Finalmente chegou o dia da minha estreia como colunista no Blog da Galera, e resolvi começar
falando um pouco pra vocês sobre o caminho dos livros: do computador pessoal do
tradutor até a prateleira das livrarias.
Vou começar falando sobre a tarefa de preparar os originais pra
publicação (desde que me tornei colaboradora freelance da Galera, há um ano, preparei onze livros ao todo).
Essa etapa – que vem depois da tradução (vou falar dela da próxima vez)
– recebe vários nomes: copidesque, preparação de originais ou mesmo revisão.
Eu costumo dizer que, no fundo, todo mundo no mercado editorial é um
viciado em livros (enrustido ou assumido) e, sim, confesso que comecei a
trabalhar como copidesque pra poder ler mais livros ainda – além dos que eu
traduzo ou leio normalmente –, mas tradução e preparação não deixam de ser um
trabalho como outro qualquer, portanto, profissionalismo é fundamental.
Bom, depois que o tradutor envia o texto finalizado pra editora, quem
passa a cuidar do livro é o preparador de originais. O trabalho varia de
profissional pra profissional, e vou descrever esse processo a partir da minha
experiência.
Eu recebo o texto original (o livro que foi traduzido) e o material que
o tradutor enviou, e tenho várias tarefas a cumprir nesse momento:
- ·ver se todo o texto foi vertido pelo tradutor para o português (é normal ocorrerem saltos, e o papel do copidesque é encontrá-los e sugerir traduções para os trechos que faltam);
- revisar o texto conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (porque tradutor não costuma ter superpoderes pra pensar em dois idiomas e ainda se lembrar de todos os hífens existentes ou dos hífens que se foram J);
- sugerir mudanças no texto pra que ele soe mais “natural” (ao ler um livro, vocês já se depararam com expressões esquisitas, tipo, “a boCA DELA”?). Pois é... o copidesque tem que ficar atento a isso, o que inclui prestar muita atenção em expressões idiomáticas e checar nomes ou palavras de difícil tradução, ou mesmo a tradução de termos “técnicos” (sabe quando o autor de um livro é entusiasta de lacrosse e resolve mencionar todas as regras deste esporte... e você nunca tinha ouvido falar nisso?! Ou quando o autor é ornitólogo de fim de semana e decide citar os nomes de aves silvestres que você nunca viu na vida?! Pois é, trabalhar com livros pode ser uma caixinha de surpresas!);
- procurar “furos” no original (isso mesmo! Parece doideira, mas não é raro haver probleminhas no texto original ou mesmo na história, e quem traduz ou copidesca costuma avisar ao editor que, por sua vez, informa ao autor ou ao agente sobre eles. Às vezes, dá pra consertar; outras vezes, o que nos resta é respirar fundo e seguir adiante, porque é caso perdido L).
Mas o mais importante (ao menos, pra mim) é saber que, quando cada um
faz a sua parte nesse processo (isto é, quando o tradutor traduz, o preparador
prepara e o editor edita), as chances do leitor encontrar um livro lindo, bem
traduzido, bem preparado e bem editado na prateleira da livraria aumentam
muito!
Infelizmente, durante a preparação, não tenho chance (ou tempo) de
trocar figurinhas com os profissionais cujas traduções eu preparo, mas gostaria
que eles considerassem o trabalho posterior à tradução como uma colaboração pra
tornar ainda mais lindo aquilo que já nasceu bonito J.
Costumo dizer que, se os tradutores e tradutoras são os pais e as mães
dos livros, eu sou a tia (favorita =D) deles.
