tenham sido contados ― emendou ela com uma doçura subitamente séria ―, mas ninguém já contou meu amor por você. Será que eu devo servir os bifes, Jim?

Saindo do transe, Jim pareceu acordar rapidamente. E abraçou Della. Durante dez segundos, vamos examinar com discreta observação algum objeto sem importância em outra direção. Oito dólares por semana ou um milhão por ano… Qual é a diferença? Um matemático ou um sábio responderiam incorretamente. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Essa observação sombria será iluminada adiante.

Jim tirou um pacote do bolso do sobretudo e jogou-o sobre a mesa.

― Não se engane, Dell ― falou ele ― a meu respeito. Não acho que haja alguma coisa, seja um corte de cabelo, raspar a cabeça ou um xampu, que pudessem me fazer gostar menos de você. Mas se você abrir o pacote pode ver, para começo de conversa, por que fiquei fora algum tempo. 

Dedos brancos e ágeis rasgaram o cordão e o papel. Ouviu-se um grito extasiado de alegria; e então, que infelicidade! uma rápida mudança para lágrimas e gemidos histéricos, que necessitavam imediatamente de todos os poderes do homem da casa para acalmá-los.

Pois lá estavam Os Pentes ― o conjunto de pentes para a lateral e a parte de trás, que Della havia adorado muito tempo numa vitrine da Broadway. Belos pentes de puro casco de tartaruga, com beiradas de joia ― da exata cor para usar no belo cabelo que se foi.

Mas ela os abraçou junto ao peito, e finalmente foi capaz de erguer o olhar com olhos sombrios e um sorriso, e falou:

― Meu cabelo cresce muito rápido, Jim! 

E então Della deu um pulo feito um gatinho escaldado e gritou:

― Oh, oh!

Jim não tinha visto ainda seu belo presente. Ela o estendeu ansiosamente para o marido na palma da mão aberta.

― Não é elegante, Jim? Eu revirei toda a cidade para encontrar. Você vai ter que ver as horas cem vezes por dia agora. Me dê seu relógio. Quero ver como fica.

Em vez de obedecer, Jim desabou no sofá e pôs as mãos embaixo da nuca, sorrindo.

― Dell ― falou ele ― vamos guardar os presentes por algum tempo. Eles são bonitos demais para usarmos no momento. Eu vendi o relógio para ter dinheiro para comprar os pentes. E agora que tal você servir os bifes?

Os magos, como vocês sabem, eram homens sábios ― homens maravilhosamente sábios ― que trouxeram presentes para o bebê na manjedoura. Eles inventaram a arte de dar presentes de Natal. Por serem sábios, sem dúvida, seus presentes eram sábios, e provavelmente tinham o privilégio de serem trocados caso fossem duplicados. E aqui eu contei com certo tédio a vocês a crônica sem graça de duas crianças bobas num apartamento, que de modo nada prudente sacrificaram uma pela outra os maiores tesouros da casa. Mas numa última palavra aos sábios desses dias, que seja dito que de todos que dão presentes esses dois foram os mais sábios. De todos os que dão e recebem presentes, tais são os mais sábios. Em toda parte, eles são os mais sábios. Eles são os magos.

* Publicado em 1905, o conto é um dos mais famosos do escritor O. Henry, que não poucas vezes foi comparado a Charles Dickens
**O nome da mulher remete, em grego, à ideia de prudência e virtude.


Versão cinematográfica do conto (1952)

9 de dez. de 2015

Galera Pop: Jessica Jones


Jessica Jones foi um presente fabuloso que Marvel e Netflix nos deram neste final de ano. Vou falar aqui como uma fã de séries comum, não sou adepta das histórias em quadrinhos. Então não se assustem, ou me julguem, mas eu nunca tinha ouvido falar dessa tal de Jessica Jones antes da Netflix divulgar que iria fazer a série. Então foi mais ou menos assim, eu fui lá assistir à série e me deparo com essa mulher forte, solitária e corajosa. Como de costume, fui procurar saber mais com meu amigo Google. Com mais noção do universo em que ela vive (não, eu não assisti e nem li o Demolidor) e mais conhecimento de alguns dos personagens foi tranquilo seguir os episódios.
Krysten Ritter, de Breaking Bad e Don’t Trust the B* in Apartment 23, foi a escolhida para interpretar a super-heroína. Mesmo não conhecendo a personagem, fiquei um pouco intrigada com a escolha da atriz. Já a conhecia de vários filmes e séries no melhor estilo “comédia romântica”, então fiquei meio na duvida ao imaginá-la interpretando uma personagem que não tivesse o estilo da melhor amiga da Becky Bloom ou da roomate folgada de Apartment 23. E foi uma surpresa muito boa! Se você a conhece pelos papéis mais água com açúcar, pode confiar, ela arrasa.



A série não trás aquela coisa de fantasia da HQ, Jessica não aparece usando uniforme, não voa e está longe de ser aquela típica heroína que estamos acostumados. Ela é bem “gente como a gente”, isso faz a série chamar tanta atenção, tem problemas reais, trabalho real, apartamento real. A moça usa seus poderes só no trabalho, ela é detetive particular. E nesse meio tempo, Jessica tem algumas visões perturbadoras. A gente (se você, como eu, não conhece a história) só começa a entender isso lá pelo terceiro episódio quando o vilão, interpretado pelo David Tennant (os whovians gritam!) aparece. Kilgrave tem o poder de controlar mentes; as pessoas fazem tudo que ele manda. O cara é obcecado pela Jessica, de quem se aproveitou no passado, e, quando ele volta, ela tem que lutar para sobreviver e resistir aos abusos do vilão.



