Neill Blomkamp é o cara que
surpreendeu o mundo em 2009 com sua pequena obra-prima Distrito 9. Veio
ali da Nova Zelândia, como quem não quer nada, somente apadrinhado por Peter
Jackson, e, de repente, concorreu a quatro Oscars, incluindo Melhor Filme e
Roteiro Adaptado – fato raro para a ficção científica, gênero que alimenta a
temporada de blockbusters, mas leva históricas esnobadas da Academia.
Dito isso, todo mundo ficou de
olho em Elysium, a estreia americana de Blomkamp, com orçamento gigante,
elenco capitaneado por um astro – Matt Damon – e mais um pouco do comentário
social que diferenciou Distrito 9 das massas acéfalas. O problema,
porém, está aí: é apenas “mais um pouco” a serviço de um filme que se perde no
contexto, vira uma correria embasada por viradas de trama sem sentido, e que
derrapa na maldade de vilões sem nuances (Jodie Foster e Sharlto Copley, esse o
protagonista de Distrito 9.)
Vamos à trama: em uma Los Angeles
(sempre ela, a metrópole do futuro por excelência) de 2154, a humanidade vive em
um favelão (perdão, “comunidade”) planetário, explorado pelo 1% que mora nas
alturas, em uma comunidade fechada que orbita a Terra morta. Pense em um
daqueles idílicos condomínios da Barra da Tijuca (insira aqui o bairro emergente
e segregacionista da sua cidade) sobre uma imensa Rocinha (insira aqui a maior
favela da sua cidade). Nesse ambiente vive Max (Matt Damon), ex-ladrão de
carros e agora operário-não-muito-padrão de uma corporação maligna. Após
receber uma dose letal de radiação em um acidente no serviço, ele tem apenas
cinco dias de vida – e cinco dias para fazer uma viagem clandestina a Elysium,
onde a medicina dos ricos poderá salvá-lo. Só que Elysium costuma tratar
invasores a bala, e, para entrar lá, Max vai precisar da ajuda de um
contrabandista experiente, Spider (Wagner Moura, com um sotaque que beira o
risível e uma caracterização chavão de cyber Che Guevara; ele não
merecia uma estreia americana tão calcada em um personagem, digamos,
folclórico).
Elysium marca a estreia de Wagner Moura em Hollywood |
Já é possível enxergar que
Elysium trata de temas atuais que incomodam a sociedade americana, como a
abertura de fronteiras para imigrantes e um sistema de saúde igualitário e
gratuito. Max quer ter o direito de imigrar para uma terra dos sonhos a fim de
se curar. Mas as questões sociais são meros trampolins para um filme que erra o
tom e descamba para a ação genérica, muitas vezes sem sentido. Elysium
lembra, no caso, o Vingador do Futuro original, que também fazia um
comentário social amparado na figura de herói de ação de Arnold Schwarzenegger.
Mesmo com Jason Bourne no currículo, Matt Damon não convence em papel similar
(um simples operário que liberta seu povo no muque e no tiro), nem mesmo ao
usar um exoesqueleto meio sem propósito. A transição de homem comum para super-herói
falha miseravelmente. Talvez o que atrapalhe Neill Blomkamp tenha sido o ar
messiânico que ele imprimiu ao personagem de Matt Damon, que reduz sua
motivação a um simples determinismo quase religioso ou digno da pior literatura
de auto-ajuda. Elysium dá a impressão de ser um filme perdido do Paul
Verhoeven dos anos 80, sem o brilhantismo do mestre.
Mais informações no site oficial: http://www.itsbetterupthere.com/site/
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