8 de ago. de 2014

Papos de sexta: Desgosto é não ler


Este ano, para quem curte literatura, agosto não é “o mês do desgosto”. O oitavo mês do ano chega com a Bienal e muitos lançamentos para quem não consegue ficar longe das páginas. Eu, assim como você, estou nesse grupo.

É engraçado pensar sobre o amor que tenho por livros. Não é a questão de gostar de completar coleções, colecionar volumes raros, ter por ter. O que me conquista é a história, os personagens, a maneira como tenho as emoções sequestradas por alguém que não me conhece, mas que sabe exatamente como me sinto (ou me senti).

E essa pessoa que escreve, esse ser oniciente, não tem vergonha de expor meus medos, descrever meus desejos! O safado (ou safada) simplesmente me coloca na vitrine, página após página! Mas aí, chego na Bienal, no Clube do Livro Saraiva ou em qualquer evento literário e entendo que não foi pessoal, que não aconteceu só comigo. Não, não sou a única que chora, que se apaixona, que se identifica com personagens. Eles não pertencem somente a mim, mas a muitos, a todos. E, ao mesmo tempo, são só meus. Faz sentido?

Semana passada, estava novamente em um avião a caminho de um evento de trabalho. Estava sentada na poltrona do corredor e, na fileira da frente, do outro lado, estava um menino que não tinha mais do que treze anos. O pai do garoto sentava na minha frente e ambos falavam um idioma que não consegui decifrar. Com olhos muito claros e os cabelos loiros, o pai parecia sereno e o menino estava empolgado, jogando alguma coisa no iPad.

Não olhei outra vez para ele até estar no meio do voo. Enquanto lia O falso príncipe no meu Kindle, notei que o iPad estava desligado e que o menino tinha um livro nas mãos e o estava devorando.

Na hora do serviço de bordo, baixei a mesa sem tirar os olhos do Kindle. Dei uma olhada para o menino, e ele estava fazendo a mesma coisa com seu livro, ao mesmo tempo. E seus olhos também encontraram os meus. Aos poucos, nós dois sorrimos um para o outro. Foi um sorriso cúmplice, daqueles que só são divididos por quem se conhece há muito tempo, por quem sabe o que o outro está pensando. Eu nunca o havia visto nem ele a mim, mas, naquele momento, éramos irmãos, irmãos de páginas.

Aterrissamos, deixamos o avião, e a vida seguiu. Tentei, mas não consegui ver o nome do exemplar que ele lia, assim como ele não sabia o que conquistara minha atenção. E tudo bem. Somos leitores e embora nunca tenhamos nos visto antes ou nunca voltemos a nos encontrar, sabemos que não estamos sozinhos, que aquele personagem move mais alguém além de nós, que as lágrimas têm companhia ao serem derramadas ou contidas. Somos leitores porque não conseguimos não ser. E agosto chegou e o único desgosto é não ler. Rimou!


Obs: Para quem quer saber mais sobre O falso príncipe e aproveitar para se apaixonar pelos Garotos corvos, sábado, 9 de agosto, tem evento no Rio de Janeiro comigo e com a Tita Mirra! Saraiva do Rio Sul, 16h. Esperamos vocês, leitores J

4 comentários:

Raffafust disse...

Frini

Já senti a cumplicidade que vc cita em seu texto muitas vezes. Certa vez no metrô eu li a mesma biografia do Slash que outra pessoa, aí eu fiquei olhando como quem não queria nada e a pessoa viu, levantou o livro como quem brinda e eu fiz o mesmo com o meu. Coisas que só leitores entendem. Dia 09 por ser niver da minha sogra não estarei no seu evento com a fofa da Tita, mas vcs são lindas e vão arrasar como sempre. Sucesso no evento.
Beijos

Lys Marie disse...

Adorei esse Papos de Sexta. Me identifiquei bastante com o texto. É muito legal na minha opinião o envolvimento que tenho com os personagens dos livros que leio. Página à página eu sorrio com eles e sofro com eles. E fico torcendo por eles no final. É um dos prazeres que a leitura me traz. Não li desde sempre, mas fico contente de ter começado a ler à tempo de descobrir como é uma experiência gostosa! ☺

Tita Mirra disse...

Essa cumplicidade entre leitores é muito bacana, mas eu tb me sinto assim qdo vejo alguém usando uma tshirt de algum anime q adoro, ou da minha banda favorita. É como se fôssemos amigos msm sem nos conhecer de fato. Enfim, só quem é fã entende essa cumplicidade :)

Blog do Paulo Henrique disse...

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