Além
da leitura, cultivo outros dois hábitos desde pequena: escrever e desenhar.
Lembro que eu descia para o playground do prédio, munida de um caderno e lápis,
e passava horas rabiscando na companhia das amigas. Escrevíamos histórias,
poesias, letras de música, e depois ilustrávamos. Era o meu passatempo
favorito.
Meus
pais não encanavam com isso. Sempre fui boa aluna e, desde que não prejudicasse
minhas notas, eu podia passar o tempo como quisesse. Eu nunca reprovei na
escola e fiquei em recuperação apenas uma vez, mas não via utilidade em
aprender todas aquelas fórmulas quando o meu dom era com letras e traços. Até
os professores reconheciam isso, me chamando para ler as redações na frente da
turma - e me matando de vergonha - ou me deixando encarregada, nos trabalhos em
grupo, de qualquer coisa que exigisse habilidade artística.
Sobrevivi
ao ensino médio e cheguei ao vestibular certa de que queria cursar comunicação
social, assim não precisaria optar entre texto e imagem, e ainda leria
bastante. Me formei, mas faltava alguma coisa, então cursei artes gráficas. Estagiei
no marketing de um jornal, trabalhei como redatora em agências de propaganda, e
depois como designer de interfaces em empresas de TI. Fui sócia de uma marca de
camisetas que era sucesso em uma feira de moda do Rio de Janeiro, mas
continuava faltando algo na minha vida.
Foi
quando me dei conta de que, com a correria do dia-a-dia, eu havia deixado os
meus hobbies de lado. Eu me entregava apenas às leituras da minha área, e
quando escrevia ou desenhava, era por obrigação e não prazer.
Comecei
um blog literário para me reaproximar das minhas paixões. Era novamente um
passatempo, mas o destino se encarregou do resto. Conheci o pessoal da editora
em um evento literário, mais precisamente no lançamento de “Cidade dos Ossos”,
e como tantos outros blogueiros, me tornei parceira. Fui convidada a apresentar
eventos dos lançamentos da Cassandra Clare e L.J. Smith. Por indicação de outra
blogueira, a Lívia do Leiturinhas, passei
a escrever pareceres dos manuscritos e a sugerir alguns títulos para
publicação. E agora cuido das redes sociais de um dos selos do grupo.
O
que era um passatempo virou uma maneira de ganhar a vida. Reparem que não usei
a palavra dinheiro, porque não acredito em fazer as coisas apenas com esse
propósito. O trabalho ideal é aquele que paga as contas sim, mas que ao mesmo
tempo nos deixa com um sorriso no rosto. “Faça o que ama e não trabalhará nem
um dia em sua vida”, já dizia Confúcio.
Escolhi
esse tema para o Papos de Sexta porque reencontrei alguns amigos na Bienal que
abandonaram suas paixões por conta da escola, faculdade ou emprego, e gostaria
de compartilhar a minha história com eles. Lembrem-se: vocês podem recomeçar
quantas vezes for preciso.
Movida
por curiosidade, eu passei por diversas áreas e aprendi muito em cada uma
delas. E por mais que eu sentisse na época que estava andando em círculos, hoje
vejo que cada passo me levava na direção certa. Não tenham medo das mudanças,
pois elas nos colocam em movimento - e ninguém merece ficar estagnado -, mas
deem importância aos seus passatempos. As atividades realizadas por vontade
própria, e não por imposição, são o passo a passo para a realização pessoal e
profissional.
Termino
com um trecho do manifesto Work is not a job, das designers Sophie Pester e Catharina Bruns (vale a pena conhecer o
trabalho dessas duas):
“Siga
seu coração ou ele vai para sempre lembrá-lo de que algo está faltando.”
3 comentários:
Me fez pensar, e muito, nas minhas escolhas, e no que tenho feito ultimamente. Acho que esse sentimento de "andar em círculos" ou "peregrinar no deserto" tem me atormentado um bom tempo. As vezes a gente até sabe o que o coração quer, porém a "pressão" ao nosso redor fala mais alto, e somos obrigados a por as contas em primeiro lugar.
Deia, isso acontece. O importante é não achar que tudo está perdido, que é tarde demais para mudar. A vida nos apresenta bifurcações, retornos e encruzilhadas, e mesmo quando escolhemos um determinado caminho, não precisamos permanecer nele por toda vida. Tudo na vida são escolhas, e elas dependem do nosso momento, mas se permita sonhar um pouco :) Bjs!
Adorei! Esse texto me deixou inspirada a procurar mais o que me faz feliz, ando meio perdida na minha faculdade e que caminho escolher, entretanto vou me arriscar mais agora com as minhas escolhas e ver o que vai acontecer. Beijos
http://recantodelivros.blogspot.com.br/
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