Hoje eu ainda vou falar sobre a relação entre gatos e autores.
E escolhi uma história muito curiosa pra contar pra vocês. A história é tão
curiosa que quase me levou a escrever um conto infantil meio macabro (rs). Eu
adoro contos góticos e achei que dava um bom texto!
Acho que vocês já sabem da minha paixão por Charles Dickens,
né? Volta e meia eu arrumo uma desculpa pra falar dele. Aqui e
aqui, por exemplo.
E hoje não vai ser diferente. Pois o gato e o autor em questão
são Bob e Dickens, respectivamente. Bob recebeu este nome por causa de um
personagem do conto mais famoso de seu dono, O Conto de Natal. Dickens sempre foi afeiçoado a animais e não são
poucas as menções a gatos e cães em sua obra.
Mas Bob, de acordo com Mamie, tal como a filha de Dickens
comenta em seu livro de memórias, era um gato especial. Surdo, era a companhia
preferida de Dickens em seus passeios ao jardim e se comportava como um
cãozinho pequeno, chamando constantemente a atenção do dono e pedindo seu
carinho.
Eu costumo imaginar os passeios de Bob com seu dono. Dickens,
muito curioso, enumerava cada planta que avistava em seu jardim, e Bob, embora surdo, acompanhava tudo com seus olhos
grandes e não perdia um único gesto do dono, que ora apontava para uma flor de
coloração exótica, ora apontava para uma erva-daninha. Quando Dickens arrancava
a erva-daninha, lá ia Bob cheirar a planta e esfregava a testa na mão do dono,
como se estivesse enciumado da atenção dedicada ao jardim. E quando Dickens
saía em suas famosas caminhadas noturnas, Bob o acompanhava em silêncio até a
porta e não arredava pé até que o dono retornasse.
Em suas caminhadas, Dickens costumava ver os tipos humanos que
o inspiravam em suas obras e não era raro que ele voltasse cansado e
entristecido. Às vezes, ainda se via em seu rosto o rastro de alguma lágrima
fugidia iluminado pela luz da lua. Mas ele sempre era recebido por Bob da mesma
maneira. Assim que abriam a porta, Bob ia até o dono e se esfregava em suas
pernas, como se dissesse a Dickens que sabia muito bem o que ele tinha visto lá
fora. E quando o autor se sentava para registrar algum fato ou anedota para a
próxima história, lá estava Bob a seu lado.
Mas, apesar das vidas extras, um dia Bob não saiu mais para
passear com seu dono pelo jardim. E Dickens, muito triste, resolveu eternizar
aquele amigo e companheiro de tantos anos. E essa é a parte “bizarra” da
história da amizade entre Bob e Dickens. Certo de que queria ter Bob a seu lado
pelo resto da vida, Dickens resolveu empalhar a pata do gato e transformá-la
num abridor de cartas, assim, seu amigo felino continuaria a lhe fazer
companhia.
Eu confesso que acho essa história emocionante não só pelo
amor de Dickens ao Bob, mas, sobretudo, porque é o retrato de uma época
extremamente curiosa em relação à ciência e aos inventos científicos e não por
acaso é considerada a época de ouro da taxidermia, isto é, da técnica de
empalhar animais!
Espero que vocês tenham gostado da curiosa história da amizade
de Bob e Dickens! Até a próxima!
No abridor de cartas tem a
seguinte inscrição: “C.D. [Charles Dickens] Em memória de Bob 1862."
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