No novo Godzilla, o espectador paga um ingresso e leva praticamente três
filmes para casa. Nas mesmas duas horas de duração, é possível assistir a um
longa-metragem de Steven Spielberg, Christopher Nolan e, aqui e ali, de
Godzilla. É o medo de Hollywood de apostar cem por cento no que é novo,
especialmente quando há um investimento na casa dos 300 milhões de dólares
(produção + marketing) para ser recuperado. Portanto, há que se seguir
cartilhas consagradas, e o britânico estreante Gareth Edwards segue à risca o
manual dos supercineastas de blockbusters.
Como manda o figurino de
Christopher Nolan, qualquer conceito, por mais absurdo que seja, pode ganhar um
verniz de realismo através de diálogos pseudocientíficos ditos por atores do
quilate de um Morgan Freeman, Ken Watanabe, Michael Caine, Liam Neeson, Bryan
Cranston. Não importa: com um Oscar ou Emmy (ou uma indicação), tudo fica mais
crível. Portanto, antes que Godzilla solte seu primeiro rugido em cena, Gareth
Edwards nos convence da existência de monstros atômicos e de uma grande
conspiração militar para acobertá-los e destruí-los.
Partindo da cartilha de Steven
Spielberg, não pode haver filme de monstro sem que haja um núcleo familiar
ameaçado. De Tubarão a Guerra dos Mundos, passando por Parque
dos Dinossauros (e até Contatos Imediatos do Terceiro Grau), há
sempre uma figura paterna que parece ter saído de uma “marcha da família” para
enfrentar um drama humano durante uma catástrofe de proporções inimagináveis. Aqui,
enquanto Godzilla exerce seu hobby de replanejamento urbanístico, um pai (Aaron
Johnson, o Kick-Ass) tenta encontrar o filho e a esposa em meio aos prédios que
desabam.
E, ah, sim, temos um filme de
Godzilla aqui, mas apenas nas brechas que o drama familiar e o thriller militar
realista permitem. O diretor parece mesmo brincar literalmente com o conceito:
na maioria das vezes, Godzilla é um vislumbre em fendas (por dentro de uma
máscara de gás, na fresta de uma porta que se fecha, na brecha entre prédios).
Para um monstro de mais de cem metros, ele é curiosamente elusivo e tímido.
Como Gareth Edwards acompanha os acontecimentos pelo viés humano, é natural que
sua câmera esteja posicionada quase sempre na altura dos olhos dos personagens,
o que aumenta a sensação de gigantismo de Godzilla e da destruição ao redor.
Esse sim, é um grande achado do longa-metragem, essa perspectiva Cloverfield,
ainda que não seja documental, felizmente. São imagens impressionantes, mesmo
que pouco se veja o monstro ali no meio das frestas. Felizmente, no clímax, a
câmera se permite abordagens panorâmicas que, justiça seja feita, são das mais
impressionantes no gênero. É raro hoje em dia, com tanto CGI preguiçoso ou mal
utilizado, que a plateia suspenda a desconfiança de estar vendo um videogame.
No quesito destruição e UFC monstruoso, Godzilla, quando o diretor
deixa, hipnotiza e faz acreditar no inacreditável. Mesmo contado à forma
americana, com doses de sacarose familiar e realismo fajuto, o filme honra a
longa trajetória de sessenta anos do Rei dos Monstros japoneses. Gojira!
(Em tempo: não há quase nada da trama aqui, pois os trailers praticamente contam tudo o que acontece. Felizmente, ficaram surpresas de fora, que é melhor que continuem exatamente assim: sendo surpresas.)
O trailer e outras informações estão no site oficial.
3 comentários:
Esse tal de Gordirro está ficando meio ranzinza quanto ao jeito estadunidense de fazer filmes. Eles fazem os filmes mais legais pô, isso é filme pra desligar o cerébro e não o contário. Não sendo chato como Transformers tá no lucro ;)
Obs.: Deu pra entender que gostou do filme só estava sendo critico como pede o trabalho; Seu chato! rs
Meio que desanimei de ver o filme agora, estava com grandes expectativas, percebo que o enredo vai deixar a desejar, pelo menos sei que os efeitos vão valer a pena, mas esperava algo mais grandioso, estilo Pacific Rim, do que apenas "frestas" do Godzilla. Simplesmente amei a descrição do hobby do Godzilla como "replanejamento urbano". Amei a coluna, agora vou assistir com um pouco menos de expectativa para não me decepcionar.
Deia, o Godzilla aparece bastante no final. Vai por mim, não irá se decepcionar com o monstro.
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