Semana
passada Jane Birkin, ícone francês do cinema, música e moda, pediu à grife Hermès
que retirasse seu sobrenome de um de seus produtos — se não o produto —
mais cobiçados, a clássica bolsa Birkin de pele de crocodilo. O motivo? Um
vídeo recém divulgado pela PETA expondo maus tratos aos animais criados para a
fabricação de pulseiras dos relógios da marca e da bolsa de no mínimo 16 mil
dólares (recentemente uma versão exclusiva foi vendida por U$220 mil!) numa
fazenda no Texas. A Hermès respondeu alegando também ter ficado chocada com o
vídeo e prometeu investigar.
A questão é
antiga e mais uma vez volta à tona nesses tempos em que tantos têm voz:
Precisamos mesmo, em pleno 2015, cobiçar uma só bolsa que custa a vida (sofrida
e dolorosa, diga-se de passagem) de 2 a 3 crocodilos? Ou peles caras quando não
precisamos delas para nos proteger do frio?
No final de
junho, Brigitte Bardot — outro ícone francês que compartilha até um ex-amante
com Jane —, e há anos na batalha pelos direitos dos animais, pediu numa carta
escrita à mão para a gata de Karl Lagerfeld, Choupette, que repensasse o uso de
peles em seu desfile para a Fendi. Lagerfeld, como sempre, polemizou ao
declarar que para ele pele é só mais um tecido assim como o veludo, e a ignorou.
Mas a declaração da porta voz da Fundação BB no dia do desfile em meio a
protestos fez muita gente pensar: “A pele não é um luxo, e sim uma indústria de
morte e sofrimento. Milhões de animais vivem enjaulados ou amontoados uns sobre
os outros, apenas para serem mortos ou eletrocutados. Estamos aqui hoje para
denunciar o horror desta indústria e a indecência de Karl Lagerfeld, que tanto admira
e ama sua gata Choupette, mas não se importa nem um pouco com os animais
sacrificados — e algumas vezes com suas peles arrancadas enquanto ainda vivos e
conscientes — para a mais fútil e vulgar das modas.”
A Jane, a
bolsa, a carta, o protesto.
Em tempos de
catástrofes climáticas e uma população mais consciente e informada, a verdade é
que dessa vez Karl Lagerfeld pode sim estar fora de moda. A criação de animais
destinados à indústria da carne e artigos de couro e pele consome mais de 70%
dos grãos de um planeta em que uma enorme parte da população passa fome, sem
contar a emissão de gases e desmatamento que isso também acarreta. E no mundo
da moda não é de hoje que se busca, ainda que timidamente, uma adaptação aos
novos tempos. Vide Stella McCartney, ativista e filha de dois vegetarianos
convictos, que não usa couro nem pele em suas — lindas, modernas, elogiadas e
atuais — coleções. Grandes redes de fast fashion como H&M já criaram suas
linha mais verdes, como a H&M Conscious. E recentemente a designer de
acessórios Carmen Hijosa desenvolveu o Piñatex, material semelhante ao couro só
que feito da casca e caule do abacaxi!
Stella em
um de seus desfiles, o tênis de “couro” de abacaxi, a fofa beauty box vegana.
A verdade é
que cada dia mais as pessoas procuram produtos com menos ingredientes
artificiais e com o selo cruelty-free (aqui no Brasil recentemente apareceu até
uma beauty box por assinatura só com esse tipo de produtos, a Veggie Box!), e tais produtos e artigos de vestuário hoje são
cada vez mais bem-feitos, duráveis e tão eficazes quanto os tradicionais
(Duvida? Veja essa seleção que o site Who What Wear fez com esse tipo de
produto aqui). A
esperança é que fique cada vez mais fácil escolher o que consumimos com base na
compaixão e sustentabilidade.
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