E é por isso, queridos tradutores e tradutoras, que eu queria terminar
este primeiro texto, agradecendo a vocês pelas aventuras vividas e pela
companhia no último ano, porque, sem vocês, eu não teria descoberto a
matemática do AMOR À PRIMEIRA VISTA, nem enfrentado DEUSES GREGOS pra lá de
maus ou filosofado sobre CÃES E HOMENS. Não teria visto o FUTURO em 1996, nem
ajudado a invocar CONJUROS e reconstituir a ORDEM DIVIDIDA; não teria
descoberto a relação entre um NOME e um DESTINO, nem feito poesia e seguido a
MÉTRICA. Não ia imaginar que CORAÇÕES e ALCACHOFRAS tinham tudo a ver. Não
teria me perdido dentro de uma CASA cheia de SEGREDOS, nem saberia hoje O QUE
REALMENTE ACONTECEU NO PERU.
E também não teria pulado de corpo em corpo, não teria sido menino e
menina, nem teria vivido seis dias antes e QUARENTA DIAS depois. TODO DIA (mas
isso é papo pra outra coluna)
E por falar em viciados em livros, aqui tem um link legal: http://bit.ly/1agsxDD
(Super me identifico com o 9, o 13 e o 15. E vocês?)
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Ana Resende trabalha como preparadora de originais e
tradutora, e é colaboradora da Galera
Record, entre outras editoras. Workaholic
assumida, não gosta de videogames e sua leitura favorita são os contos de
fadas. Acredita que o príncipe encantado existe, só que se perdeu
sem um GPS.
Twitter: @hoelterlein
14 comentários:
Adoreeeeei a coluna! Mas o que me fez pular da cadeira foi: "O que realmente aconteceu no Peru". AHHHHHHHHHHHHH!
Adorei a coluna, Ana! Concordo com você, no fundo quem trabalha com livros é mesmo apaixonado por eles. E parabéns por seu trabalho de primeira, sempre!
bJS
Adorei a coluna, é muito bom saber o que acontece com os nossos queridos livros antes que eles cheguem a nós.E também ajuda com aquele momento que encontramos um erro no livro a entender que não responsabilidade unica do tradutor ou revisor, que esse erro pode vir do original também...
Adorei a coluna e o texto além de informativo ficou muito divertido (a rima não foi intencional). Vai ser interessante acompanhar com mais detalhes o processo de produção/publicação dos livros. Parabéns!
Que legal saber mais um pouquinho sobre o trabalho até o livro ficar pronto.
petalasdeliberdade.blogspot.com
Poxa me coloquei em seu lugar absorvendo cada momento que viveu e nos narrou com tanta paixão que fica difícil não sentir a beleza desse trabalho.
Não posso dizer que seja tão Workaholic ,mas não vivo sem um livro para ler, uma história para contar.
Poder unir o amor, a paixão ao trabalho é uma benção.
Parabéns pela coluna e agora que começou quero mais.
Beijos
Saleta de Leitura
Simplesmente perfeito!
Adorei a coluna e me diverti muito!
Sucesso e boas leituras!
@ZildaPeixoto
Blog Cachola Literária
Adorei a estreia, Ana! Lembrar dessa turma que "faz nascer" cada livro é um jeito bacana de contrabalançar a rotina solitária da tradução. E um viva às equipes afiadas e aos livros bem-nascidos! ;)
Nova cluna ótima! Tb adorei (como todo mundo aqui hehe). Só não sei o que aconteceu no peru, agora vou ter que procurar a referência e descobrir de uma vez hehehe
Eu entendi a indireta direta?! Vocês vão publicar EVERY DAY do David?! E O Que Aconteceu no Peru da Cassandra?! SENHORRRRR! *---------*
Que encantooo!
Como é inexplicável ficar mais informada sobre os livros.
Parabénsss,querida!
Beijos!
@Alinianee
Ana - Sonhei : Apareça um livro para falar do CRIAR um livro. APARECEU.
HOJE, surge esta maravilhosa aula das ALMAS de livros. Sebastião.
Estou arrepiada. Que forma linda e leve de se falar sobre o nascimento de livros. Estamos aqui para aprender e ler. Diga mais, mestra. Angelica.
Ana, sendo eu leitora assídua, compreendo a sua felicidade diante dos livros. Eles são preciosos amigos, ora nos ensinando, ora nos divertindo. Não nos faltam! Perpétua.
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