Experiência, carinho sem fim, cuidado, amor. Minhas avós foram grandes
inspirações na minha vida, grandes presenças. Minha avó paterna me levava muito
ao teatro quando eu era pequena, e um dos grandes momentos da minha vida foi
poder tê-la na plateia quando me apresentei com a companhia de sapateado que
integrava. Foi do palco do teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, que pude
avistar sua cabeça branca nas primeiras fileiras, seus olhos escuros fixos em
mim, orgulhosos. Embora ela não esteja mais por aqui, essa é uma das inúmeras
lembranças dela que nunca vou esquecer.
Já minha avó materna mora comigo e vem dela meu interesse pelo cinema. Foi sentada ao lado dela, até de madrugada, que assisti aos musicais antigos como “Sete Noivas para Sete Irmãos” e a filmes clássicos como “E o Vento Levou”. Perdi a conta de quantos filmes assistimos juntas. Foi com ela que descobri a ferocidade e a paixão de Heathcliff, protagonista de “O morro dos ventos uivantes”, interpretado por Sir Lawrence Olivier, e a graça de Jerry Lewis. Ela me levou para ver o primeiro “Batman” no Teatro Chinês, em Los Angeles, e eu a levei para ver “Drácula de Bram Stoker” no Barra Shopping.
Atualmente, a visão da minha avó está muito debilitada, mas isso não a impede de ver filmes. “Coloca no SAP para eu identificar quem é o ator”, ela pede. Mas a visão a impede de voltar a ler. Fico triste com isso porque sei que era algo que ela também gostava muito de fazer. Mas vocês acham que isso desanimou a Dona Helena, nascida em Alexandria? Nada!
“Lê pra mim, Frini”, ela pediu quando contei para ela que
havia terminado meu segundo conto. Eu já havia lido o primeiro, que era bem
romântico, e ela tinha adorado. O segundo também é bem fofinho, mas com um
final mais feliz do que o primeiro e com uma pegada mais gótica, elementos que
expliquei para ela, e ela adorou a mistura (até porque foi ela que me
apresentou a Vincent Price!). Então eu sentei e li, interpretando o texto com
carinho, com cuidado.
A cada quebra de frase, olhava para ela, e seus olhos verdes acinzentados
estavam fixos em mim. Conforme a história avançava, ela se aninhava no meio de
almofadas e quase não piscava. Quando a narrativa entrou no romance, ela levou
as mãos ao rosto, tão apaixonada pelo protagonista quanto eu. E quando
terminou, ela sorriu e sussurrou um “que lindo”. E aí começamos a debater o
conto, o que ela havia achado, o que eu poderia melhorar, e como ela imaginara
os personagens. E ela descreveu o “gatinho” do meu conto exatamente como eu o
tinha imaginado, sendo que não usei muitos detalhes na escrita. Quase chorei!
“E aquele do padre, quando você vai acabar? Quero saber o que acontece. E o seu livro?”, continua pedindo.
Depois de terminar essa coluna, li para ela também, e, mais uma vez, os olhos de um verde acinzentado único, brilharam. Ela me abraçou e falou “lindo, lindo, obrigada” ao pé do meu ouvido, com a voz embargada.
“E aquele do padre, quando você vai acabar? Quero saber o que acontece. E o seu livro?”, continua pedindo.
Depois de terminar essa coluna, li para ela também, e, mais uma vez, os olhos de um verde acinzentado único, brilharam. Ela me abraçou e falou “lindo, lindo, obrigada” ao pé do meu ouvido, com a voz embargada.
Minha avó despertou em mim a paixão por personagens, e essa é a maneira que encontrei para retribuir: escrevendo os meus e dividindo-os com ela. E tem maneira melhor?
OBS: Para quem se perguntou “que padre?”... Bem, vamos dizer que nem todos os contos que escrevo são ingênuos.
6 comentários:
FRini
Como vc sabe perdi minha querida avó há pouquíssimo tempo!
É com os olhos cheios d'água amiga que li esse seu lindo texto!
Minha avó era fofa, me incentivava , me amava de um jeito que nunca vou conseguir explicar!E vendo o carinho pela sua digo: que lindo! que ela veja o quanto vc a ama e entende que com a senioridade algumas coisas ficam defasadas mas o carinho com elas é sempre tão grande que sentimos prazer em reverter os papéis, ontem era ela que lia para vc, hoje vc o faz!
CLAP, CLAP, CLAP! Sorte de vcs terem uma a outra!
Um beijo imenso em vc e nela :D
...
<3
Que lindo, Frini! Também sou muito apegada à minha vó. Inclusive, foi ela que me ensinou a ler, quando eu tinha uns 5 anos.
Li o seu conto do padre e achei sensacional. Quando poderemos ler os outros?
Beijinhos
Obrigada pelos comentários, gente. Realmente, minhas avós são algo de incrível na minha vida e sei que as de vocês também. :)
Mari, o do padre eu vou expandir por pura pressão! HAAHAH! os outros ... bem, vamos ver se consigo publicar :)
beijos
Impossível não se emocionar com seu texto.
Quantas recordações que passaram por mim quando fala sobre os musicais antigos. Minha saudosa avó e mãe adoravam. Assisti muitos e "Sete Noivas para Sete irmãos" foi inesquecível e ainda mais estando na adolescência cada irmão era um "pão" como se dizia na época. Claro que E o Vento levou foi marcante e tenho o DVD e volta e meia mato as saudades.
Linda e muito fofa a sua vovó e que Deus abençoe esse amor, esse carinho, essa troca que vai carregar para sempre consigo e dividir conosco essa sintonia tão sublime.
Agora vou correndo ler o seu conto do padre.
Beijinhos
Saleta de Leitura
Ai, Frinoca... chorei lendo sua coluna. Tô mega sensível...
que lindo!
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