Este ano, para quem curte literatura, agosto não é “o mês do
desgosto”. O oitavo mês do ano chega com a Bienal e muitos lançamentos para
quem não consegue ficar longe das páginas. Eu, assim como você, estou nesse
grupo.
É engraçado pensar sobre o amor que tenho por livros. Não é
a questão de gostar de completar coleções, colecionar volumes raros, ter por
ter. O que me conquista é a história, os personagens, a maneira como tenho as
emoções sequestradas por alguém que não me conhece, mas que sabe exatamente
como me sinto (ou me senti).
E essa pessoa que escreve, esse ser oniciente, não tem
vergonha de expor meus medos, descrever meus desejos! O safado (ou safada)
simplesmente me coloca na vitrine, página após página! Mas aí, chego na Bienal,
no Clube do Livro Saraiva ou em qualquer evento literário e entendo que não foi
pessoal, que não aconteceu só comigo. Não, não sou a única que chora, que se
apaixona, que se identifica com personagens. Eles não pertencem somente a mim,
mas a muitos, a todos. E, ao mesmo tempo, são só meus. Faz sentido?
Semana passada, estava novamente em um avião a caminho de um
evento de trabalho. Estava sentada na poltrona do corredor e, na fileira da
frente, do outro lado, estava um menino que não tinha mais do que treze anos. O
pai do garoto sentava na minha frente e ambos falavam um idioma que não
consegui decifrar. Com olhos muito claros e os cabelos loiros, o pai parecia
sereno e o menino estava empolgado, jogando alguma coisa no iPad.
Não olhei outra vez para ele até estar no meio do voo.
Enquanto lia O falso
príncipe no meu Kindle, notei que o iPad estava desligado e que o menino
tinha um livro nas mãos e o estava devorando.
Na hora do serviço de bordo, baixei a mesa sem tirar os
olhos do Kindle. Dei uma olhada para o menino, e ele estava fazendo a mesma
coisa com seu livro, ao mesmo tempo. E seus olhos também encontraram os meus.
Aos poucos, nós dois sorrimos um para o outro. Foi um sorriso cúmplice,
daqueles que só são divididos por quem se conhece há muito tempo, por quem sabe
o que o outro está pensando. Eu nunca o havia visto nem ele a mim, mas, naquele
momento, éramos irmãos, irmãos de páginas.
Aterrissamos, deixamos o avião, e a vida seguiu. Tentei, mas
não consegui ver o nome do exemplar que ele lia, assim como ele não sabia o que
conquistara minha atenção. E tudo bem. Somos leitores e embora nunca tenhamos
nos visto antes ou nunca voltemos a nos encontrar, sabemos que não estamos
sozinhos, que aquele personagem move mais alguém além de nós, que as lágrimas
têm companhia ao serem derramadas ou contidas. Somos leitores porque não
conseguimos não ser. E agosto chegou e o único desgosto é não ler. Rimou!
Obs: Para quem
quer saber mais sobre O falso príncipe
e aproveitar para se apaixonar pelos Garotos
corvos, sábado, 9 de agosto, tem evento no Rio de Janeiro comigo e com a
Tita Mirra! Saraiva do Rio Sul, 16h. Esperamos vocês, leitores J
4 comentários:
Frini
Já senti a cumplicidade que vc cita em seu texto muitas vezes. Certa vez no metrô eu li a mesma biografia do Slash que outra pessoa, aí eu fiquei olhando como quem não queria nada e a pessoa viu, levantou o livro como quem brinda e eu fiz o mesmo com o meu. Coisas que só leitores entendem. Dia 09 por ser niver da minha sogra não estarei no seu evento com a fofa da Tita, mas vcs são lindas e vão arrasar como sempre. Sucesso no evento.
Beijos
Adorei esse Papos de Sexta. Me identifiquei bastante com o texto. É muito legal na minha opinião o envolvimento que tenho com os personagens dos livros que leio. Página à página eu sorrio com eles e sofro com eles. E fico torcendo por eles no final. É um dos prazeres que a leitura me traz. Não li desde sempre, mas fico contente de ter começado a ler à tempo de descobrir como é uma experiência gostosa! ☺
Essa cumplicidade entre leitores é muito bacana, mas eu tb me sinto assim qdo vejo alguém usando uma tshirt de algum anime q adoro, ou da minha banda favorita. É como se fôssemos amigos msm sem nos conhecer de fato. Enfim, só quem é fã entende essa cumplicidade :)
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