22 de jan. de 2016

Papos de Sexta: Para sempre

A notícia veio sem rodeios: Alan Rickman morreu.


Sou fã dele há muitos e muitos anos e, pela nossa diferença de idade, sempre imaginei como reagiria quando a fatal notícia chegasse. Imaginei que fosse chorar e sentir meus joelhos tremerem e, em seguida, encontraria o chão em meio a lágrimas. Mas não foi isso que aconteceu.

Ao ouvir a notícia, fiz o que qualquer jornalista faria: chequei as fontes. Busquei mais veículos para verificar, afinal, nem tudo que está na internet é verdade. Mas essa infelizmente era. Era fato: a voz de Alan Rickman havia se silenciado para sempre.

Escolhi falar sobre essa perda aqui no blog porque, bem, porque ela é relacionada à força do amor que temos por personagens. Não vou ficar listando todos os personagens interpretados por Alan aqui, pois foram muitos e foram muito diferentes. Vou focar em Severo Snape porque nossa história é a que quero contar.

Eu sabia sobre Harry Potter, mas não tinha lido os livros ainda. Descobri a magia das páginas durante o hiato entre o gancho de “Cálice de Fogo” e a expectativa por “A Ordem da Fênix”. Mas o que me fez mergulhar nas páginas foi a explosão de sentimentos que o primeiro filme me proporcionou. Eu nunca fui fã de fantasia e apenas admirava o trabalho autoral desse gênero. Mas depois de assistir a “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, precisava saber mais sobre aqueles personagens. E principalmente sobre o misterioso e rabugento Mestre de Poções, interpretado por Alan “voz de veludo” Rickman.

Como fã do ator, me apaixonei ainda mais pelo personagem e mergulhei no fandom potteriano de cabeça. Harry Potter me trouxe uma lista de “primeiras vezes”: a primeira saga literária que acompanhei; o primeiro evento literário que apresentei (e me colocou nessa vida); o primeiro fórum e lista de discussão que integrei; as primeiras fanfictions que escrevi. Isso sem contar nos amigos que fiz e nas aventuras que vivi!

Mas será que se o personagem fosse interpretado por outro ator teria me despertado a curiosidade? Talvez não. Talvez chegasse a Potter mais tarde. A única certeza que tenho é que foi a interpretação de Alan Rickman que me levou às páginas.

Engraçado como isso acontece, né? Como os atores fazem esse link entre o nosso mundo, de carne e osso, e o Mundo das Ideias, onde vivem os personagens. Eles são como médiuns, que interpretam o que está na página e dão vida ao intangível.

Quando li a morte de Snape no livro, chorei muito. Sabia que ele não sobreviveria ao final da saga e, a cada livro, suspirava e pensava “Ufa! Desse ele passou!”. Mas sabia que viria a sofrer com a morte dele como os fãs de Sirius sofreram sua perda e tantas outras que Rowling nos fez passar. E as lágrimas vieram com intensidade e meu coração se quebrou e eu queria abraçar o personagem enquanto seus últimos suspiros deixavam seu corpo. E eu quis abraçar Alan Rickman porque, ao ver a cena no cinema, as lágrimas e o sentimento de perda voltaram.

Mas com a notícia fria nos jornais, as lágrimas não vieram. A perda estava lá e a tristeza também, mas não chorei. Não o conhecia pessoalmente, não integrava sua família ou seu círculo de amizades então como poderia sentir falta dele dessa forma? Isso faz de mim uma fã de meia tigela? Não. Entendi que a minha ligação era com a ideia que Rickman tornava real e não com ele em si.

A perda de Alan Rickman quebrou meu coração, sim, mas ele me deixou uma legião de amigos que, ao receberem a notícia, me mandaram mensagens de apoio, abraços reais e virtuais e vários “você tá bem?”. E esse é o legado imortal que ele deixou para mim e para todos que foram tocados por sua arte. O sentimento que acordou em nós nos uniu. Não importa a Casa de Hogwarts ou se concordávamos ou não com o que Snape fez na série: estamos juntos nessa perda como estávamos quando cada personagem nos deixou.

Prova disso está nas fotos abaixo. Os fãs que estavam no parque Islands of Adventure, em Orlando, no dia do falecimento, fizeram uma homenagem a Alan Rickman, erguendo suas varinhas em direção ao castelo de Hogwarts (mesmo gesto que os alunos fazem após o falecimento de Dumbledore). E, no brinquedo, alguns fãs também deixaram flores na porta de Snape e uma dessas flores era um lírio (quem leu HP sabe do que estou falando). E foi aqui que eu chorei.



Crédito: Buzzfeed

Em um momento de virada na saga, Harry pergunta para Dumbledore, “Isso é real ou está acontecendo dentro da minha cabeça?”. E o sábio bruxo responde algo como “Claro que está acontecendo dentro da sua cabeça, Harry. Mas isso não significa que não seja real”.

Podia ser a descrição de tudo que sentimos ao ler um livro, ao sofrer com ele, ao nos apaixonar por um personagem. Acontece na nossa cabeça, no nosso coração e, se sentimos, é real. Para sempre.




Um comentário:

Juliana Cherni disse...

Maior verdade... Nos livros, nas séries ou filmes.. A gente se apega de tal forma, que quando terminamos um ou outro, sentimos como estivéssemos nos despedindo de amigos ou familiares. Ainda há quem nos julgue, dizendo que não sabemos distinguir realidade de ficção, principalmente quando um ator fala sobre como uma fã se portou ao conhece-lo. Eu acho que todos deveriam ser mais sensíveis em relação a quem é como nós, que se apega a personagens, pois a vida em si já é muito dura e muitas vezes eles nos salvam de várias formas, nos fazendo rir junto, chorar junto, ansiar por alguma coisa junto, sofrer junto, enfim... Coisas que para uns parecem besteira, mas para muitos é uma beve fuga que muitas vezes se faz necessária da realidade. bjo, irmã