27 de jul. de 2012

Papos de Sexta: Ler hipnotiza, por Vivi Maurey

Quando eu era pequena achava que tudo que tinha a ver com hipnose vinha de um reloginho balançando de um lado para o outro. É provável que eu tenha visto isso em algum desenho animado e a imagem ficou. De qualquer forma, estava claro para mim que hipnotizar alguém era mexer com o estado de concentração da pessoa. Sim, sou super inteligente e já sabia o que significava a palavra hipnose e concentração aos cinco anos. ;)

Sempre fui apaixonada pelo assunto. Talvez não o suficiente, porque, afinal, decidi fazer jornalismo, mas o amor pela mente, pelos estados da consciência e pelos sonhos sempre existiu, rs. Freud, Einstein, Oscar Wilde e muitos outros, rs, acreditavam em hipnose, então eu também acredito. :P
Não é tão difícil comprovar a teoria e é por isso — além de homenagear o dia do escritor (25/07) — que resolvi escrever sobre isso na coluna de hoje. Da forma mais humilde e despretensiosa possível, é claro. Na verdade, o que vou dizer não é nenhum segredo. É até óbvio. Mas resolvi compartilhar mesmo assim.

Por definição, hipnose é indução do transe, um estado em que a mente fica relaxada, porém consciente. O sensor que é inibido pelo estado da consciência normal passa a compreender com mais afinco os detalhes ao redor. Em outras palavras, a pessoa que é hipnotizada fica mais sensível e repara em coisas que até então a mente não tinha oferecido a atenção devida.

Isso não te lembra de nada não?

Pensa comigo...

Quando abrimos um livro para ler, a gente entra na trama principal, entra na vida de cada personagem, mastiga cada palavra para entender o passado, o presente e o futuro da história. Para quem não sabe, a hipnose se baseia em etapas, o transe é induzido a partir do momento em que a pessoa relaxa: corpo e mente. Por que, às vezes, demoramos um pouco para entrar de cabeça na história? Quando a mente está em estado de alerta, excitada, a hipnose não funciona. Portanto, é aos poucos que a leitura vai penetrando o nosso subconsciente e fazendo com que o estado de vigília seja acionado.

Os hindus trabalhavam com hipnose para aprimorar técnicas de concentração. O que é justamente o que fazemos quando estamos lendo, nos concentrando em cada detalhe.
Quantas vezes alguém falou com você enquanto estava lendo e você levou aquele susto? Ou sequer desviou a atenção do livro? Quando isso acontece, não é apenas a concentração que fez com que você não ouvisse a voz da sua mãe, mas a hipnose. Quando os sentidos estão completamente absorvidos pelos detalhes. Na verdade, você escutou sua mãe falando ao fundo, mas a mente — por conta do estado de vigília — optou por não quebrar a concentração. É o transe.

O incrível de tudo isso é que a hipnose não inibe de jeito nenhum nossas percepções, vontades, sentimentos... Pelo contrário. Ela enaltece tudo isso e é por isso que sentimos tanto prazer em ler, ir ao cinema, escrever... São funções motoras que pedem um nível tão absurdo de concentração e foco que a hipnose toma conta. Basta você relaxar e deixar ela funcionar. A própria ciência já comprovou que existe um estado 'mental' que o aprendizado faz mais sucesso, o estado de vigília 'relaxado', que é mais ou menos o que eu tô falando.

Quando lemos uma cena de ação, não ficamos tão excitados como ficaríamos na 'vida real'? Uma cena de sexo pode nos deixar com tesão ou com vergonha, dependendo do seu embasamento, certo? Uma cena triste nos emociona e traz lágrimas aos olhos. O cérebro não deixa de receber um bombardeio de informações e estímulos. A diferença é que no estado de vigília a gente consegue canalizar e manter o foco.