Essa relação abusiva de que ela tenta se livrar, trouxe à tona um problema que muita mulheres sofrem. A luta que ela tem todo dia para se manter longe das garras dele é uma alusão clara aos relacionamentos abusivos que estão por toda parte. Disfarçados de “quem ama cuida”, ou seja qual for a desculpa esfarrapada que caras babacas dão para serem abusivos com suas companheiras. Não vou me estender nesse tópico, mas recomendo algumas leituras:

Krysten Ritter: ‘Jessica Jones é feminista com F maiúsculo':  http://www.brasilpost.com.br/2015/12/08/jessica-jones-feminista_n_8747884.html 

Jessica Jones e relacionamentos abusivos: 

Jessica Jones e o lado mais sombrio da Marvel: 

Jessica Jones é incrível e você PRECISA conhecê-la! Prometo que não vai se arrepender.

xoxo

Fernanda


8 de dez. de 2015

Os melhores de 2015



Meu livro favorito de 2015, com certeza, foi O aprendiz, primeiro volume da série Conjurador. A história do autor Taran Matharu fez um sucesso estrondoso no Wattpad, rede social de publicação e leitura online, e conta a história de Fletcher, um órfão de 15 anos que, sem saber como, consegue conjurar um demônio. A partir daí, ele garante uma vaga na Academia Vocans, uma escola que treina seus alunos conjuradores para a guerra contra os Orcs.
Lá, Fletcher irá fazer bons amigos e inimigos realmente péssimos. E acaba descobrindo muito sobre seu passado.
Me apaixonei pela história porque sou fanático por fantasias de qualidade, e essa tem elementos muito atrativos para quem curte uns feitiços aqui, um mago acolá e, de quebra, criaturas poderosas batalhando. O estilo de escrita do Taran tem muito daquele ar fresco de autores novos, cheios de disposição para criar e desenvolver do seu jeito o universo e os personagens tão carismáticos que criaram. Além disso, os demônios, que estão mais para pokémons, podem ser fofos e poderosos, e têm uma ligação íntima com seus conjuradores.
Tem muita ação, mistério e o livro mantém, o tempo inteiro, um ritmo que te faz não querer parar de ler.
Estou desesperado pelo próximo da série. Taran, escreve logo! Nunca te pedi nada...

Bjo!

Rodrigo Austregésilo



Reencontrar a princesa Mia depois de tanto tempo foi o ponto alto das minhas leituras em 2015. E não é que ela continua engraçada e totalmente adorável? Para quem ainda não sabe, esse ano lançamos um novo volume de O diário da princesa, de Meg Cabot, O casamento da princesa. Mia já tem 26 anos, ainda namora o Michael e continua tentando se esquivar das exigências de Grandmère. Como qualquer moça da sua idade, ela só quer se divertir de vez em quando, mas as coisas não são tão simples quando se é uma princesa! Formalidade é tudo e tanto a imprensa quanto a família real andam cobrando por um compromisso mais sério entre ela e o namorado. O sim é certo, mas isso, claro, não é tudo...
Temas contemporâneos e relevantes como feminismo, política e questões raciais se misturam às trapalhadas da princesa e seu séquito. Para mim, foi como reencontrar uma velha amiga e dar boas risadas. Mas fiquei com gostinho de quero mais. Ouviu, Meg? #FicaMia #MiaNewAdult #CometoBrazilMia

Aproveitem os feriados do final do ano para conferir e depois me contem!
Ah, quem ficar com muita saudade da Mia (como fiquei), pode procurar a edição capa dura de colecionador do volume um da série, com prefácio emocionante da Paula Pimenta – ficou espetacular e digna da realeza.  

Boas festas, pessoal!

Beijo da Ana



Já é Natal! Praticamente. E chegou a hora de revelar meu livro Galera predileto, entre tantos. Aliás, tarefinha ingrata! São tantos. Alguns ainda nem publicados. Escolher o livro do ano é quase como admitir que se ama mais um filho que outro... Devia ser proibido! Mas... vamos lá!
Um dos livros que mais me chamou a atenção no ano foi o primeiro juvenil da Sophie Kinsella, À procura de Audrey. Sim, fui leitora do Diários de consumo e ri muito com as trapalhadas da Becky Bloom. Realmente estava curiosa para ver como a autora conseguiria abordar um tema tão delicado como bullying, sem perder a própria voz. Até porque, a personagem principal, Audrey, é uma adolescente. Nada a ver com as balzaquianas às voltas com encontros malsucedidos, chefes exigentes e contas a pagar. Mas Sophie conseguiu migrar de gênero, sem abandonar suas principais características, e construiu um romance com personagens incríveis de tão críveis. Delicado e bem-humorado, o livro me emocionou... Afinal, quem nunca se sentiu deslocado, sozinho e triste? Lutando para encontrar não só seu lugar no mundo, mas uma forma de se colocar nesse mesmo mundo, defendendo suas opiniões com consciência e, por que não?, sempre, com educação. Respeito às diferenças!!!! Por favor! Hoje mais que nunca! Como não amar? Sou aquário!!  

Adriana Fidalgo



Me deram a tarefa superdifícil de escolher meu livro favorito do ano. Estava aqui pensando em 2015, nas coisas importantes que vieram à tona, e em como o feminismo ganhou destaque na mídia e nas redes sociais. Esse movimento é muito importante e para efetuarmos uma mudança nos padrões de desigualdade, precisamos empoderar as mulheres, tanto as reais quanto as ficcionais. E foi pensando nisso que escolhi falar de uma das séries com a personagem feminina mais forte de todos os tempos: Trono de Vidro.

