Eu já disse e repito: todo mundo tem uma história pra
contar. Mas nem sempre é fácil saber exatamente o que se quer dizer. No segundo
artigo para autores iniciantes, vou falar um pouco sobre como encontrar a sua
história — e contá-la.
A primeira dica que dou é a seguinte: quando você decidir
escrever, escreva sobre coisas que já conhece ou com as quais tem afinidade.
Parece bobagem, mas, trabalhando com autores iniciantes, uma das coisas que
mais vejo é justamente o autor querer começar a escrever sobre aquilo que não
conhece. E, óbvio, com tantas facilidades, como a pesquisa na Internet, dá até pra
arriscar a escrever sobre temas que não são do nosso cotidiano — e eu não estou
dizendo que não se possa fazer isso —, mas uma história bem contada sempre tem
que parecer “verdadeira”, por mais fantástica que seja.
A história é como um mundo paralelo ao mundo real, e não é
raro o autor falar dos seus personagens como filhos ou irmãos. E, ao contrário
do que muita gente pensa, isso é essencial para a criação. Se o autor não
acredita em seus personagens nem gostaria de habitar o mundo criado, quem é que
vai acreditar (e quem nunca riu quando ouviu alguém falar de um personagem como
se ele fosse real?)???
Por isso é tão importante que a história não só aparente
veracidade, como seja coerente. E aí vai uma sugestão: tudo começa com um
esquema. Sério. Algo tão simples como isso aqui: História — “Plot” — “Subplots”.
A história é sempre uma sucessão de acontecimentos. Mas
alguns acontecimentos são mais importantes do que outros e, em geral, tem UM
ACONTECIMENTO que desencadeia todos os outros ou que encerra a cadeia dos
acontecimentos — é o seu “plot”.
Pode ser qualquer coisa: a queda de um avião lotado de
crianças numa ilha deserta, como em
O Senhor das Moscas, ou a chegada de um jovem e rico
cavalheiro a um condado inglês, como em Orgulho e Preconceito. A partir do
“plot”, vários “subplots” se desenrolam, envolvendo personagens secundários
(quem leu Orgulho e Preconceito, sabe da importância que o comportamento da
irmã caçula da protagonista, Lydia Bennett, vai ter para a trama, por exemplo).
O importante é que o “plot” e os “subplots” sejam “tramas”
coerentes. Nada de sair tirando coelhos da cartola — e isso até tem nome: deus
ex machina (ou “deus surgido da máquina”), aqueles recursos que surgem do nada
para resolver uma situação. Embora o deus ex machina seja muito usado, pode ser
evitado em nome de uma trama “redondinha”. No fim das contas, fica até
parecendo preguiça do autor, né?
E essa veracidade também se aplica aos diálogos.
Dificilmente, num livro que se passa no Rio de Janeiro, a gente vai deixar de
ler coisas como “maneiro” ou mesmo “night” (traduzindo: a “balada” do resto do
país). E esse “clima” vai ser importante para o leitor entrar no texto (mesmo
que ele não esteja acostumado com os termos).
E pensar no leitor também é importante na hora de criar a
história. É como aquela anedota do náufrago que manda uma mensagem numa garrafa
através do oceano: ele não sabe quem vai ler a mensagem, nem de onde aquela
pessoa é, portanto, tem que dar todas as indicações e deixar tudo bem explicado
pra poder ser encontrado. O escritor é como o náufrago que quer ser salvo
(lido, nesse caso): se ele não for claro, quem é que vai entender?
E outra coisa que sempre preocupa os autores iniciantes: tem
tempo certo pra escrever um livro? A melhor resposta a essa pergunta é uma
historinha sobre dois famosos compositores: Leonard Cohen e Bob Dylan.
Pra quem não sabe, Cohen é o autor da música Hallelujah, que
ficou bem famosa depois de ser tocada em Shrek. Bob Dylan
também é um compositor bastante conhecido e, numa conversa, Cohen perguntou
quanto tempo ele tinha levado pra compor a letra de uma de suas músicas mais
famosas. Dylan respondeu: “dez minutos, e você? Quanto tempo levou pra compor Hallelujah?”
Leonard, meio sem graça, respondeu: “sete anos.”
A verdade é que não tem tempo certo pra escrever um livro. O
mais importante é não desistir, escrever todos os dias (mesmo que sejam algumas
poucas palavras). E anotar todas as boas ideias que vocês tiverem! J
Na próxima coluna, vou falar um pouco das pessoas envolvidas
na transformação de um manuscrito em livro. Vocês sabem o que é leitura crítica?
Preparação de originais? Para que serve um agente? O que é um editor de
aquisições? Se não sabem, na próxima coluna vou explicar tudo isso!
3 comentários:
Muito legal! Vou esperar pela próxima matéria.
Adorei!! Estou ansiosa pela próxima!
Muito legall
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