19 de fev. de 2016

Papos de Sexta: Meta literária para 2016

No dia 1º de janeiro de 2016, ocorreu o seguinte diálogo:

Pessoa aleatória que não deve ser nomeada (PAQNDSN): “E aí, qual foi o último livro que você leu em 2015?”

Eu: “Não lembro”.

PAQNDSN: “Como assim não lembra?”

Eu, franzindo a sobrancelha pelo tom usado pela kiridinha: “Não lembro, ué. Ainda estou lendo o mesmo”.

PAQNDSN: “Você virou o ano lendo o mesmo livro? Como assim? Pensei que gostasse de ler!”

Eu, não acreditando nos argumentos mucho doidos usados pelo “amoreco”: “Eu adoro ler, mas tenho uma vida além das páginas. Eu curto ler. Curto, do verbo ‘gosto por ser prazeroso’”.

E a pessoa iluminada (para não falar outra coisa) continuou achando um absurdo eu não ter tudo anotado.



Gente, sério mesmo? Tipo, desde quando precisamos prestar contas por algo que a gente ama fazer? Tipo, vocês marcaram quantos beijos deram em 2015? E não estou falando dos marcantes, estou falando de TO-DOS! Fizeram contabilidade de quantas gargalhadas soltaram? E quantos seriados e filmes assistiram?

Entendo que tem muita gente que se organiza com redes como o Skoob, por exemplo, para não se perder nos livros que tem e nas séries literárias que acompanha. Show, bacana, louvável. Mas eu não sou assim e viva a diferença, né?

É que eu não consigo entender essa “matematização” do prazer, essa “gameficação” da vida. Na minha concepção, fazer o que a gente ama é uma delícia, um escape, um momento que nos faz sentir bem. Pode ser fazer compras (aí entra contabilidade de valor gasto, mas, por exemplo, não sei quantos pares de sapato comprei esse ano!), tomar sorvete (você sabe quantos tomou em 12 meses?), sair com os amigos (se for contabilizar chopes, danou-se, né?) ou ler livros.



Entendo também que ler é um hábito e que, para ser iniciado, algumas pessoas colocam metas. Por exemplo, vou ler um livro por semana e, no final de um ano, vou verificar se a meta foi batida. Mas depois do hábito instalado, qual a razão de manter a conta? Ou pior, qual a necessidade de comparar números?

Eu leio MUITO, mas não faço ideia de quantos livros li em 2015. Para falar a verdade, tem livros que li e que nem lembrava que tinha lido, tamanha foi a pressa para acabar e falar dele no Clube. Claro que me preparei para abordá-lo no evento e tal, mas não foi uma leitura tão prazerosa e proveitosa como poderia ter sido. Ele foi só um número e não uma leitura que me impactou. E isso não é bacana. Cadê a qualidade da leitura?

Eu leio muito, mas será que não poderia estar lendo melhor? E não digo a qualidade do livro, mas do meu envolvimento com ele. Deu para eu notar as críticas colocadas nas entrelinhas pelo autor? Na correria de terminar mais um, deu para notar a mudança de ritmo na narrativa? E a razão para essa mudança?



Minha razão para essa coluna é refletir sobre a qualidade da leitura. Vi que na lista dos livros mais lidos em 2015 pelos brasileiros reinaram os de colorir e alguns sobre depressão e ansiedade. Acho que todos esses estão intimamente ligados e parte da razão de estarmos tão ansiosos é a necessidade que sentimos de estarmos constantemente competindo uns com os outros. Mas quem ganha? Quem leu mais ou quem curtiu mais cada página? Quem leu mais rápido, mais livros ou quem foi tocado pela mensagem de cada história? Na vida, quem vence: aquele que tem mais dinheiro ou que aproveita melhor o tempo? Quem tirou mais fotos da viagem ou quem curtiu mais cada lugar? Pra quê competir? Eu ainda não entendo.



Em 2016, eu não tenho uma meta de leitura. Meu objetivo é ler melhor, prestar mais atenção nos elementos de estilo ou na falta deles, entender mais as mensagens na história, a caracterização dos personagens. Quero ser uma leitora melhor.

E você? Quais seus objetivos literários para 2016? E se eles forem numéricos, tudo bem, vai. Não vou julgar. Mas só espero que você não deixe que números te definam. Você é algo além das páginas, além dos números. Não perca visão disso, ok?


2 comentários:

Unknown disse...

Show! Concordo em gênero, número e grau. Refletir melhor sobre o que estamos lendo é fundamental para o nosso crescimento como seres humanos.

Érika Ramos disse...

Concordo com o texto Frini, sou apaixonada por leitura e quando comecei a ler queria ler mais e mais, quanto mais melhor. Atualmente minha meta é tirar os livros que estão a muito tempo na estante e ler, nada de deixar livros acumulando poeira quando tem tanta história esperando por uma leitura.
O prazer da leitura tem que estar sempre presente, não adianta ler 30 livros por mês sem curtir nem a metade, é muito interessante curtir as nuances da história, sutilezas, as entrelinhas e aproveitar o momento com determinado livro ao máximo.

http://recantodelivros.blogspot.com.br/