Eu nunca li nada como Trono de vidro e nunca conheci um personagem como a Celaena. Ela é uma assassina, tem seu próprio código de ética. Ela luta de igual para igual com homens e mulheres. Ela é frágil, claro, como todos somos em algum momento. Mas  a saga de Celaena não acaba com ela se apaixonando pelo homem ideal. Não. Celaena se apaixona diversas vezes, mas isso nada tem a ver com sua luta. Celaena não precisa da proteção do homem amado, pelo contrário, ela é quem o protege com unhas e dentes e lâminas afiadas. Afinal, se envolver com uma assassina desse tipo é extremamente perigoso para qualquer homem. E Celaena não enxerga as outras mulheres da corte como uma ameaça. Ela forja amizades com outras mulheres fortes e juntas elas lutam contra inimigos comuns. Além de ser um livro de fantasia de proporções épicas, cheio de reviravoltas, traições e personagens complexos, Herdeira de Fogo é um romance com uma protagonista que todas as garotas podem admirar. Afinal, já está mais do que na hora da gente ter uma heroína para chamar de nossa! E precisamos de mais livros assim.

Rafa Machado

7 de dez. de 2015

Tons da Galera: Serenity, now

Chegou a hora daquele anúncio que a gente adora: a cor do ano! Na semana passada, a Pantone anunciou a cor do ano de 2016. E a maior novidade veio no fato de que dessa vez são duas cores, um fato inédito. As escolhidas são o Rose Quartz, ou quartzo-rosa, e o Serenity, um azul calmante e suave. A duplinha já está dando o que falar, e várias marcas, é claro, já estão lançando seus produtinhos inspirados nas cores para lucrar.


Mas por que duas cores e logo essas, depois de um ano dominado pelo Marsala, um vinho terroso e intenso? Bom, o vídeo acima já explica muito. Têm sido tempos caóticos, e a Pantone, como todos nós, está em busca de mais paz. Segundo a empresa, os consumidores estão em busca de bem-estar e calma para lidar com o stress do mundo moderno, e essas duas cores juntas trazem um balanço entre o calor do rosa e a tranquilidade gelada do azul. O efeito desejado é suavidade, ordem e paz. Além disso, a recente dissolução de alguns rótulos relativos aos gêneros na moda também influenciou a escolha de tons que, juntos, remetem à igualdade e fluidez para uma geração menos preocupada com rótulos ou julgamentos.



Marcas como a própria Pantone, com seus objetos para a casa como canecas e bloquinhos e caderninhos mil, e a Sephora, com uma linha de make, já estão lucrando com as cores. Grifes que desfilaram ao longo do ano com tons pasteis e iluminados também acertaram e devem lucrar. E a onda de cabelos em tons pasteis e até barbas hipsters decoradas com glitter rosa já estavam cantando essa bola.

Eu achei esse sopro de algodão doce muito bem vindo nos tempos em que vivemos hoje, e vocês?



4 de dez. de 2015

Papos de sexta: NaNo Novo



Novembro passou, e com ele mais um National Novel Writing Month ou NaNoWriMo. Faz 5 anos que eu participo do desafio e já escrevi sobre ele aqui no blog mas nunca chego perto das 50 mil palavras em um mês.

O meu histórico é (des)motivação suficiente para deixar o Nano de lado. No ano passado, por exemplo, escrevi em apenas um dos trinta dias! E ando tão atarefada (razão da minha ausência do blog no mês de outubro e novembro) que pensei em não participar da edição de 2015. Mas comecei a ler os Pep Talks — aqueles textos de incentivo aos escritores e aspirantes — dos outros anos, e foi o empurrão que eu precisava!

Com exceção dos posts (aqui e no meu blog) e dos pareceres literários, eu quase não escrevi durante o ano, e estava me fazendo falta. Sou uma apaixonada pelas palavras, mas também procrastinadora de carteirinha e estou tentando dar um basta no hábito de adiar projetos, seja para a próxima segunda-feira ou para o ano seguinte. Então, selecionei uma das tantas histórias que comecei e abandonei nos últimos anos (outro problema crônico) e me inscrevi no Nano 2015, ciente de que não cumpriria a meta de novo e dando a mínima para isso! rs

Desta vez, me comprometi a escrever 500 palavras por dia todos os dias. Foi minha promessa de Nano Novo, que pretendo manter daqui pra frente. A maior dificuldade foi me ater à ideia inicial, pois novas ideias pipocavam o tempo todo (eu disse que era um problema crônico), mas recorri aos Pep Talks e encontrei algumas dicas bem interessantes.

