29 de ago. de 2012

GALERA POP – O LEGADO BOURNE

Diretor do excelente Contrato de Risco, Tony Gilroy realmente recebeu um grande legado ao assumir a direção de O Legado Bourne — legado que ele mesmo ajudou a construir, pois foi um dos principais roteiristas da trilogia estrelada por Matt Damon. Neste capítulo, que ocorre paralelamente aos eventos de O Ultimato Bourne, Gilroy ficou sozinho diante do próprio texto e cometeu aquele pecado capital de todo escritor: não soube editar/cortar seu texto. De todos os “Bourne”, este aqui é o menos enxuto e de maior duração; se tivesse passado o roteiro para outro dirigir, como fez com Doug Liman (A Identidade Bourne) e Paul Greengrass (A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne), com certeza este O Legado Bourne teria a urgência e o dinamismo dos anteriores.

Não que O Legado Bourne seja um filme verborrágico ou um drama de interiores; há apenas uma sensação de desconexão entre trama e ação. Gilroy parece mais à vontade nos diálogos, é notável o apreço pelo próprio texto, e certas cenas duram mais do que o recado que deviam passar. Os flertes com O Ultimato Bourne são discretos e interessantes — e um deles abre nitidamente as portas para um possível retorno de Matt Damon como Jason Bourne. Neste âmbito, Tony Gilroy mostra pleno domínio do universo que ajudou a criar (e que tem pouco a ver com o Jason Bourne de Robert Ludlum, criador do personagem). É um domínio que se vê na própria construção do personagem de Aaron Cross (Jeremy Renner, o Gavião Arqueiro de Os Vingadores), que tem um motivo concreto e diferente para se rebelar contra a CIA, sem ser um clone de Bourne.
Aaron Cross é integrante de outro programa da CIA para criar superassassinos nos moldes de Jason Bourne. Quando o escândalo provocado por Bourne na grande mídia obriga a agência a fechar esses programas, Cross escapa da queima de arquivo e fica sem acesso à medicação que sustenta seu condicionamento físico/mental (aparentemente, Jason Bourne não precisava das pílulas ou seu procedimento foi feito de outra forma). Ele então se alia à geneticista da CIA (Rachel Weisz, sem sotaque inglês), que Cross salvou da mesma queima de arquivo, para resolver sua dependência química. Enquanto Bourne queria descobrir seu passado e se vingar de quem o tornou uma máquina de matar, Cross só quer ter acesso à medicação ou vencer a necessidade das drogas que condicionam seu corpo e mente.
Por ser exatamente uma história paralela, O Legado Bourne fica à sombra da saga maior, mais importante. O filme lembra aquela historiazinha de poucas páginas que vinha como adendo à trama principal de um gibi. Com um texto mais enxuto, uma direção menos perdida, e uma relevância maior à saga “Bourne”, talvez o longa-metragem deixasse um legado maior, com perdão pela piada.

O trailer e outras informações estão no site oficial.

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André Gordirro, 39 anos, carioca, tricolor, escreve sobre cinema há 18 anos. Passou pelas redações da Revista MancheteVeja Rio, e foi colaborador da Revista SET por dez anos. Atualmente colabora com aRevista Preview e GQ Brasil. Leva a vida vendo filmes, viajando pelo mundo para entrevistar astros e diretores de cinema e, claro, traduzindo para a Galera Record. Nas horas vagas, consegue (tenta...) ler gibis daMarvel, jogar videogames e escrever o primeiro romance (que um dia sai!).

Um comentário:

Taty disse...

Eu gosto muito da saga Bourne a trama é muito boa e estou com muita vontade de assistir a esse filme, mas pela resenha não parece ser tão bom quanto os outros

bjos