5 de ago. de 2011

Papos de sexta: Cara, cadê minha livraria? Por Frini Georgakopoulos

A luz no fim do túnel de uma das maiores livrarias americanas se apagou: a Borders está fechando as portas nos Estados Unidos e eu choro aqui no Brasil. Fico triste não somente porque adorava a livraria, mas porque temo ser apenas o topo do iceberg.

Ler é uma experiência incrível e o mais legal dela é que é diferente para cada um. Eu, por exemplo, sou uma leitora de manias ecléticas e leio cada livro de acordo com o que o clima dele me “pede”. Por exemplo, li “Diários do Vampiro” no sofá da minha casa enquanto uma feroz tempestade caia lá fora e na minha TV - que dava para ver só de rabo de olho - um filme de terror passava. Já “Insaciável”, foi viajando: li na minha casa, no Rio de Janeiro, na casa de uma amiga, em São Paulo e até em Nova York, passando por lugares apontados no livro, o que me proporcionou – sem querer – uma experiência única. E a série “Mediadora” foi totalmente diferente: li no quarto, debaixo das cobertas, só com a luz de leitura acesa (meus olhos sofreram, coitados). Acho que estava esperando o Jesse aparecer! :)

Mas além de ler, uma coisa que eu amo demais nessa experiência é descobrir o livro na prateleira da livraria. Entrar na loja com o coração batendo forte, procurando pelo livro que você sabe que acabou de sair da gráfica e, ao encontrá-lo, abrir aquele sorriso e segurá-lo nas mãos, como se fosse o mais valioso tesouro. Ou até ser surpreendida por um título interessante que o livreiro, ao observar seus interesses, indica sem pretensão. E você acaba amando! Parece coisa de maluco, mas quem curte livros talvez me entenda.

Compro meus livros on-line também, mas só quando são importados e não conseguiria encontrá-los em livrarias brasileiras. Receber a caixa em casa também é legal, mas o cheiro do papelão não se compara à experiência de ir buscar o livro pessoalmente. Mas, e se o dia chegar em que não teremos mais lugares para encontrar nossos livros? E se tudo se tornar apenas uma troca fria entre consumidor e loja, sem mais a troca de ideias dentro de uma livraria?

De uns tempos para cá, as editoras brasileiras têm organizado inúmeros eventos para lançar seus livros. Essa atitude não somente ajuda em divulgar os novos títulos, como também proporciona um verdadeiro fenômeno: o networking de amizades iniciadas dentro de livrarias e levadas para o resto da vida. Em cada evento, as livrarias lotam, as amizades se multiplicam e os livros são levados para casa com muito carinho. Sempre que posso, participo de vários eventos e não imagino mais meus finais de semana sem eles.

Por isso me entristeço com a situação da Borders. Tive a oportunidade de ir a duas lojas em Nova York ano passado – enquanto perambulava e lia “Insaciável” - e trouxe livros ótimos, alguns que só descobri por estar em uma livraria. Provavelmente não os teria conhecido em um compra on-line. Ainda participei de um evento de lançamento, peguei autógrafo, tomei café, conheci gente nova ... como faria isso on-line?

Sobrevive o mais adaptável e não o mais forte e sinto que, nesse contexto, acredito que Borders pode não ter se adaptado às mudanças de hábitos de consumo e de produção literária, que avançam a passos enormes a cada dia. Mas essa coluna não é para questionar o fator “administração” da Borders, mas sim o que isso pode representar no quesito “extinção de livrarias”.

E-books, kindles, nooks ... todos são válidos desde que as pessoas continuem a ler, mas uma experiência não invalida a outra. Abracem a tecnologia, mas não desprezem as livrarias. Nada substitui o contato humano, o cheirinho de livro novo, mesmo que ele venha a dividir espaço com programas de computadores, Blue-rays e etc.

Adeus, Borders, e obrigada pelos livros e pelas memórias.

13 comentários:

Regiane disse...

Frini, tive a oportunidade de me despedir da Borders em março, quando entrei em uma na Califórnia que estava com tudo com 50% de desconto ou mais, porque ia fechar. Foi um prazer enorme revirar as prateleiras atrás de achados com preços quase ridículos, mas o sentimento foi misturado com a tristeza de saber que os dias da livraria estavam contados.

Também tenho um pouco de medo do que isso pode representar, mas meu eterno e incorrigível otimismo me diz que as livrarias continuarão por aí sim. A consequência triste acaba sendo o que vimos no filme Mensagem pra Você (You've Got Mail), no qual a pequena livraria da Meg Ryan é engolida por mais uma loja da rede de livrarias do Tom Hanks. As pequenas livrarias já quase não existem; o livreiro (o que não é um mero funcionário contratado), o que escolhe os títulos que vai vender, está em extinção.