Eu não teria passado das 15 mil palavras, algo inédito para mim, se não fossem esses pequenos incentivos, então selecionei alguns trechos favoritos — se foi útil para mim, pode ser útil para mais alguém :)

"A maioria dos escritores está muito ocupada para escrever. Alguns têm inclusive outro emprego integral que nada tem a ver com a escrita, mas ainda assim eles escrevem. Em vez de arranjar tempo para escrever, faça o tempo acontecer.” — Kami Garcia

o existem bons romances e romances ruins. Existem romances finalizados e romances que ainda precisam de mais trabalho. Lembre-se, você não está escrevendo um bom romance agora, você está escrevendo um bom rascunho. Mais tarde, você vai ter tempo para alterar o início, mudar o final ou o meio. Mais tarde, você vai ter tempo para cortar, polir e melhorar. Por agora, confie no processo e escreva.” — Holly Black

A técnica mais importante para progredir é escrever dez palavras. Não importa se você está empacado, se seu dia está completamente abarrotado, ou se você está longe de seu computador — carregue uma caderneta e escreva uma frase enquanto estiver esperando na fila do café. Pense nisso como um gancho ou isca. Mesmo que, por dias seguidos, você não consiga pensar em nada além das dez palavras, enquanto você tiver que pensar na história o suficiente para escrever dez palavras, as chances são de que mais palavras virão.” — Naomi Novak

“Terminar algo é se decepcionar. Por definição, romances abandonados são mais promissores do que os concluídos. Nesse ponto, você provavelmente já percebeu que é quase impossível escrever um bom romance em um mês. Eu estou nessa há algum tempo e ainda não escrevi um livro em menos de três anos. Todos nós abrigamos esperanças secretas de que um romance magnífico cairá do céu, mas quase universalmente, o processo de escrever é lento, difícil e totalmente sem glamour. Então, por que terminar o que você começou? Porque quando estiver pronto, você será grato pela experiência.” — John Green
  
Estou convencida de que há dois tipos de bloqueio criativo. O primeiro tipo é provavelmente o mais comum. É o bloqueio da procrastinação, do tédio ou apenas preguiça. É o bloqueio da natureza humana, em outras palavras. Você sabe o que precisa fazer. Você só não quer realmente fazer isso. Então, como combater o tipo 1? Escrevendo! É por isso que as metas (como a do NaNoWriMo) funcionam.

O segundo tipo de bloqueio, por outro lado, é um problema muito maior e mais assustador. Ele acontece quando você honestamente não sabe o que fazer. Tudo soa banal. O enredo é chato. O livro está... empacado. Para o tipo 2, eu recomendo fazer o oposto do tipo 1. Isto é, fique longe do computador. Vai correr. Tire um cochilo. Assista a um filme. Se afaste do seu livro e de seus personagens, e deixe o subconsciente tomar conta.

O tipo 1 deve ser enfrentado, o tipo 2 deve ser contornado. E seu trabalho como escritor é reconhecer cada um deles quando acontecerem. Porque eles vão acontecer se você se tornar um escritor. Eles vão acontecer muito.” — Ally Carter

Escrever é como construir uma parede. É uma busca contínua pela palavra que vai caber no texto, em sua mente, na página. Trama e personagem e metáfora e estilo, todos tornam-se secundários às palavras. O construtor ergue sua parede um tijolo de cada vez. Se ele não construir, o muro não vai existir. Ele olha para sua pilha de tijolos, pega aquele que parece atender melhor ao seu propósito, e o coloca no lugar. A busca pela palavra não fica mais fácil, mas ninguém vai escrever sua história por você.” — Neil Gaiman

"É assim que começa. Logo você está fazendo esboços dos personagens. Em seguida, alguns diálogos. Depois cenas inteiras. E então já era. Você desistiu inteiramente do projeto em andamento e começou a trabalhar integralmente nessa nova história. O problema em fazer isso é que, naturalmente, a nova história sempre parece melhor do que aquela em que você tem trabalhado por mais tempo. A nova história tem uma aura de frescor. Mas quanto tempo até que outra ideia venha, abanando seus personagens atraentes para você, e você decida abandonar tudo por ela? Quantas palavras você terá então? Não o suficiente para um livro inteiro. E o lance é: se você continuar fazendo isso, nunca terá o suficiente.” — Meg Cabot

Acontece com cada cada escritor que eu conheço. O conjunto original de ideias quase nunca sustenta o processo de escrita até o fim. Geralmente, essas ideias acabam por ser muito simples. Então o que fazer para continuar?

O primeiro passo é perceber que não é apenas um problema dos escritores. É um fato engraçado sobre os seres humanos: nós sempre pensamos de maneira muito simples. O universo é sempre maior, mais confuso e mais complicado do que esperamos que seja. O mundo real é cheio de detalhes complexos, e sempre que você pensa ter a manha sobre algo, ele fica ainda mais complexo. Às vezes, chegar ao final de um romance exige lembrar simplesmente que o mundo é mais complicado do que pensamos, e depois enfiar algumas dessas complicações na história.” — Scott Westerfeld

As pessoas frequentemente me pedem dicas para escritores, e eu digo a mesma coisa todas as vezes: a única maneira de se tornar um escritor é escrevendo. Igualmente importante à prática da escrita é a habilidade de desativar as vozes que lhe dizem que escrever é impraticável ou muito difícil ou fora do seu alcance de alguma forma. É tão importante escrever rascunhos rápidos, rascunhos ruins, rascunhos fracassados, quanto escrever os bem-sucedidos. O que você aprende é escrever sem medo. E vamos ser honestos, o medo é o que impede a maioria das pessoas de escrever, mesmo quando elas desejam desesperadamente.” — Lauren Oliver

Eu adoro receber conselhos de outros autores, essas pessoas que eu tanto admiro, e isso o NaNoWriMo tem de montão. Tem mais alguém sonhando em se tornar escritor por aqui? 

Compartilhem suas dicas e experiências comigo ;)

3 de dez. de 2015

Galera entre Letras: O que vem por aí… ou: O que esperar da literatura juvenil, YA e NA em 2016

Dezembro é mês de Natal, retrospectivas e expectativas, né? E como não poderia deixar de ser, vou falar das minhas expectativas para 2016 em relação à literatura juvenil, Young Adult e New Adult. E também falar um pouquinho dos livros que li e gostei.

