A trama é essencialmente a mesma: no futuro, simplório operário decide passar por um procedimento de alteração de memórias e descobre ser uma espécie de Jason Bourne, um superagente desmemoriado. Não há ida para Marte aqui, e sim para a tal Colônia (Austrália), um grande continente-favela que serve de dormitório para os trabalhadores oprimidos pela grande United Federation of Britain. O transporte é a grande sacada do filme, um tubo que passa pelo centro da Terra e une Inglaterra à Austrália, com direito à reversão de gravidade. É um triunfo visual, assim como outros detalhes no filme, como a nítida inspiração em Blade Runner para compor o universo, especialmente a Colônia; aqui, não se trata de uma cópia deslavada, uma vez que os dois filmes foram baseados em contos de Philip K. Dick.
Em meio a essa disputa de classes, Douglas Quaid troca socos com sua esposa de mentira (Kate Beckinsale) e beijos com uma revolucionária (Jessica Biel) que conhece sua verdadeira identidade. Esta parte da trama, a intenção do governo da United Federation of Britain de erradicar à força as favelas da Colônia pega na ferida da recente reportagem, publicada no New York Times, que acusa o governo carioca de querer remover favelas para deixar o Rio, aham, “mais bonito” para a Copa e as Olimpíadas. Uma incômoda (e rara) reflexão em um filme como esse.
Mas o problema de O Vingador do Futuro é deixar para trás os questionamentos da trama (livre arbítrio, fantasia/realidade, a opressão social) e descambar para um filme de ação que nem é um bom filme de ação: é tudo tão caricato e exagerado que vira um videogame sem nenhum envolvimento da plateia e sem perigo real e imediato para o protagonista. O exagero, como dito, dá o tom: Colin Farrell e Kate Beckinsale parecem se enfrentar a cada dez minutos de filme, sempre em um embate sem conclusão e consequências, o que esvazia o drama do antagonismo entre eles e dá sono. Quando os dois distribuem chutes e pontapé pelas sexta ou sétima vez com um cenário claramente digital desmoronando entre eles, a pessoa leva os olhos ao relógio e pergunta: dá para pular de fase? Ou, quem sabe, apagar a memória de ter visto esse filme?
O trailer e outras informações estão no site oficial.
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André Gordirro, 39 anos, carioca, tricolor, escreve sobre cinema há 18 anos. Passou pelas redações da Revista Manchete, Veja Rio, e foi colaborador da Revista SET por dez anos. Atualmente colabora com aRevista Preview e GQ Brasil. Leva a vida vendo filmes, viajando pelo mundo para entrevistar astros e diretores de cinema e, claro, traduzindo para a Galera Record. Nas horas vagas, consegue (tenta...) ler gibis daMarvel, jogar videogames e escrever o primeiro romance (que um dia sai!).
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