Mas ainda acredito que nada vai substituir o papel e que as livrarias continuarão fazendo parte dos nossos programas de final de semana.

Adorei o tema que você escolheu! Parabéns!

Bjs,
Nane

Vivi Maurey disse...

Não tive a oportunidade de conhecer, infelizmente, mas entendo a angústia e compartilho da mesma preocupação. :/ Me emocionei com a coluna. Muito boa, Frinoca!

Bjocas,

Vivi

Nina disse...

Quando abri a página do WST e vi que a borders tinha fechado as portas,fiquei triste mesmo. Como você também senti que isso é bad news para a indústria impressa. Senti algo parecido quando o JB se tornou apenas um site de notícias.

Sei lá,parece que as pessoas estão tendo menos vontade de sair,se misturar,ler com as mãos sabe? Segurar o livro.

Quer saber? Nós estamos preguiçosos. A internet ligou esse botão e agora ninguém sabe como desligar. Os mais velhos tem mais pique do que a galerinha jovem.

Enfim,o nosso trabalho como comunicadores é tentar "aliviar" essa situação.

Gosto de pensar que os leitores de verdade precisam segurar o livro nas mãos,olhar para os lados e ver outras pessoas devorando capas de livros. O ambiente que apenas uma livraria pode propiciar.

Tenho medo de que no futuro apenas e-books,kindle estejam à venda. Mais é um medo sério,viu? Tremo toda só de pensar.

Adorei o texto. Bom insight,e ótima ideia de falar sobre a Borders,já que poucas pessoas ficaram sabendo disso por aqui.

Abs,

Marina Moura
www.minhavidaporumlivro.com.br

Tita Mirra disse...

Frini, parabéns pelo texto! É realmente triste, mas é um caminho sem volta, me parece :(

Sempre acreditei q o online e offline devessem somar forças e não dividir. O q não entendo é como lojas físicas e virtuais - da msm bandeira! - insistem em competir entre si o_O Assim, não há empresa q se mantenha de pé :(

Bom, mas não sou especialista... A única coisa q sei de verdade é q não vivo sem esse conteúdo, mesmo q a maneira com q ele chegue até mim mude daqui a alguns anos...

De qq maneira, foi ótimo vc tocar nesse assunto... Me fez pensar em algumas questões :)

Bjs!

Lorena Garcia disse...

Amei o post e concordo plenamente. Também acho que um e-book substitua um livro na mão. Hoje mesmo eu estava vendo uma lista que fiz de livros que queria comprar. Acabei me deparando com livros que eu gostaria de ter fisicamente e outros que não me importaria em tê-los digitalmente.
Creio que hoje em dia muita coisa esteja ligada à tecnologia. E apesar de eu amá-la de paixão e acreditar não viver sem ao menos um pouco dela, me sinto ainda pior se viver sem meus livros e sem as livrarias maravilhosas que existem hoje no RJ, onde moro.
Ainda não fui à estes eventos de lançamentos, mas tenho muita vontade de ir a um. E concordo que experiências como estas não podem ser encontradas online.
Pois é, vida passa, as coisas evoluem, mas espero que os livros nunca sumam de nossas vidas, eles são bem melhores que os e-books e bem mais íntimos. Quem não concorda com isso, não sabe o que está perdendo.
Bjs,
Lorena

Raffafust disse...

Oi Frini!

Em março desse ano estive em Atlanta nos EUA, realizei grandes sonhos que eram conhecer a Barnes & Noble, Boook a million ...e a Borders, meus tios quando cheguei falaram que haviam 8 livrarias Borders lá mas tivemos que fazer uma peregrinaçao para acharmos a última aberta, os corredores eram piores que livros de terror...vazios e assutadores, os funcionários tristes e os livros liquidados estavam lá implorando para serem levados...ah se não fosse o máximo de 32 kg por mala teria estourado o limite do cartão. A foto em frente a livraria está no mural em meu quarto, sei que quando voltar agora em setembro nem as portas estarão abertas...pensei como vc..como será o futuro? Sou da época em que tudo era comprado em loja física, amo ter cds mesmo que ocupem um espaço absurdo, amo tirar a poeira dos livros e ainda não aderi ao e-book , gosto de velhos costumes e tenho medo dos novos...porque eles afastam o gosto de ter em mãos as coisas...o contato direto com o objeto...é triste e pra mim inaceitável que a tecnologia tenha trago tudo isso quando sei que também nos trouxe tanta coisa boa! Sinto falta da Sodiler,Siciliano...que agora é Saraiva , gosto da Saraiva, da Travessa ...mas tenho medo que sejam dizimadas como foram os cinemas de rua...e sempre me vem a pergunta...se todos os livros forem digitalizados, como será o autógrafo do autor? Virtual?
Quero não...quero poder ver, sentir, abraçar , pegar e levar pra casa. Que essa tecnologia ainda demore uns bons anos...
Mais uma vez amei seu texto e pra variar me identifico em gênero e grau com seu texto maravihoso!

