Nas últimas
colunas eu tenho falado um pouco da relação entre a literatura e as adaptações
cinematográficas e, inspirada pela entrevista do mês passado com o Kevin
Thompson (e por gostar muito do Guillermo del Toro, com quem o Kevin tem
colaborado bastante), hoje eu vou falar sobre uma adaptação cinematográfica
muito famosa, mas que (ainda) não foi realizada: a adaptação do livro Nas montanhas da loucura, de H. P.
Lovecraft.
Lovecraft é
bem conhecido por ser um dos pais da weird
fiction (um gênero literário que mistura histórias sobrenaturais e horror
psicológico, e que foi popularizado por revistas de baixo custo, sobretudo, nos
Estados Unidos) e por ter tido uma vida muito curiosa também. Ele conheceu
praticamente todas as pessoas interessantes no mundinho literário da época –
apesar de ser famoso por sua reclusão –, além de artistas como Harry Houdini, e
deixou uma correspondência bastante importante.
Alguns
filmes inspirados em sua obra foram feitos, mas já tem um tempo que todos falam
do projeto do Guillermo del Toro de adaptar o livro Nas montanhas da loucura. E quando eu digo que “já tem um tempo” me
refiro a “mais de 20 anos”!
E qual
seria a dificuldade de se adaptar um autor weird,
popular e em domínio público (ou seja, sua obra pode ser traduzida, adaptada
etc. sem que se paguem os direitos autorais – Lovecraft morreu há mais de 70
anos) para o cinema?
Nas montanhas da loucura é uma narrativa em primeira pessoa (isto é,
é contada a partir da perspectiva ou ponto de vista – o famoso POV – do
narrador) e conta o que aconteceu durante uma expedição à Antártica. Bom, já dá
pra imaginar pelo título que a viagem não foi exatamente um mar de rosas. E
envolveu uma civilização muito antiga, cachorros, murais hieroglíficos e muita
morte e loucura! Eu não vou recontar a história aqui, pois, além das traduções
disponíveis, é fácil encontrar o texto original (aqui tem a
versão eletrônica).
Além da
mudança de ponto de vista (o equivalente no cinema à narrativa em primeira
pessoa seria a câmera subjetiva, mas um filme comercial todo filmado desse POV
ficaria cansativo e, a meu ver, seria quase impossível) para a terceira pessoa,
o filme implicaria a criação de cenários muito elaborados (o que é facilitado
pelo uso de cenários em computação gráfica) e a criação de personagens muitas
vezes pouco desenvolvidos na história (Nas
montanhas da loucura remete não apenas a outras obras
de Lovecraft, como a obras de outros autores, sobretudo, Edgar Allan Poe). Bom,
mas isso também não seria um problema.
Então, qual
seria a verdadeira dificuldade? Além do final em nada parecido com o padrão
hollywoodiano (caso a adaptação seguisse a história original), Antártica,
deuses antigos, civilizações antigas e desconhecidas etc. já foram temas de
outros filmes, inclusive o recente Prometheus,
que vai ganhar uma sequência. Embora a história de Lovecraft seja original,
mais um filme sobre os mistérios de civilizações perdidas talvez fosse
considerado “mais do mesmo”.
Isso não
significa, porém, que seja impossível filmar o famoso livro, e outras
adaptações já foram feitas. Essa animação, por exemplo, é sensacional.
E só para
diversão, mas sem fugir muito do nosso assunto, Lovecraft também inspirou a música eletrônica do Adam Beyer e da Ida Engberg.
Boas
leituras e até!
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