007
– Operação Skyfall marca o fim do ciclo de três filmes de Daniel Craig como
James Bond (ele fará mais dois) e comemora os 50 anos do personagem criado por
Ian Fleming. Era de se esperar um espetáculo bombástico, ainda que sob as
rédeas do “realismo” impostas sobre a reinvenção do agente secreto ocorrida em Cassino Royale ,
de 2006. Mas o que vemos aqui é outra aventura insossa, ligeiramente superior
ao equivocado e insípido Quantum of Solace. O filme tem grandes acertos —
mais investimento do roteiro na persona de James Bond; trama que envolve
diretamente a agência de espionagem; vilão inesquecível de Javier Bardem —, mas
escorrega em uma produção sem charme e sem cenas memoráveis de ação. Por
exemplo: o filme abre com uma perseguição de carros burocrática, que fica aquém
da tensão do início de Quantum of Solace, que também começa com Bond ao
volante.
Se Quantum of Solace era uma continuação direta de Cassino
Royale, com Bond ainda atormentado pelo envolvimento com Vesper e
preocupado em investir contra a sinistra organização que matou a amada, aqui
estes elemento sumiram. A trama da máfia secreta operada pelo Sr. White sumiu e
deu lugar a uma série de ataques ao MI-6, o Serviço Secreto Britânico,
orquestrado por um ciberterrorista chamado Silva (Javier Bardem, sósia de
Clodovil, inclusive nos trejeitos afeminados —– é impossível não rir, apesar de
o vilão ser bom. Tem ares de Hannibal Lecter com um forte pé no Coringa de
Heath Ledger). O alvo principal é M (Judi Dench), que o expert em James Bond e colega
crítico de cinema Eduardo Torelli identificou como “a Bondgirl do filme”. É
verdade: a quase octogenária atriz é a donzela em perigo da vez e tem uma
relação afetuosa com 007 mais forte do que as transas descartáveis do agente
(em tempo: este é talvez um dos piores exemplares da série em termos de
Bondgirls; a francesa Bérénice Marlohe tem uma atuação digna de vergonha alheia
de tão ruim, que nem a beleza óbvia de bibelô salva).
Focar a trama na relação Bond-M humanizou o personagem e
permitiu que os produtores ensaiassem uma volta às origens do universo Bond
como ficou eternizado na gestão Connery/Moore; os flertes com o passado ocorrem
ao longo do filme e culminam no epílogo, que aponta uma nova direção para a
série (que, esperamos, conclua a trama da tal organização sinistra que ficou no
ar). A execução desde 007 – Operação Skyfall é que decepciona: deixa
para trás o que foi começado em Cassino Royale , arma cenas burocráticas e
cria um clímax genérico que poderia estar em qualquer filme de Steven Seagal ou
Van Damme (aliás, lembra muito o ápice de O Alvo). A sensação é que este
007 – Operação Skyfall é um filme-ponte, que faz a ligação entre duas
abordagens de James Bond com o mesmo ator, mas que oscila demais para se firmar
com identidade própria. Até agora, Cassino Royale continua sendo o
melhor 007 de Daniel Craig.
O
trailer e outras informações estão no site oficial.
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André Gordirro, 39 anos, carioca, tricolor, escreve sobre cinema há 18 anos. Passou pelas redações da Revista Manchete, Veja Rio, e foi colaborador da Revista SET por dez anos. Atualmente colabora com aRevista Preview e GQ Brasil. Leva a vida vendo filmes, viajando pelo mundo para entrevistar astros e diretores de cinema e, claro, traduzindo para a Galera Record. Nas horas vagas, consegue (tenta...) ler gibis daMarvel, jogar videogames e escrever o primeiro romance (que um dia sai!).
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