Na coluna passada, eu falei um pouco sobre
“Frozen”, o filme da Disney que foi inspirado no conto “A Rainha da Neve”, de
Hans Christian Andersen, e prometi que hoje falaria mais da história que o
inspirou.
Quem já leu os contos de fada de Hans
Christian Andersen sabe muito bem que nem sempre eles têm finais felizes (ou,
como eu gosto de dizer, “abertamente felizes”) e “A Rainha da Neve” não é uma
exceção à regra.
O conto narra a história de dois amigos que
são criados juntos feito irmãos: Kay e Gerda. A estrutura do conto é complexa;
na verdade, são sete micro-histórias que narram os fatos que envolvem o rapto
de Kay pela Rainha da Neve. E, a exemplo do filme da Disney, não é uma história
apenas para crianças.
O fato de não ser uma história alegre (já
repararam que praticamente nenhum conto de fadas é pura e simplesmente alegre,
e que é cheio de metáforas que precisam, muitas vezes, ser explicadas aos
pequenos?!) reforça essa ideia, justamente porque a função original desses
contos (tanto os do Andersen quanto os dos Irmãos Grimm) é a de alertar e
ensinar sobre certos fatos da vida. Os contos de fadas seriam, entre outras
coisas, “lições” para que quem ouvisse soubesse, por exemplo, diferenciar o
certo do errado e não historinhas apenas para entreter.
Quem leu “A Pequena Sereia”, do próprio
Andersen, sabe muito bem que a história está longe de ter um “final feliz”, ao
contrário do filme da Disney que também foi inspirado nele. Pois é, não é a
primeira vez que a Disney adapta um conto do Andersen, embora com “Frozen” seja
a primeira vez, na minha opinião que o filme foge do padrão tradicional do
“felizes para sempre”. Ok, tudo termina bem no fim das contas, mas não temos um
príncipe salvando uma (futura) princesa das garras do Mal. Aliás, para começo
de conversa, das protagonistas de “Frozen”, é Anna a princesa que salva a
rainha Elsa!
Bom, como eu estava dizendo, o conto “A Rainha
da Neve” apresenta a história de Kay e Gerda. Kay é
levado para bem longe no trenó da Rainha da Neve (o menino é atingido por uma
lasca de um espelho que distorce a visão das pessoas e faz com que ele queira
se afastar de Gerda para passar mais tempo na rua, aprontando com os outros
meninos).
Se, de início, Gerda não tem esperança de
rever Kay, aconselhada pela luz do sol e por pardais falantes, a menina parte
atrás do melhor amigo. Nesse ponto, a jornada de Anna em busca da irmã Elsa e o
fato de que, no fundo do coração, ela nunca desiste de trazer a irmã de volta à
cidade lembra muito a jornada de Gerda na tentativa de salvar Kay. Gerda passa
por uma série de lugares e enfrenta o frio do Norte da Europa, sem nunca
desistir.
E o fato de mesmo na adversidade, a pequena
Gerda não se entregar lembra também a postura do próprio Hans Christian
Andersen que, apesar da infância muito pobre, teve a oportunidade de estudar e
se tornar um escritor famoso.
A temática do “amor acima
de tudo”, que é, de certa forma, o que faz Gerda insistir na sua busca pelo
amigo também inspirou belas ilustrações para o conto e algumas das minhas
favoritas foram feitas por Katherine Beverley e Elizabeth Ellender, nos anos de
1920.
Boas leituras e até a
próxima coluna!
Minibio:
Ana Resende trabalha como preparadora de originais
e tradutora, e é colaboradora da Galera Record, entre outras
editoras. Workaholic assumida, sua leitura favorita ainda são os
contos de fadas.
Facebook: hoelterlein
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