10 de ago. de 2015

Tons da galera: Moda consciente

Semana passada Jane Birkin, ícone francês do cinema, música e moda, pediu à grife Hermès que retirasse seu sobrenome de um de seus produtos — se não o produto — mais cobiçados, a clássica bolsa Birkin de pele de crocodilo. O motivo? Um vídeo recém divulgado pela PETA expondo maus tratos aos animais criados para a fabricação de pulseiras dos relógios da marca e da bolsa de no mínimo 16 mil dólares (recentemente uma versão exclusiva foi vendida por U$220 mil!) numa fazenda no Texas. A Hermès respondeu alegando também ter ficado chocada com o vídeo e prometeu investigar.

A questão é antiga e mais uma vez volta à tona nesses tempos em que tantos têm voz: Precisamos mesmo, em pleno 2015, cobiçar uma só bolsa que custa a vida (sofrida e dolorosa, diga-se de passagem) de 2 a 3 crocodilos? Ou peles caras quando não precisamos delas para nos proteger do frio?

No final de junho, Brigitte Bardot — outro ícone francês que compartilha até um ex-amante com Jane —, e há anos na batalha pelos direitos dos animais, pediu numa carta escrita à mão para a gata de Karl Lagerfeld, Choupette, que repensasse o uso de peles em seu desfile para a Fendi. Lagerfeld, como sempre, polemizou ao declarar que para ele pele é só mais um tecido assim como o veludo, e a ignorou. Mas a declaração da porta voz da Fundação BB no dia do desfile em meio a protestos fez muita gente pensar: “A pele não é um luxo, e sim uma indústria de morte e sofrimento. Milhões de animais vivem enjaulados ou amontoados uns sobre os outros, apenas para serem mortos ou eletrocutados. Estamos aqui hoje para denunciar o horror desta indústria e a indecência de Karl Lagerfeld, que tanto admira e ama sua gata Choupette, mas não se importa nem um pouco com os animais sacrificados — e algumas vezes com suas peles arrancadas enquanto ainda vivos e conscientes — para a mais fútil e vulgar das modas.”


A Jane, a bolsa, a carta, o protesto.

Em tempos de catástrofes climáticas e uma população mais consciente e informada, a verdade é que dessa vez Karl Lagerfeld pode sim estar fora de moda. A criação de animais destinados à indústria da carne e artigos de couro e pele consome mais de 70% dos grãos de um planeta em que uma enorme parte da população passa fome, sem contar a emissão de gases e desmatamento que isso também acarreta. E no mundo da moda não é de hoje que se busca, ainda que timidamente, uma adaptação aos novos tempos. Vide Stella McCartney, ativista e filha de dois vegetarianos convictos, que não usa couro nem pele em suas — lindas, modernas, elogiadas e atuais — coleções. Grandes redes de fast fashion como H&M já criaram suas linha mais verdes, como a H&M Conscious. E recentemente a designer de acessórios Carmen Hijosa desenvolveu o Piñatex, material semelhante ao couro só que feito da casca e caule do abacaxi!


Stella em um de seus desfiles, o tênis de “couro” de abacaxi, a fofa beauty box vegana.

A verdade é que cada dia mais as pessoas procuram produtos com menos ingredientes artificiais e com o selo cruelty-free (aqui no Brasil recentemente apareceu até uma beauty box por assinatura só com esse tipo de produtos, a Veggie Box!), e tais produtos e artigos de vestuário hoje são cada vez mais bem-feitos, duráveis e tão eficazes quanto os tradicionais (Duvida? Veja essa seleção que o site Who What Wear fez com esse tipo de produto aqui). A esperança é que fique cada vez mais fácil escolher o que consumimos com base na compaixão e sustentabilidade.



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