Bjos
Raffa Fustagno

Carol Ardente disse...

Eu não sabia que a Borders iria fechar. :( Uma evz eu estava vendo TV e uma pessoa lançando um kidle disse que todos largariam o livro d epapel. Me revoltei na hora! Não há nada melhor do que ir em uma livraria, serntir o cheiro de lviros, pegar um e folhea-lo. É uma pena ver pessoas não gostando de ler. O ato de ler é uma das melhores coisas do mundo. Quando eu tenho minutinhos livres, pego o meu livro e vou ler. É muito bom ir nos eventos literários! Para mim não me vejo em outro lugar. E foi neles que conehci pessoas maravilhosas e que os livros nunca nos separarão, como diz a Raffa. Espero que nenhuma outra livraria venha fechar por causa da tecnologia, porque isso sim seria o fim do mundo.
Amei o seu post, Frini!
Beijos ;*

Ana Carolina
http://loucospor-livros.blogspot.com

Aline T.K.M. disse...

Pois é, acho que toda essa situação é bem difícil para nós, que somos de uma geração que começou ainda sem tooooda essa tecnologia, e nos apegamos a coisas que podem estar com os dias contados.
Acho que nada substitui as livrarias. E, como vc, muitas coisas que vejo por lá eu não descobriria comprando online. Minhas longas visitas nas livrarias físicas não acontecem nos sites das mesmas na internet.

Bruninha disse...

Frini,

Adorei a coluna. Amo os lançamentos literários e não perco um. Graças a ele conheci pessoas maravilhosas e que viraram amigas como você! *insira um momento Own aqui*. Realmente com o avanço da tecnologia isso tende a acontecer. Por mim, a tecnologia avança e os livros continuam. Como deixarei de "cheirar" um livro novo? Não tem como cheirar um iPad né? rs. Vamos continuar comprando livros e não deixar isso acontecer !!

Beijos!

Livros minha Terapia disse...

Oi Frini,
Impossível não se identificar e muito menos dividir com você esse medo.
Muito medo de perder o lugar mais desejado por nós amantes dos livros, as Livrarias. Eu definitivamente não me imagino lendo e-book, acho frio demais...nada se compara as páginas passadas uma a uma, sentindo a textura da folha de papel. E quando as ultimas páginas estão chegando vc abraça o livro por que não acredita q aquilo vai acontecer rsrsr! E quando acaba o tal livro .. bem.. vc vai na prateleira do seu quarto e escolhe um lugar todo especial para seu livro querido! rsrs nada se compara a essas senções.
Vou ficar aqui na torcida para que encontrem uma forma de equilibrar essa situação... pois muitos devem compartilha esse desejo de manter as Livrarias..
Lindo Texto!!
Frini
Bjks

Juh Oliveto disse...

Infelizmente, como a Vivi, não pude conhecer pessoalmente, mas a dor de ver uma livraria fechar é graaande. E acho que você descreveu bem o sentimento de alegria e perda...
AMO livrarias, adoro entrar e fuçar tudo, mas confesso que sou compradora virtual quase compulsiva - simplesmente porque com o mesmo dinheiro você compra mais.

Vamos torcer para ter sido mais problema administrativo do que uma tendência catastrófica.

Beijocas!
Juh Oliveto
Livros & Bolinhos ~

Camilla Leite disse...

Acho que talvez seja por isso que sou tão resistente com relação a E-books e afins! :/
Não quero perder o prazer de ter Meu Livro nas Mãos, de ter Meu Livro na minha prateleira. Quero viver uma estória com os livros e não apenas armazena-los em pastas.
Beijos, Mila ♥

@Camilla_Leitte
http://sonhosentrepontinhos.wordpress.com

Anônimo disse...

Hm... esse assunto me toca tanto.
Quando eu penso que esse universo maravilhoso das livrarias pode acabar me dá um aperto no coração...
É claro que é uma delícia comprar livro pela internet e receber em casa, mas, cá entre nós, é muito mais gostoso entrar numa livraria e ficar ali, aspirando o cheiro dos livros e a aura de inteligência que paira em uma livraria.
Ótimo texto, Frini. Ainda bem que você me lembrou que não sou a única que ama livrarias.