Como em 2015, “diversidade” e “representatividade” são as palavras de ordem aqui. Mais personagens de gênero, cor, religião etc. diversos e mais autores de gênero, cor, religião etc. diversos também. E nisso a Galera Record sai na frente: não só tem livros com personagens gays, lésbicas, trans, pretos, brancos, orientais, vampiros, licantropes etc. como tem até um personagem como A, de Todo Dia, que pula de corpo em corpo todos os dias! E vocês já sabem que A volta por aqui, né? Mal posso esperar!

Mais que uma tendência, “diversidade” e “representatividade” são uma necessidade. Se a literatura reflete, de alguma forma, o mundo, então, tem que dar conta das nossas diferenças também. E não importa se a história é de fantasia ou se tem uma pegada mais “realista”; o importante é a gente poder se reconhecer e identificar com os personagens ou com as situações narradas.

E por isso é tão bom ter autores como Alex Gino, David Levithan e tantos outros por aqui, que contam histórias para todos… sem rótulos.

Além disso, eu espero ver mais autoras publicando histórias em todos os subgêneros, até em livros inspirados por jogos eletrônicos e jogos tipo D&D. Aliás, vocês sabiam que já na década de 1980, o RPG era superinclusivo? Olha que legal a propaganda deles com duas meninas jogando!


Um dos livros mais legais que eu li neste ano foi justamente um livro baseado em RPG, escrito pelo tradutor e autor-amigo-da-Galera André Gordirro. O livro tem ótimos personagens femininos, e o André já anunciou que os próximos volumes da trilogia vão trazer outros personagens femininos e mais guerreiras também. Pra quem não lembra, ele falou sobre o livro aqui na entrevista com autores da Bienal.

Outra tendência muito legal são os thrillers sci-fi jovem adulto ou novo adulto. O meu livro preferido em 2015 foi Brilhantes, do Marcus Sakey. Pra quem gosta de ficção científica e aventura, é um prato cheio. Brilhantes também tem personagens femininas muito bem elaboradas, sabe? E — que isso fique só entre nós — o segundo livro consegue ser melhor ainda! As protagonistas são bem diferentes entre si, e o Marcus deu bastante destaque às duas no segundo livro, aprofundando, inclusive, a relação delas com o protagonista. Sem mencionar que o livro trata de um tema que, infelizmente, continua a ser notícia: o terrorismo. O terceiro e último volume da trilogia sai em janeiro nos EUA.



Além disso, eu acho que a gente vai continuar lendo livros baseados em contos de fadas e contos de fadas mais sombrios, não tão parecidos com os contos clássicos da Disney. Aliás, em sua origem, os contos de fadas não eram pra historinhas pra crianças. Ao contrário! Acho que essa volta às origens é bem interessante, sobretudo, para o público juvenil e YA conhecer os contos como eles realmente foram escritos, mas eu também gosto muito das adaptações. Queria muito ver meus contos favoritos — A Bela e a Fera, e O Barba Azul — ganhando uma nova roupagem, sobretudo, porque são contos que também discutem a questão dos gêneros, o preconceito e a violência contra a mulher.

Essas são as minhas apostas e as minhas expectativas pra 2016. Quais são as de vocês?

Boas leituras e até a próxima!

27 de nov. de 2015

Papos de Sexta: Paris e o amor


Eu sempre sonhei conhecer Paris. Aquela torre famosa, o arco gigante, as pessoas falando a língua que acho a mais linda do mundo, todas as recordações das centenas de filmes franceses que assisti, todos os lugares das dezenas de livros com a cidade como cenário... Incrivelmente realizei esse meu imenso sonho esse mês. Casei e, como presente de casamento, tive a felicidade de conhecer o lugar que tanto queria ao lado do meu marido.

Passei 4 dias incríveis na cidade e não vi a grosseria que algumas pessoas relataram viver quando pisaram lá não falando o francês. Andei o dia todo pelas ruas de meus sonhos e tirei menos fotos que meu normal porque queria sentir a cidade, queria que aquele ar da Cidade Luz me tomasse. Queria sentar no banco em frente ao rio Sena, queria encostar na ponte de cadeados, ver o dia escurecendo e o letreiro do Moulin Rouge acendendo, eu não queria dormir porque para mim, repito, eu estava sonhando.

Claro que queria mais dias, gostaria de ter passado alguns meses, mas, no pouco tempo que ali fiquei, reparei em tudo: na cordialidade dos franceses, na elegância das pessoas e até nos defeitos (odeio cigarro e eles fumam muito!). Amo meu Rio, mas Paris é incrível também.

Saí de lá para Madri — nossa próxima parada da lua de mel — no dia 13 de novembro. Passei a manhã na cidade que a poucas horas sofreria um terrível atentado, e me despedi de Paris obviamente sem imaginar a tristeza que a cidade, que nos acolheu tão bem, passaria.

No hotel, já na Espanha, me deparei com amigos e familiares preocupados conosco, pois as TVs mostravam o que tinha acontecido naquela noite: enquanto eu curtia e celebrava o casamento, mais de 100 pessoas morriam na cidade que havia acabado de me conquistar ainda mais.

