14 de mai. de 2014

Galera Pop: Godzilla

No novo Godzilla, o espectador paga um ingresso e leva praticamente três filmes para casa. Nas mesmas duas horas de duração, é possível assistir a um longa-metragem de Steven Spielberg, Christopher Nolan e, aqui e ali, de Godzilla. É o medo de Hollywood de apostar cem por cento no que é novo, especialmente quando há um investimento na casa dos 300 milhões de dólares (produção + marketing) para ser recuperado. Portanto, há que se seguir cartilhas consagradas, e o britânico estreante Gareth Edwards segue à risca o manual dos supercineastas de blockbusters.

Como manda o figurino de Christopher Nolan, qualquer conceito, por mais absurdo que seja, pode ganhar um verniz de realismo através de diálogos pseudocientíficos ditos por atores do quilate de um Morgan Freeman, Ken Watanabe, Michael Caine, Liam Neeson, Bryan Cranston. Não importa: com um Oscar ou Emmy (ou uma indicação), tudo fica mais crível. Portanto, antes que Godzilla solte seu primeiro rugido em cena, Gareth Edwards nos convence da existência de monstros atômicos e de uma grande conspiração militar para acobertá-los e destruí-los.

Partindo da cartilha de Steven Spielberg, não pode haver filme de monstro sem que haja um núcleo familiar ameaçado. De Tubarão a Guerra dos Mundos, passando por Parque dos Dinossauros (e até Contatos Imediatos do Terceiro Grau), há sempre uma figura paterna que parece ter saído de uma “marcha da família” para enfrentar um drama humano durante uma catástrofe de proporções inimagináveis. Aqui, enquanto Godzilla exerce seu hobby de replanejamento urbanístico, um pai (Aaron Johnson, o Kick-Ass) tenta encontrar o filho e a esposa em meio aos prédios que desabam.

E, ah, sim, temos um filme de Godzilla aqui, mas apenas nas brechas que o drama familiar e o thriller militar realista permitem. O diretor parece mesmo brincar literalmente com o conceito: na maioria das vezes, Godzilla é um vislumbre em fendas (por dentro de uma máscara de gás, na fresta de uma porta que se fecha, na brecha entre prédios). Para um monstro de mais de cem metros, ele é curiosamente elusivo e tímido. Como Gareth Edwards acompanha os acontecimentos pelo viés humano, é natural que sua câmera esteja posicionada quase sempre na altura dos olhos dos personagens, o que aumenta a sensação de gigantismo de Godzilla e da destruição ao redor. Esse sim, é um grande achado do longa-metragem, essa perspectiva Cloverfield, ainda que não seja documental, felizmente. São imagens impressionantes, mesmo que pouco se veja o monstro ali no meio das frestas. Felizmente, no clímax, a câmera se permite abordagens panorâmicas que, justiça seja feita, são das mais impressionantes no gênero. É raro hoje em dia, com tanto CGI preguiçoso ou mal utilizado, que a plateia suspenda a desconfiança de estar vendo um videogame. No quesito destruição e UFC monstruoso, Godzilla, quando o diretor deixa, hipnotiza e faz acreditar no inacreditável. Mesmo contado à forma americana, com doses de sacarose familiar e realismo fajuto, o filme honra a longa trajetória de sessenta anos do Rei dos Monstros japoneses. Gojira!


(Em tempo: não há quase nada da trama aqui, pois os trailers praticamente contam tudo o que acontece. Felizmente, ficaram surpresas de fora, que é melhor que continuem exatamente assim: sendo surpresas.)

O trailer e outras informações estão no site oficial.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse tal de Gordirro está ficando meio ranzinza quanto ao jeito estadunidense de fazer filmes. Eles fazem os filmes mais legais pô, isso é filme pra desligar o cerébro e não o contário. Não sendo chato como Transformers tá no lucro ;)

Obs.: Deu pra entender que gostou do filme só estava sendo critico como pede o trabalho; Seu chato! rs

Deia-neesan disse...

Meio que desanimei de ver o filme agora, estava com grandes expectativas, percebo que o enredo vai deixar a desejar, pelo menos sei que os efeitos vão valer a pena, mas esperava algo mais grandioso, estilo Pacific Rim, do que apenas "frestas" do Godzilla. Simplesmente amei a descrição do hobby do Godzilla como "replanejamento urbano". Amei a coluna, agora vou assistir com um pouco menos de expectativa para não me decepcionar.

Anônimo disse...

Deia, o Godzilla aparece bastante no final. Vai por mim, não irá se decepcionar com o monstro.