Entre os dias 11 e
17 de maio, a Academia Britânica de Letras promove a semana de literatura, em
Londres. É um evento que inclui várias manifestações culturais (exibição de
filmes, exposições, apresentações diversas) e que sempre tem um tema diferente.
O tema deste ano
muito me interessa. Já dá pra adivinhar qual é? Isso mesmo! Os contos de fadas!
Na verdade, a mostra se chama OTHER WORLDS, mas no videozinho do evento eles já
deixam claro do que se trata. Dá pra ver aqui.
A proposta deles é
abordar os contos de fadas sob várias perspectivas: discussões de gênero,
palestras sobre a tradução e a modernização dos contos de fadas, a questão das
ilustrações e dos ilustradores etc. O que não falta é assunto e, aos poucos, eu
vou contando pra vocês o que rolou nesses dias.
Mas hoje eu quero
falar sobre a exposição que está acontecendo durante a semana (TODA a programação
é gratuita; então, se alguém estiver em Londres por esses dias, corra! porque
vale muito a pena).
Tem várias
discussões que envolvem a relação entre o oral e o escrito nos contos de fadas
(ou ainda a transformação da tradição oral folclórica em contos escritos), mas
também a relação entre a palavra e a imagem. A imagem tem tanta importância que
não foi casual que ilustradores como Arthur Rackham ou Kay Nielsen (que chegou
a trabalhar na Disney!)tenham feito ilustrações para antologias ou contos de
fadas.
A exposição é uma
parceria entre a Academia Britânica de Letras e a Folio Society, uma editora
que publica livros clássicos em edições ilustradas, de capa dura.
Nos contos de
fadas, as imagens funcionam como um auxílio à história, reforçando aspectos dos
personagens ou do ambiente em que eles se encontram; mostrando características
que não foram descritas ou ainda como “testemunho” do contexto histórico e
social em que aquele conto foi recolhido ou mesmo como “testemunho” da época em
que ele foi ilustrado. E isso fica evidente em algumas das imagens selecionadas
para a exposição, que vou mostrar pra vocês agora.
Esta imagem faz
parte do livro O Gigante Egoísta e
Outras Histórias, de Oscar Wilde. Pra quem não sabe, o autor de O Retrato de Dorian Gray também
escreveu contos de fadas. Alguns são bem melancólicos e muita gente acredita
que refletiam o sentimento do autor em relação à sociedade da época. Não é casual,
portanto, que o ilustrador tenha usado o próprio rosto de Wilde para ilustrar
seu conto.
Aqui o ilustrador
Victo Ngai (um dos meus preferidos) utiliza o tradicional desenho chinês para
ilustrar um volume sobre o folclore da China. Não sei se vocês percebem, mas
mesmo usando características dos desenhos chineses, os desenhos de Ngai são
mais fluidos e ele introduz movimento nas imagens (ao contrário das ilustrações
estáticas tradicionais).
A
Princesa e o Goblin,
de George Macdonald, é um dos meus livros preferidos e, se vocês repararem nos
traços, os desenhos lembram muito uma técnica de gravura chamada xilogravura. É
interessante ver como a ilustradora incorporou essa técnica ao livro e o efeito
do uso das cores fortes impressiona bastante.
E pra quem não
sabe, a xilogravura é uma técnica bastante usada para ilustrar a nossa
literatura de cordel, outro gênero literário que, assim como os contos de
fadas, traz o imaginário do povo para o papel.
Nas próximas
colunas, espero poder trazer mais novidades da semana literária promovida pela
Academia Britânica de Letras e das discussões sobre a importância dos contos de
fadas para a literatura.
Um comentário:
Ana, adorei o texto! Tem uma conexão com o que eu acabei de publicar no Papos de Sexta! Vida longa aos contos de fadas!
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