Nós, que já vivemos em um país onde o medo mora em todos os lugares, sabemos o que é sair de casa e não saber se iremos voltar, temos total noção do quão perigoso é estar nas mãos de bandidos e sermos prisioneiros em nossos lares. Mas Paris não, ela não estava acostumada com isso; nos 4 dias que estive por lá, vi pessoas atendendo celulares em todos os lugares, abrindo laptops no meio da calçada, contando dinheiro no meio da rua... Quanto tempo tem que não vejo isso na minha cidade? E, quando alguém arrisca algo assim, vem a expressão de reprovação e em seguida a frase: “Só pode ser gringo para se arriscar assim...”.

Eu não sei onde o mundo foi parar. Só sei, por experiência própria, que viver com medo é horrível e não desejo isso para Paris, nem para qualquer outra cidade do mundo.

Me espantei com tanta coisa depois desse acontecimento: me assustei com as pessoas nas redes sociais culpando os árabes imigrantes, logo aqui, em um país onde a grande maioria é descendente de imigrantes. Eu mesma não existiria se meu avô não tivesse sido acolhido aqui após a Segunda Guerra Mundial, então, como posso ter preconceito com outros povos? Me surpreendeu ver que algumas pessoas não gostaram de ver o mundo se compadecendo de Paris, porque, afinal, tem tanta desgraça no mundo e a gente não liga. Sério que a gente não liga? Quantas vezes falei sobre a Nigéria (e sobre suas mulheres sequestradas e estupradas) e meia dúzia de curtidas apareceu? Há quem ligue, mas também há quem não leia. Então, desculpe, a culpa não é de quem sofre com o próximo, mesmo ele estando distante. E se importar com Paris não me faz menos brasileira e compadecida com a tragédia em Mariana, mas entendo que locais turísticos retratados no mundo todo — e inclusive nos livros e filmes que amamos — talvez causem mais impacto.

Ninguém é menos importante, mas todos podem ajudar. Outro dia ouvi uma pessoa que admiro muito dizendo que a paz começa no condomínio em que vivemos, quando optamos por não brigar com nosso vizinho, e é verdade. Não podemos mudar o mundo todo, mas, se cada um mudasse a si mesmo, tendo atitudes positivas e mais humanas, o mundo poderia se contagiar com esse amor todo e parar de jorrar tanto ódio.


Paris sempre ficará no meu coração, assim como muitas cidades que visitei e amo de paixão. E isso não me faz menos brasileira. Isso só me faz humana. 

23 de nov. de 2015

Tons da Galera: Presentinhos de Natal

Essa semana o site Distractify fez um post muito legal com os 21 itens que qualquer amante dos livros amaria ter; como achei a cara do blog da Galera, resolvi compartilhar meus preferidos com vocês por aqui.



Da pashmina com mapa de Harry Potter, à legging de Emily Dickinson ao vestido to-di-nho Hamlet, a ideia é expressar seu amor pelos livros dos pés à cabeça! Pra quem é mais básica, vale a t-shirt de O grande Gatsby ou o colar de Apanhador no campo de centeio, no quesito fofura ganha o suéter “The winter is coming” e o prêmio mais artsy vai para a sapatilha Sylvia Plath.



Já para as fãs de mimos e delicadezas, não tem como não se apaixonar pelo bracelete de Drácula (“manchado” de sangue, claro), o de prata com verso de Sonho de uma noite de verão na parte interna, ou pela pulseira de penduricalhos de Os guardiões da galáxia. A melhor parte? Os objetos desejo são vendidos pelo site Etsy, ou seja, produção limitada de produtores pequenos bacanas e a maioria pode ser enviada para o Brasil. Aproveita que o Natal está logo ali, just sayin’...



E você? Andou vendo por aí alguma roupa ou acessório que poderia entrar nessa lista? Compartilha com a gente aqui nos comentários!

20 de nov. de 2015

Papos de Sexta: Empatia



Tinha planejado outra pauta para o “Papo de Sexta” desse mês, mas o que tenho visto nas redes sociais me fez mudar de ideia. Infelizmente, essa coluna será um pouco mais séria, mas acho que o momento pede essa pausa nos emoticons de sorrisos.

Segundo a definição do Dicionário Michaelis, empatia é “Na psicanálise, estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta está sentindo”. Sentimos isso diariamente quando lemos certo? Acho que a empatia é o que nos cria o vínculo de identificação com personagens. Quem passou por bullying, entende o que Audrey narra em “À procura de Audrey”. Quem é autêntica e sofre um pouco com isso entende o que Sofia passa em “Perdida”. Quem já teve que assumir grandes responsabilidades mais cedo do que deveria, entende o que Will passa em “Métrica”. E esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos que poderia citar falando superficialmente sobre o tema. 

Mas, quando tiramos a literatura da equação e voltamos nossa atenção para o mundo fora das páginas, o cenário muda. Infelizmente.

Desastres, tragédias, violência... Nosso mundo, nossa história é repleta disso. O problema é que parece que já nos acostumamos com isso. É considerado “normal” pessoas que moram em áreas de risco serem alvejadas por balas perdidas. É considerado “normal” pessoas no Oriente Médio viverem com medo por causa de homens-bomba. Mas deveria? Deveria ser normal não sentirmos empatia por seres humanos que não deveriam estar nessas condições, mas que sobrevivem a elas por não terem outra opção?

Aí um mar de lama arrasta o que vê pela frente em uma cidade no Brasil. Mar de lama esse que foi criado pelas mãos do homem, pela mineração, e que agora não arrasta dinheiro, mas vidas.

Aí extremistas distorcem uma fé e matam pessoas que nada tem a ver com a situação em uma das capitais mais famosas do mundo.