A impressão que se tem ao ler um livro é que estamos vivendo cada cena dele, experimentando e respirando a vida dos personagens. Isso não é apenas uma sensação. A imaginação é também uma vivência. Um sonho vivido é tão real para a mente quanto uma cena do dia a dia. A gente continua aprendendo e ensinando com eles. A hipnose faz com que as sensações, por mais imaginárias que elas sejam, se tornem físicas e reais.

Faça esse teste. Leia com mais atenção do que você normalmente lê — mesmo que já seja uma leitora cuidadosa. Seja sensível. Mastigue cada palavra como se as tivesse lendo pela primeira vez. Repita as frases na mente e tente entender o significado por trás delas. Faça de conta que você é o professor das palavras e está ensinando tudo o que há para ensinar de cada uma delas a si mesmo. Faça disso um exercício e abra a mente para sugestões, teorias e motivos.
A história principal do livro é apenas um guia. O que a gente lê por trás da linha mestra é o que nos torna verdadeiros leitores. E ler desta forma é uma aventura e tanto!

E então? Preparados para serem hipnotizados?

6 comentários:

Math Tonionni disse...

Nossa que coisa mais que demais!!

Adorei seu post Vivi!!

Isso acontece direto comigo e eu tb já sabia o que era hipnose desde pequena!! Culpa do "Compre Baton, compre Baton... seu filho merece Baton!!" hahahahahha Era uma propaganda de um chocolate!! Lembra? rs

Mas eu nunca tinha pensado na hipnose enquanto lemos, mas é exatamente o que acontece!!

MInha mãe veio comentar algo comigo enquanto estava lendo ontem e eu respondi, claro! Mas hj rolou o maior estresse porque eu não me lembrava de ter conversado com ela!! hahahahahahha

Já mandei o link da sua coluna pra ela ler!! Assim ela entende melhor e talvez me perdoe!! rs

Adorei estas últimas frases: "A história principal do livro é apenas um guia. O que a gente lê por trás da linha mestra é o que nos torna verdadeiros leitores. E ler desta forma é uma aventura e tanto!"

Parabéns pela coluna!! Adorei! Vou divulgar!

Beijocas carinhosas, Mathilde

Aline T.K.M. disse...

Gostei muito do tema do post de hoje. Também sempre me interessei por assuntos da mente e achei bem interessante essa relação entre hipnose e leitura. Eu sou do tipo que se concentra profundamente na leitura, mas ainda assim mantenho uma "antena" captando tudo o que está ao meu redor, claro que não perfeitamente eficiente.
Ler além das palavras, entrar de cabeça na história e no significado mesmo do que está escrito, na sonoridade do texto... acho que isso tudo é um baita de um exercício para a mente!

bj
escrevendoloucamente.blogspot.com

Anônimo disse...

Leio na hora do almoço e, muitas vezes, me deixo levar tanto na história que, quando tenho que fechar o livro para voltar ao trabalho, sinto aquele baque de "nossa, meu mundo é outro", sabe?

Show a coluna! :)

bjs
Frini

Unknown disse...

Tenho 15 anos ainda, e até o ano passado eu não tinha essa paixão por livros, até porque eu nunca tinha pego num. Mas depois que li meu primeiro livro, não parei mais, e realmente efetuar uma leitura atenciosa e concentrada... faz de você um hipnotizado :3

Marina Menezes disse...

Ler é uma hipnose mesmo, nunca tinha pensado nisso, mas agora que você falou, tudo ficou claro. A imaginação também é uma vivencia... Isso me lembra um livro do Zafón, "as coisas mais rais só acontecem na nossa imaginação, a gente só se lembra do que nunca aconteceu". Adoro essa frase. Até porque um dia pensei que tinha falado algo quando na verdade eu li em um livro. Gostei do post ^^

Raffafust disse...

Oi Vivi

quando o livro é bom hipnotiza mesmo, já deixei passar muita estação do metrô que eu tinha que descer..kkkk

bjos