5 de out. de 2015

Design et cetera: BRANCO X AMARELO

Temos recebido MUITOS e-mails e comentários de leitores se queixando sobre alguns dos nossos livros serem impressos em papel branco. Muita gente associa o papel branco às edições econômicas e começam os comentários nas redes sociais:

“Por que estragaram o livro usando página branca?”

“Chama de edição de luxo, mas não tem página amarela!”

“Vamos assassinar vocês editores da Galera que imprimem em papel branco”

Depois de responder algumas ameaças de morte mensagens desse tipo, resolvemos esclarecer aqui a diferença entre papel branco e papel econômico. Ao contrário do que muita gente pensa, o papel branco não é mais barato do que o papel amarelo. O que determina o valor do papel não é a cor, é a gramatura, que significa gramas por metro quadrado e determina o peso do papel e sua capacidade de absorver a tinta.

*De 35g a 55g: são os papéis de menor gramatura, portanto, econômicos. São mais finos e sua aplicação mais comum é em jornais e edições de banca ou econômicas.

*De 75g de 115g: o papel que você utiliza na sua casa ou no escritório tem essa média de peso / gramatura. As edições comerciais também.

*150g – 300g: utilizado em capas de livros, são mais pesados, toleram mais tinta e acabamentos como hot stamping, relevo, brilho holográfico etc

Portanto, um livro com hot na capa, com pantone, relevo e impresso em papel branco de 75g NÃO é uma edição econômica.

Um livro de capa dura, impresso em tecido, com miolo ilustrado de duas cores impresso em papel branco também NÃO é uma edição econômica.

Outra coisa que muita gente alega é que o papel amarelo cansa menos a vista na hora de ler. Isso pode ser verdade em alguns casos, mas é preciso lembrar que a visibilidade está ligada a outras questões também, como a tipografia usada, o espaçamento entre letras, o espaçamento entre linhas e a diagramação em si.

Existem vários motivos que pautam a escolha do papel em uma edição, e nenhum deles é torturar o leitor. Geralmente, os livros que fazemos na editora costumam ter orelhas e papel amarelado, mas dependendo do projeto, o papel branco faz mais sentido.

Às vezes a capa tem tons mais frios e não combina com o papel amarelado. Às vezes a gráfica não tem o papel amarelo na gramatura necessária para a qualidade da impressão. E quando  o miolo é ilustrado, principalmente em duas cores, o branco funciona melhor pois não interfere na pigmentação da ilustração. Por exemplo, a edição gringa da série Garota Gotic:
Tem as páginas brancas em alta gramatura, é ilustrado e o canto das páginas é pintado de azul metálico. Ou seja, uma edição caríssima, de altíssimo luxo e papel branco!

 







Outro exemplo de edição americana em papel branco é a série Emily, a estranha. Os livros também são capa dura, o miolo é impresso em Pantone  e o papel é um couché branco, ou seja, brilhoso e de alta qualidade.






Outro exemplo é a edição da Intrínseca: 365 dias extraordinários, também ilustrado em duas cores e capa dura, também impresso em papel branco.






Ou seja, existem mil questões que influenciam a qualidade de uma edição, e a cor do papel não é uma delas. Como editores, nosso trabalho é sempre pensar em quais materiais se adequam melhor ao produto final e tomar a decisão de acordo.

E, no fim das contas, os livros são como as pessoas: a cor não determina o valor, né?

4 comentários:

Anônimo disse...

O papel branco influencia na leitura sim pois o branco reflete a luminosidade e cansa a vista mais rápido. Acho que essa questão de usar papel branco deveria ser abolida e sem essas desculpinhas de que "é melhor quando tem cor e blalabla". Se os leitores reclamam é pq tem motivo ué!

Diego Hatake disse...

No caso de livros, pra mim, determina. Papel branco me deixa praticamente cego depois de um tempo. Pólen soft for the win!

Lari disse...

Arrasaram! Papel branco NÃO É papel econômico, tem projeto gráfico que pede papel branco, gente...

Marie Coutto disse...

Olá! Gostei muito da explicação, eu mesma odeio as capas brancas, nunca as julgei como edições econômicas, mas sempre pensei que seriam mais baratas para a Editora sim (também nunca ameacei os editores de morte, mas expus minha chateação haha). Agora que já sei o real motivo da impressão de folha branca, gostaria de deixar uma dica (hehe). Em minha singela opinião os livros são feitos únicos e exclusivamente para os leitores, não é mesmo? Que tal se quando vocês decidirem que a folha branca fica mais bonita visualmente para edição, pedirem uma ajudinha para os leitores? Com tantas plataformas de comunicação que temos hoje não é tão difícil, não é? Além de que já vem acontecendo diversas manifestações dessas, como escolha de capa e/ou fonte. É claro que no caso dos livros com ilustrações não há o que discutir. Mas nos demais acredito que os leitores irão ficar muito mais felizes com uma edição "menos bonita" se eles tiverem a opção de escolha.
Obrigada pelo esclarecimento e até a próxima!