E no lugar de sentir empatia por ambos e fazer o possível para ajudar quem ficou por aqui, de entender o que causou ambas as tragédias, apontamos o dedo e julgamos quem sabe mais sobre o que aconteceu em Paris e menos sobre o que aconteceu em Mariana. Ou vice-versa.

O resultado é a criação de uma outra situação: a sinfonia de “mimimi” — ou melhor, de “MeMeMe” — nas redes sociais. Essas redes que deveriam conectar e compartilhar estão sendo usadas para julgar, ofender e propagar ódio. E esse ódio poderia ser evitado facilmente. Basta sentir empatia e ouvir o outro para entender e não apenas para responder.

Parece que as pessoas estão mais preocupadas em julgar a opinião alheia sobre um acontecimento e impor a sua, do que realmente se importar com o acontecimento em si. E isso é muito louco!

Longe de mim querer pregar alguma coisa, até porque tenho plena consciência de que faço menos do que deveria. Mas uma coisa eu aprendi: quando eu aponto um dedo, tenho os outros apontados pra mim.

A minha ideia com essa coluna foi pedir uma coisinha a todos que chegaram até aqui: empatia. Antes de bradar a própria opinião, se coloque no lugar do outro, entenda, reflita e aí sim forme a sua.

Hoje, com avanços tecnológicos que colocam incontáveis quantidades de informação na palma da nossa mão, nos dando a possibilidade de estar conectados com o mundo todo, todo tempo, fazemos o oposto. Ralhamos a torto e a direito sem fundamento e estamos cada vez mais desconectados com o que acontece ao nosso redor, do outro lado da nossa porta. O único brilho em nossos olhos vem das telas à nossa frente. 

Todos merecem o direito de se expressar e todos devem sim ter a própria opinião. Mas vamos tentar entender mais e odiar menos. Entender não é aceitar ou concordar. Entender é entender. E por mais que isso pareça simples, faz a maior diferença.



Chega de mascarar o preconceito e o julgamento com “ah, mas essa é minha opinião”. Opinião não é só gosto “prefiro o rosa ao roxo”. Opinião é utilizar argumentos e bom senso levando em consideração o outro e o contexto maior.

Então, antes de responder a pergunta do Facebook “No que você está pensando”, vamos realmente parar para pensar, refletir, antes de entrar no automático e somente repetir o “curte/comenta/compartilha”.

Mais empatia, por favor. Para todos nós e por todos nós!


19 de nov. de 2015

Galera entre letras: O Gato no Telhado e a Vaca no Brejo



Pois é. Eu falei pra vocês que esta semana o assunto ia ser o gato no telhado, mas pra fazer companhia ao bichano acabei chamando uma vaca!

Eu sei. A essa altura vocês devem achar que eu enlouqueci! Nada disso. O assunto é sério –- porque tradução SEMPRE é coisa séria, gente!

Eu acho que vocês nunca pararam pra pensar em quantas expressões no nosso idioma têm animais como seus protagonistas. Vejam só: deu zebra, cada macaco no seu galho, tirar o cavalo da chuva etc.
E cada expressão dessas tem um sentido bem definido. Quando dizemos, por exemplo, que “o gato subiu no telhado”, é pra avisar que vem notícia ruim pela frente ou mesmo que uma situação desagradável é inevitável, e se “a vaca foi pro brejo”, a coisa ficou feia mesmo e tempos difíceis vêm pela frente.

Mas nem sempre é fácil adaptar essas expressões para outros idiomas (e o inverso também é verdade). Imaginem, por exemplo, se a gente traduzir “a vaca foi pro brejo” literalmente — e um importante autor e tradutor brasileiro, Millôr Fernandes, fez isso por brincadeira; ficaria “the cow went to the swamp” e, para os falantes de língua inglesa, significaria apenas isso: uma vaca indo pro brejo — provavelmente, o animal ficaria atolado e precisaria de resgate. O sentido original da frase se perderia.

A melhor maneira de dizer que algo não está bem, que uma situação ruim é prevista, em inglês — e, ao mesmo tempo, manter ainda a referência a algum bichinho — é dizer que a situação “is going to the dogs”.

Se alguma coisa “vai ficar com os cachorros”, em inglês, já é considerada caso perdido. Aqui tem a explicação pra essa curiosa frase (que se originou na China antiga, vejam só!).

Outro dia eu me vi às voltas com a expressão “X has put Y out to pasture” num contexto mais ou menos negativo (alguém falava que não sabia se o produto Y tinha sido abandonado pela empresa X) e aí eu fiquei pensando como poderia passar essa ideia negativa contida na expressão que, literalmente, quer dizer: “X mandou Y pastar.”

E havia outro problema: em português, a gente usa a expressão “vai pastar!” quando chama outra pessoa de “burra” (justamente porque o que ruminantes fazem é pastar), portanto, a tradução literal estava fora de questão.

Eu tentei usar várias opções antes de “o gato subiu no telhado”, mas nenhuma se encaixou e a frase final ficou assim: “o gato de Y subiu no telhado de X”.

Nem sempre a gente encontra a maneira perfeita de transpor a ideia original para o nosso idioma, mas o importante é dar a chance ao leitor de tentar formar o sentido do que está escrito ali.

Por hoje é só. Leiam bastante e até!

Aviso importante: nenhum animal foi ferido durante a elaboração da coluna de hoje.

