Quando eu tinha 14 anos, meus pais me levaram
para ver "O carteiro e o poeta", filme italiano que fez um sucesso
danado nos cinemas do mundo todo. Ali descobri Pablo Neruda. Como ainda não
havia a possibilidade de ver quem era o cara na Wikipédia, corri para biblioteca
do colégio para saber mais. Acontece que, por minha escola ser religiosa, ela
não tinha seus livros. Pablo Neruda, poeta chileno, era metido com política –
totalmente de esquerda – e, por isso, não era considerado de bom tom lê-lo. Mas,
para minha sorte, meus pais me levaram a um sebo que existe até hoje no bairro
onde moro, e lá pude comprar três livros de Neruda.
A paixão que já existia pela história do filme
aumentou, e lendo sua biografia, no final de um de seus livros, me emocionei:
Neruda morreu 6 anos antes de eu nascer.
Um dia, já com a internet a mil, e com
milhares de frases do chileno rondando por Orkuts e Facebooks da vida, vi que
ele tinha três casas (sim, três!) no Chile e que todas estavam abertas para
visitação. Já contei aqui para vocês como foi incrível conhecer a casa da
autora de “E o vento levou...". Como podem imaginar, então, eu via as
pessoas nas casas de Neruda e sonhava com esse momento para mim.
Pois bem, no último feriado que tivemos chegou
finalmente a minha vez: quando combinamos de viajar, meu noivo, junto à minha
sogra, me perguntou qual lugar eu tinha vontade de conhecer, para colocarem no
roteiro. Poderia ter falado: Valle Nevado, Valparaíso, Ilha de Páscoa... mas
falei:
— A casa do Neruda. Me levem lá, preciso ir!
E foi assim que, ao chegar em Santiago, enchi
a paciência para me levarem lá. Mesmo exaustos, eles fizeram minha vontade.
Andamos um bocado porque nos ensinaram o caminho errado, mas conhecemos La
Chascona! A casa é bem colorida. Já é linda por fora, mas
seu interior (lembrando que fotos são proibidas) ostenta peças tão diferentes
que você nem sabe para onde olhar. Te entregam um guia virtual e você escuta a
discrição de cada cômodo: além da paixão pela esposa, citam em qual local ele
escreveu determinado livro... E você fica solto, faz sua visita no seu tempo,
examina as coisas, sente aquela vibração do poeta, e o imagina ali. As fotos penduradas
pela casa remetem imediatamente ao passado.
O clima era tão bom que, mesmo sem poder
sentarmos, me senti em casa. Todo o cansaço foi embora. Ao sair, deparamo-nos
com uma lojinha com muitas coisas relacionadas ao poeta, e é claro que quis
levar todos os livros.
No dia seguinte, nosso tour dava direito a
conhecer La Sebastiana, sua
segunda casa, onde, dizem, ele morava com a amante. Verdade ou não, a casa não
é tão bacana quanto a outra, além de ficar em Vaparaíso, outra cidade, na qual
demoramos umas duas horas para chegarmos. Apesar de tudo, a vista é linda. A
história de Neruda se confunde com a história do Chile e com a ditadura, pois
ele sempre lutou pelas causas nas quais acreditava e fez tantos admiradores
quanto inimigos.
Infelizmente não deu tempo de conhecermos Isla Negra, a terceira casa. Mas tudo
bem, pois as duas que conheci já ficaram marcadas para sempre. Neruda mora
ainda mais no meu coração.