18 de out. de 2013

Sem título

Todo dia me fez refletir sobre vários assuntos, a importância que damos aos rótulos é apenas um deles. Devo reconhecer que eles simplificam o nosso dia-a-dia, e não vejo problema quando aplicados aos produtos e serviços, mas e quando os rótulos são aplicados às pessoas?

David Levithan abre o livro com o seguinte trecho: “Acordo. Imediatamente preciso descobrir quem sou. Não se trata apenas do corpo […]. O corpo é a coisa mais fácil à qual se ajustar quando se está acostumado a acordar em um corpo novo todas as manhãs. É a vida, o contexto do corpo, que pode ser difícil de entender.”

E por aí vai. O autor discorre sobre a essência do indivíduo de maneira acessível, mas sem diminuir a complexidade, se é que faz algum sentido :) A premissa do livro é genial. O protagonista A é um ser dotado de uma habilidade inexplicável. Ele não tem gênero definido, crença, influências culturais e sociais, preconceitos, nada disso. A é uma consciência que habita um corpo diferente a cada dia, tem a possibilidade de ver o mundo sob prismas diferentes e de evoluir com essas experiências.

Em um determinado momento, A se apaixona por uma garota e as coisas complicam. Ele precisa ser amado pelo que é, com toda sua beleza e complexidade, e não pelo que aparenta ser. Ele deseja ser aceito sem as limitações impostas por rótulos e embalagens, mas para os outros, o seu exterior é tão importante quanto o interior. Para A, o interior é tudo.

Essa mudança de perspectiva deixa tudo mais simples: “Não somos o corpo e sim a consciência.” Eu poderia destacar o livro inteiro — são tantos quotes maravilhosos — mas vou transcrever apenas mais um, porque tem a ver com o tema: “Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo porque é tão complicado, quando é tão óbvio.”

Limitar talvez seja o X dessa questão. Colocar as pessoas em caixas e listar seus atributos. Mulher, caucasiana, loira, baixa, magra… Essas são características que me descrevem, mas nenhuma delas me define. Extrovertida, crítica, perfeccionista e teimosa, também não! Eu não quero caber nos adjetivos e por isso me incomodo quando tentam me catalogar.

O romance Todo dia não se limita a um gênero literário, por exemplo. Ele transcende os rótulos, assim como nós. Uma ideia grandiosa e por isso mesmo, indescritível. O tom usado por Levithan é perfeito, ele nos faz questionar tudo em que acreditamos mas sem pregar nada, as conclusões partem do próprio leitor.

Eu prefiro continuar sem título, e vocês?

6 comentários:

Unknown disse...

Adorei! Prefiro continuar assim sem título, apesar dos vários contextos que apresentam sobre mim; Prefiro também ser apenas eu mesma sem caber em diversos adjetivos, já que não me importo muito com isso. Tita você soube (como sempre)me dar água na mente pra ler esse livro.

Hsc_Aju disse...

Esse foi um livro que eu comprei por impulso a respeito da história, mal sabendo eu que seria um dos melhores livros que já li na minha vida. é um livro que trata das diferenças morais de forma tão simples e ao mesmo tempo com opiniões formadas que, em nenhum momento me choquei com nada n livro.

Uma compra que valeu por cada centavo!

P.S.: só depois que fui descobri que ele foi o autor que fez parceria com green (que adoro também!) em will will que ainda lerei!

Unknown disse...

Adoro o que você escreve, Tita. Não somente porque as ideias são claras e as palavras bem escolhidas, mas porque são portas abertas para discussões importantes, necessárias e relevantes. Adoro mesmo.

"Não entendo porque é tão complicado, quando é tão óbvio.”

Isso se aplica a TANTA coisa que é impossível listar!

"São características que me descrevem, mas nenhuma delas me define."

Me interessei pelo livro depois de ler sua coluna porque concordo com ele. Concordo com você. Acho excelente que você prefere ficar sem título, mas também acredito que uma das grandes frustrações no mundo - principalmente em época de redes sociais onde até a compra de um pão as pessoas acham que é relevante mencionar e compartilhar e curtir - é a intensa necessidade de ser definido. Não precisamos ser definidos, porque podemos ser infinitos. Quanto mais cedo abraçarmos esse conceito, mas fácil e gostosa se torna a vida.

Viu? Mais um debate aberto. :)

beijos!
Friin

Érika Ramos disse...

Adorei o texto, e já coloquei o livro na minha lista de desejados. Hoje em dia as pessoas querem rotular desde um produto de uma marca, até um ser humano. Os rótulos limitam muito e não dão e nunca darão conta da complexidade de uma pessoa, muito menos de qualificar o seu interior. Beijos

Unknown disse...

Adorei o seu post e confesso que fiquei morrendo de vontade de ler esse livro por cause dele.
Concordo com cada palavra sua. As pessoas se prendem no que somos por fora, no que eles veem em nós. Preferindo se deter a olhar a superficie, ao invés de mergulhar e se aprofundar no interior da pessoa. É, seu post foi excelente. :)

Tita Mirra disse...

Obrigada pelos comentários, pessoal! Esse livro realmente vale a pena, entrou para a lista de melhores do ano e da vida :) Bjs!