28 de ago. de 2015

Papos de sexta: À Procura de Sophie


Não, você não leu errado. O título da coluna é esse mesmo. E eu sei que o lançamento da Sophie Kinsella se chama, na verdade, À Procura de Audrey, mas, aproveitando a vinda da autora à Bienal do Livro do Rio, eu quis muito contar para vocês como ela faz parte da minha vida – e tenho certeza que da vida de muitos de vocês também.

Entre uma conexão e outra nos Estados Unidos, o tempo ruim me fez esperar no aeroporto por exatas oito horas. As lojas já fechavam, estava um frio danado e eu só conseguia pensar em como eu não deveria ter acabado com as minhas moedas de cents, achando que não precisaria mais delas. A bem da verdade, eu gastei demais... Sou a típica brasileira consumista. Me acabei nos outlets, tive que fechar as malas colocando todos os meus quilos em cima de cada uma delas, e me perguntei como deixam trazer apenas duas com tudo aquilo super em conta no shopping. Ah sim, como se não bastasse, eu ainda trazia comigo uma super mochila, uma malinha de rodas e uma bolsa de mão gigante rezando para que a companhia aérea não notasse que passava (e muito) do limite permitido por eles.

Fome, oito horas de espera, e eu não tinha mais dinheiro. Só tinha uma loja aberta, dessas que vendem biscoitos, guloseimas, livros e revistas. Entrei nela com o cartão de crédito em punho, pedindo a Deus para que ele passasse. Eu só precisava desse milagre uma única vez (ok, precisaria de outro mais lá a frente para pagar a fatura, mas isso seria outro dia!). Então, vi o livro ao lado do caixa, Confessions of a Shopaholic ou, como seria chamado mais tarde pela Editora Record, Os delírios de Consumo de Becky Bloom. Era um livro de bolso e daí pensei nas longas oito horas de espera, tinha compras no título... Era comigo mesmo.

Sentei para esperar, a chuva lá fora não dando trégua, abri meu livro e olhei para os lados. Gente, Becky era eu (acho que até hoje tenho um pouco dela)! Jornalista (X), gastadeira (X), escondia as faturas do namorado (X), todos os itens marcados com louvor. A personagem que fazia do passar o cartão de crédito sua terapia era exatamente eu. Ri muito vendo o quão ridícula eu parecia fingindo que não era o gerente do banco ligando (será mesmo que ele não podia esperar eu receber, faltavam só 20 dias!), ou dividindo o valor da compra em cartões (“Nesse você passa 10 reais; nesse aqui, mais 10 e os 20 restantes eu pago no dinheiro”). Não eram itens necessários, mas me faziam bem. Becky me fez olhar para as malas e ver o como eu estava sendo exagerada. A autora me ajudou a me enxergar com humor, mas com uma certa dose de “tudo que é demais não é sadio”. 

Depois de mais de oito livros da autora nesse tempo (que eu me lembre), li recentemente À Procura de Audrey e, no dia que ele chegou, também me vi na protagonista. Dessa vez, passados mais de dez anos da leitura de um livro para o outro, óbvio que não sou mais a mesma daquela viagem e do meu encontro com Becky, mas ela me brinda em 2015 com uma personagem de apenas 14 anos que tem muito de mim naquela idade e agora. Audrey é sensível, tem aquele ar triste, mas encantador, de alguém que esconde por trás de uma história de lágrimas uma vontade de querer dar a volta por cima que muitas vezes nem ela percebe. É ingênua quando se trata de alguns assuntos, mas nos toca tanto com seu relato que vamos vendo ao longo da narrativa que o final não poderia ser melhor do que foi: emocionante.

Bullying e depressão estão ali, em um livro que merece ser lido por todos. Kinsella mais uma vez me surpreende, porque toca em um tema delicado, mas o faz brilhantemente. Quem sabe o que é depressão e sofrer bullying, se identifica. Quem nunca passou por isso, se toca do quão real isso é.


Nessa Bienal, espero poder chegar pertinho dela, nem que seja por dois segundos e dizer “OBRIGADA”. Ela faz parte da minha vida. Rainha essa Kinsella S2!

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Raffa,
Adoro também a Sophie Kinsella e estou torcendo para conseguir chegar perto dela! Ainda não li o novo livro, mas os outros dela são ótimos e me vi também na pele da Beck, e fui lembrada por uma amiga que viu o filme e disse: Vi um filme em que a personagem era você rs.. Ela congelou o cartão já eu picotei todos rs. É incrível como ela consegue nos alertar, passar a mensagem que ser consumista daquele jeito não é legal e fazer isso com humor e não com censura ou sermão forte.
Te encontro na fila!
beijos