Na última coluna, eu
tratei de alguns termos ou características da literatura fantástica que
incluíam a “fantasia de travessia” e a “fantasia arturiana”, entre outros.
Hoje vou tratar de mais
três termos: a “fantasia urbana”, o “realismo mágico” e o “gótico”.
1) A fantasia urbana
Em linhas gerais, a “fantasia urbana” é uma
história que se passa numa cidade numa época diferente da medieval ou da
vitoriana. Mas a cidade da fantasia urbana costuma ficar no planeta Terra
mesmo, sem a existência de um “mundo secundário”. E o tamanho da cidade também
não importa. Pode ser uma metrópole como Londres ou Nova York, ou ainda uma
cidadezinha menor; o importante é que os protagonistas vivam numa sociedade em
que vampiros, feiticeiras ou seres dotados com algum poder sobrenatural convivem
com pessoas “normais”. Por descrever situações e locais familiares, a “fantasia
urbana” faz bastante sucesso com os leitores. Duas das séries mais legais da Galera Record são justamente de
“fantasia urbana”: Diários do Vampiro,
da L. J. Smith, e Instrumentos Mortais,
da Cassandra Clare.
2) O Realismo mágico
O “realismo mágico” é uma
história que narra a vida cotidiana com um toque de sobrenatural. Ele não
descreve “mundos secundários” nem outros elementos fantásticos, tais como
estamos acostumados a ver. Também não há vampiros, feiticeiras nem outras
criaturas sobrenaturais interagindo com os seres humanos. Pra mim, um dos
melhores exemplos de “realismo mágico” é o livro Todo Dia, do David
Levithan, que também é uma história de amor entre A e Rhiannon, e poderia ser
compreendida apenas dessa maneira, se A não fosse desprovido de corpo. Quem
leu, deve ter percebido isso: se não fosse o fato de trocar de corpo todos os
dias, A e Rhiannon seriam mais um casal a viver um romance fofo nas páginas de
um livro.
3) O gótico
O “gótico” é um dos termos mais duradouros na
ficção fantástica. O primeiro livro propriamente “gótico” tinha como título The Castle of Otranto (O Castelo de Otranto) e foi escrito por
Horace Walpole em 1764. O livro de Walpole incluía um castelo semidestruído,
paisagens desoladas e muitas maldições, profecias e segredos ocultos, e
inaugurou um tipo de ficção que foi muito popular durante o fim do século XVIII
e tornou-se uma verdadeira febre não só na Inglaterra, país natal do sr.
Walpole, mas em toda a Europa e nos Estados Unidos. No entanto, a febre do
gótico perde força já na segunda década dos anos de 1800 e até uma autora como
Jane Austen vai fazer a sua crítica ao gênero, que apresenta personagens
fragilizados, à beira de um ataque de nervos.
Mas a fantasia gótica sobreviveu renovada e chegou
ao século XX. Embora já não tenha elementos como castelos em ruínas, ela
continua a apostar na sensação de medo dos personagens e no risco de que tenham
sucumbido à loucura. Umas das características da fantasia gótica é justamente a
incapacidade do leitor de chegar a uma conclusão definitiva sobre a saúde
mental dos personagens da história ou sobre os acontecimentos narrados.
Um dos meus contos góticos favoritos é The Monkey’s Paw (A Pata do Macaco), de W. W. Jacobs. Ele é tão famoso nos Estados
Unidos que até foi usado como inspiração para um dos episódios de Halloween de Os Simpsons, Treehouse of Horror II. Aqui tem um trechinho bem engraçado do
episódio: http://www.youtube.com/watch?v=Vo8qbkTAts4
Outra
fantasia gótica bem conhecida é We Have
Always Lived in the Castle (Sempre
Vivemos no Castelo), da Shirley Jackson, uma das minhas autoras
favoritas.
O livro não foi traduzido aqui no Brasil, mas há
uma edição portuguesa disponível para quem se interessar pela história, narrada
por Mary Katherine “Merricat”. Merricat, de 18 anos, é considerada uma das
melhores protagonistas femininas da literatura norte-americana e, no livro, ela
conta a história da própria família, os três Blackwood restantes, que vivem
numa casa imensa e isolada, sem contato com os moradores da aldeia próxima, e mostra como esse isolamento afetou a percepção que eles
têm de si mesmos e do mundo.
Só pra atiçar a curiosidade em relação à obra da
Shirley Jackson, vocês sabiam que um dos contos dela, intitulado The Lottery (A Loteria), serviu de inspiração para a série de livros sobre os
Jogos Vorazes?
O conto narra um evento conhecido como “a loteria”
numa pequena aldeia. Num dia ensolarado e fresco de julho, cerca de 300 aldeões
se reúnem na pracinha da aldeia e torcem para que “a loteria” acabe logo e eles
ainda possam almoçar antes do meio-dia... O que seria um conto sobre os
costumes de uma aldeia pequena acaba se transformando numa das narrativas mais
assustadoras da literatura norte-americana, na qual a causa do medo são as
pessoas ditas “normais” e a vida cotidiana.
Minibio:
Ana Resende trabalha como preparadora de originais e tradutora, e é
colaboradora da Galera Record, entre outras editoras. Workaholic assumida,
está gostando mais de videogames e sua leitura favorita são os contos de fadas.
Acredita que o príncipe encantado existe, só que se perdeu sem um GPS.
Twitter: @hoelterlein
Um comentário:
Eu simplesmente adorei a postagem e eu pretendo ler depois a minha série dos Instrumentos Mortais e Peças Infernais. Tenho toda coleçao, mas ainda preciso comprar o Princesa Mecânica pra completar. E o Diário de um vampiro, por esses dias, fiquei bem interessada em ver a série para ver se gosto e depois comprar os livros.
Eu comecei assim com Pretty Little Liars e li 6 livros seguidos. Vou acabar fazendo o mesmo (risos)
Já o livro TODO DIA, estava doida por causa dele, eu recebi de presente de amigo secreto de uma amiga, mas pretendo ler ele só ano que vem, já que agora estou com minhas leituras agendadas. Enfim...Adorei as novidades da Record. Admiro mto todas as obras e gostaria de fazer um dia parte dessa editora, principalmente dos lançamentos maravilhosos que vem pela frente =]
PARABENS !!!!
lovereadmybooks.blogspot.com.br
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