12 de nov. de 2015

Design et cetera: Outro dia, Trono de Vidro e o feminismo na literatura jovem


Nessas últimas semanas o feminismo ganhou destaque na mídia e nas redes sociais. Revoltadas com comentários pedófilos no Twitter  a respeito da participante do Masterchef, muitas mulheres corajosas começaram uma campanha online, compartilhando histórias de assédio. Além disso, teve o tema da redação do ENEM, focado na violência contra a mulher, que também gerou polêmica e trouxe o assunto à tona.

Enquanto isso, eu estava revisando o livro Outro dia, de David Levithan. O livro é voltado para o público jovem, e conta a história de amor entre Rhiannon e A, uma pessoa que troca de corpo todos os dias. A trama é narrada pela perspectiva da Rhiannon, que, aos 16 anos, encontra-se em uma relação abusiva com o namorado, Justin.

Justin está eternamente de mau humor e costuma ser verbalmente agressivo com ela. A garota anda pisando em ovos. Se isolou cada vez mais dos amigos. Se convenceu de que Justin, coitado, tem muitos problemas e é por isso que não consegue evitar ser agressivo com ela. Ele não é uma má pessoa, apenas alguém com dificuldade de controlar a raiva. E faz ela sofrer e pagar caro por estar ao seu lado.

Todos nós conhecemos um Justin. Algumas de nós já estivemos em relações assim. No entanto, um grande diferencial da narrativa de Outro dia é que nossa protagonista, ao conhecer A, percebe que ele é uma pessoa melhor, alguém que gosta dela de verdade e sabe trata-la bem.  Rhiannon escolhe A. Fim.

Parece tão simples, parece a escolha certa desde o princípio, e TODOS os livros para jovens deveriam passar essa mensagem. Entretanto, na qualidade de editora de YA, posso dizer que a grande maioria dos livros apresenta uma mensagem oposta:

1. Protagonista conhece Fulano

2. Fulano é um babaca e maltrata protagonista

3. Descobrimos que fulano é babaca por um “bom” motivo

4. O amor muda Fulano e ele vira um Príncipe

5. Protagonista e Fulano são felizes para sempre

Não estou exagerando. Pense na Bela e a Fera. 50 tons de Cinza. Crepúsculo. São muitas as histórias que perpetuam essa visão perversa sobre o amor e as relações. E nós, editores, temos que nos responsabilizar pelo que publicamos, principalmente nos selos jovens. Depois a gente se pergunta por que muitas mulheres crescem acreditando que vão mudar seus parceiros. Depois muita gente julga que “só apanha quem quer” e que “mulher que não se valoriza é sujeita a esse tipo de coisa”.

Mas enquanto os homens crescem inspirados no heroísmo do Super Homem e do Homem Aranha, a gente aprende que o final de toda história é o casamento: Branca de Neve, Cinderela, Princesa Adormecida. Culturalmente, as mulheres são ensinadas a competir entre si. A Cinderela tem que vencer a madrasta e as filhas dela. A Branca de Neve precisa escapar da bruxa má. A Bela Adormecida, coitada, está lá paralisada por outra bruxa invejosa, esperando desencalhar. A passividade é ensinada desde cedo e o machismo está mesmo nas pequenas coisas. Nos filmes da Disney que habitam nossa infância, nos livros que lemos enquanto jovens.

Mas aos poucos as coisas estão mudando. E nosso papel é participar ativamente dessa mudança, escolhendo títulos, estimulando o diálogo. Em 2013 lançamos a série Trono de Vidro, da Sarah J. Maas. Um livro de fantasia épica com uma protagonista forte que tem roubado corações, tanto dentro quanto fora da editora.



Eu nunca li nada como Trono de vidro e nunca conheci um personagem como a Celaena. Ela é uma assassina, tem seu próprio código de ética. Ela luta de igual para igual com homens e mulheres. Ela é frágil, claro, como todos somos em algum momento. Mas  a saga de Celaena não acaba com ela se apaixonando pelo homem ideal.

Não. Celaena se apaixona diversas vezes, mas isso de nada tem a ver com sua luta. Celaena não precisa da proteção do homem amado, pelo contrário, ela é quem o protege com unhas e dentes e lâminas afiadas. Afinal, se envolver com uma assassina desse tipo é extremamente perigoso para qualquer homem.

Quando, no meio da trama, aparece uma bela princesa estrangeira no reino, Celaena não a vê como rival. As duas forjam uma amizade sincera e lutam juntas contra inimigos comuns.

Parece algo muito trivial, né? Mas a jornada épica de Celaena, que já virou best-seller em mais de 40 países,  quebra com a ideia da mulher frágil que compete com a outra pelo amor e a proteção de algum príncipe aleatório. E essa quebra é muito necessária.

Para erradicar a violência doméstica, o assédio sexual e o silêncio a cerca disso, precisamos de mais histórias assim e mais heroínas como Celaena e Rhiannon.  Mulheres que falem: eu não aceito isso, vou atrás da minha felicidade, vou lutar por quem me valorize. Alguém que sofre, mas sabe se reinventar, se proteger. Uma mulher com a qual todas podem se identificar.

Rhiannon mostra que ao desistir do “amor” destrutivo, é possível encontrar um abraço que não vire golpe. E Celaena sintetiza toda a coragem, força e magnetismo que antes só era protagonizado por heróis masculinos.

Deve ser por isso que minha melhor amiga vai vestida de Celaena esse Halloween. Deve ser por isso que todas, desde minha sobrinha de 15 anos até a Dona Maria, copeira aqui da Record, amam essa série e não falam de outra coisa. 

#somostodasCelaena