“Objetos refletidos no
espelho estão mais próximos do que aparentam”. Essa frase – às vezes em inglês
– aparece estampada no espelho retrovisor de carros, mas sempre soou mais
profunda do que isso pra mim. Faz mais de um ano que eu estou pensando em
abordá-la por aqui, mas não me sentia pronta para fazer isso. Até agora.
Usamos espelhos para
ver se não estamos saindo na rua com a maquiagem borrada, ou com aquela espinha
alienígena na curvinha do nariz, ou com roupa que marca o que deveria esconder,
ou... mas será que é só o espelho que mostra para nós o que somos? E será que
somos resumidos a somente o que ele mostra?
“Espelho, espelho meu.
Existe alguém mais bela do que eu?”, perguntava a Rainha Má para o espelho no
conto de fadas. Quando cresci é que entendi o simbolismo dela questionar o
espelho. Minha mãe sempre me disse para não perder muito tempo olhando para o
espelho, quando o que está além dele é muito mais importante. Aí vi Harry
Potter e pensei “Meu Deus! Minha mãe é o Dumbledore!”(Potterheads entenderão!).
Já a minha avó tinha a
mania de cobrir os espelhos quando alguém próximo falecia. Ela dizia que a alma
poderia ficar presa neles e não conseguir seguir seu caminho. Mas será que isso
só acontece quando a gente morre? Porque eu já vi muitas almas presas ao
próprio reflexo e a galera ainda esbanjava saúde!
Incrível como o
espelho pode aparentar ser um instrumento tão simples e esconder um significado
tão profundo.
Ao meu ver, hoje em
dia, o espelho não é somente o objeto preso na parede. Ele é o nosso perfil nas
redes sociais. E, assim como o objeto físico na parede, ele não é o reflexo
perfeito de quem somos.
Hoje em dia, a Rainha
Má perguntaria para o Espelho quem tem o perfil mais acessado no YouTube ou o
maior número de curtidas no Facebook. E, assim como no conto de fadas, ele
faria a intriga que a leva a cometer atos terríveis. O Espelho adora uma
intriga, minha gente!
Hoje em dia, queremos
personalizar nossos perfis nas redes sociais em busca de seguidores, de
admiradores. Postamos fotos dos pratos que comemos quando deveríamos estar
saboreando a refeição e aproveitando a companhia. Olhamos o mundo pela tela do
celular para compartilhar cada momento, pois, ao postar no snapchat, no
instagram, provamos que estivemos lá, que fizemos isso ou que compramos aquilo.
E juntando tudo é como se criássemos o reflexo de quem somos.
Mas não compartilhamos
nossos momentos de dúvida, de desespero, de fragilidade. Não. Só nos interessa
mostrar o palco e não os bastidores e é exatamente isso que quebra esse
reflexo. Não somos só o que o espelho mostra, nem o que os perfis nas redes
mostram. Isso é só uma casca.
Disse no início da
coluna que fazia tempo que estava me preparando para escrever esse post e agora
explico a razão. Fiz aniversário recentemente e recebi muitos parabéns e fiquei
muito feliz! Mas algumas mensagens vieram com “você tem muita sorte” e “quero
que a minha vida seja igual a sua”. E por mais que tivesse me sentido
extremamente lisonjeada pelo carinho demonstrado, me assustou o fato de pessoas
acharem que tenho a vida perfeita. Aí, quando falo no Clube do Livro Saraiva
que já tive surto de Burn Out por
causa de trabalho e que estou sempre me questionando, procurando ir além e a me
aprimorar, sou recebida com olhares arregalados e “nossa, nem parece”.
Sorte? Sorte sim para
quem está preparada e trabalhando quando ela chega, queridinha!!
Eu não sou apenas o
que está nas redes sociais. Eu não leio só o que posto no blog. Eu sou eu assim
como você é você. E isso tem facetas e nuances e níveis diferentes e agradeço
muito não poder ser definida por um perfil no Facebook!
Nos dias de hoje,
virou esporte olímpico julgar o outro e falar pelas costas sobre pessoas que
nem conhecemos. É como se, ao passar no perfil de alguém, já pudéssemos formar
opinião sobre seu caráter. Pelo amor de Deus! Sem nunca ter trocado uma
palavra? Como assim? Mas pior do que isso é que, ao postar algumas coisas, nós
acabamos incentivando isso! Ou vai dizer que você nunca postou uma foto
pensando “Toma! Agora diz que é melhor do que eu!”? Todo mundo já fez isso e
tudo bem. Mas continuar com isso é tomar veneno e esperar que o outro morra.
Frustra, envenena e machuca a gente!
Não deixar que a alma
seja aprisionada no espelho que é a rede social é uma luta constante e diária.
Mas é muito válida! Estamos juntos nessa, certo?
Espelho, espelho meu,
tem alguém mais... ah, quem liga! Vou comer sorvete! #PartiuSerFeliz
3 comentários:
Excelente o texto. É um dos motivos de eu ter passado a usar menos redes sociais, e optado por grupos fechados com os amigos mais próximos.
Porque na rede social todo mundo é perfeito, tem uma vida ótima, é engraçado, engajado em causas sociais, etc. Não vejo reflexões, questionamentos, debates. Rola uma preguiça.
Ótimo texto. Concordo plenamente.
Mais um texto perfeito, Frini! Perfeito e necessário :)
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