29 de jan. de 2016

Papos de sexta: O melhor trabalho do mundo!



Outro dia me espantou ver — diga-se de passagem, mais uma vez — uma blogueira no Facebook se explicando que ter blog não é só ganhar livros. O que me arrepia só de pensar é que em pleno 2016 ainda tenham pessoas que não entendam que nem todo mundo ganha grana como algumas YouTubers ou Book Tubers e nem tudo na vida só tem que ser feito quando remunerado.

Quando coloquei meu blog no ar em 2010, jamais pensei que um dia eu escreveria uma coluna para Galera Record, que apresentaria eventos lotados em livrarias entrevistando autores que admiro muito, que metade do meu Facebook fosse de blogueiros, leitores e pessoas do mercado literário, que eu tivesse tanta alegria pelo “ simples” motivo de colocar o blog no ar. Não, não é fácil mantê-lo com a correria do dia a dia. Quantas vezes pensei em desistir? Nenhuma! Eu nunca coloquei o blog no ar pensando em ganhar algo, eu o coloquei porque amo livros e filmes e queria conversar com muitas pessoas que tem essa mesma paixão. Afinal, quantas vezes me vi irritada na escola, faculdade ou no trabalho falando o nome de um escritor ou ator e todo mundo dizendo que nunca ouviram falar? O blog me fez ter amizades incríveis, interagir com pessoas que amam o que eu amo, ter contato com escritores que jamais sonhei conhecer...e isso, desculpem, não tem preço.

O que paga minhas contas é o que faço de segunda a sexta — ok, as vezes alguns sábados — e o faço com amor, porque foi a profissão que escolhi. Mas nada se compara ao que sinto quando tenho contato com livros em uma Bienal, quando apresento ou vou a eventos literários ou tardes de autógrafos. É hobby? Sim! Mas é o hobby mais incrível que eu poderia ter. Por essa razão, claro que quando a crise bateu na porta eu lamentei não ganhar grana com o blog como alguns ganham... mas jamais imaginei descontar minha frustração com o cenário do país no que sempre me fez feliz.

Se você é blogueiro — ou tem vlogueiro! — certamente está pensando: “Ih, a Raffa está floreando o mundo, não é tão maravilhoso assim!”. Mas o que na vida é 100 por cento só sorrisos? Das vezes que fiquei triste com o blog passou tão rápido que digo que mal existiram. Foi quando não fui aprovada para parceria com uma editora que queria muito — acreditem, TODOS passam por isso! —– ou quando recebi uma crítica supernegativa sobre algo que postei. O blog requer tempo, eu canso de ir dormir muito mais tarde do que devo para acordar pro trabalho dia seguinte, eu canso de abdicar de um dia inteiro com o marido saindo para terminar uma leitura ou aquela postagem superimportante. Isso quando não chegamos exaustos de alguma lugar e ele só pelo olhar já sabe que não tem cara feia... é dia de gravar vídeo pro Canal.

Meu blog me faz feliz, os amigos que tenho por causa dele nem preciso citar — aliás, já o fiz em alguma coluna no passado — mas definitivamente não o mantenho para “ganhar livros”. Claro que amo as parcerias e que fico muito feliz quando recebo livros em casa delas e/ou kits especiais que nem estão à venda! Mas meu cartão sabe que nunca parei de comprar meus livros, continuo comprando muito, continuo sangrando grana do meu “trabalho real” para continuar com os eventos do blog, e o faço com a única intenção de falarmos de livros. Não há nada melhor do que um final de semana que eu saiba que tem evento do blog. Portanto, para quem ainda acha que blogueiro só ganha livros, crie um blog, veja o como cada seguidor é uma vitória, como remunerado ou não fazemos com o mesmo afinco para ficar tudo em dia nele.


Tenho orgulho de ser blogueira, e de fazer parte dessa blogosfera literária linda que me rodeia há mais de 5 anos ;) 

28 de jan. de 2016

Galera entre letras: O que você gosta de ler?

Para a coluna de hoje, eu resolvi fazer algo diferente (e torço pra que logo, logo vire uma tradição da Galera entre Letras). Pedi ao Pedro, que tem 14 anos e sempre lê a coluna  além de ser um leitor voraz de livros de terror e de ficção histórica do Bernard Cornwell , que falasse um pouco das leituras dele nas férias e do que ele gosta de ler.

O Pedro então me mandou um pequeno texto falando sobre dois livros (e dois autores) muito importantes no gênero do terror e, em particular, do terror “cósmico” e universal: O Caso de Charles Dexter Ward e o Rei de Amarelo, escritos, respectivamente, em 1927 e 1895! (Ambos os autores estão traduzidos em várias edições diferentes.)

Vamos ver o que o Pedro tem a dizer sobre os livros?




Em 1926, ocorreu um surto no qual poetas e artistas tiveram devaneios muito similares, entre os dias 26 de março e 2 de abril.
***
Massachusetts, ano de 1928: duas famílias e um grupo de policiais desaparecem do vilarejo de Dunwich.
***
Esses são os cenários de alguns dos contos de Lovecraft. Bem-vindos ao terror moderno.

O que assombra na obra de escritores como Lovecraft ou Robert W. Chambers não é apenas a forma como flertam com o desconhecido e evocam o nosso medo por ele, mas também é a utilização de um realismo inteligente e sardônico que nos faz duvidar do que poderia ou não ser ficção.

Em O Caso de Charles Dexter Ward, podemos destacar uma citação de Borellus: “Os saes essenciais das Bestas podem ser preparados e preservados de Maneyra que seja facultado a hum Homem de Engenho conter toda a Arca de Noe […].” E, no Rei de Amarelo, o contexto decadente da época, junto com a alusão que a própria cor fazia a este dão um realismo assombroso à obra.

Quanto à engenhosidade do terror criado por esses autores, é um terror que não necessita de sanguinolência ou morte para gelar os ossos. Trata-se de um confronto com o proibido e uma reflexão do quão pequenos e frágeis somos, num universo criado bilhões de anos antes de nós, e do que poderia nos espreitar na escuridão, dentro e fora dele.

Assim, o legado deixado por esses e outros autores é a recordação de nossos temores mais humanos e instintivos. Eis aqui o verdadeiro medo.

E está lançando o desafio!

Se você tem por volta de 15 anos, está na escola, gosta de ler, que tal mandar pra mim um texto pequeno, falando dos seus autores ou das leituras preferidas?

A cada dois meses, eu vou publicar o SEU texto aqui. Pra mandar, é só me adicionar no Facebook ou eu vou dar um jeito de achar você (incluam aqui a risada maléfica).

Até e boas leituras!

22 de jan. de 2016

Papos de Sexta: Para sempre

A notícia veio sem rodeios: Alan Rickman morreu.


Sou fã dele há muitos e muitos anos e, pela nossa diferença de idade, sempre imaginei como reagiria quando a fatal notícia chegasse. Imaginei que fosse chorar e sentir meus joelhos tremerem e, em seguida, encontraria o chão em meio a lágrimas. Mas não foi isso que aconteceu.

Ao ouvir a notícia, fiz o que qualquer jornalista faria: chequei as fontes. Busquei mais veículos para verificar, afinal, nem tudo que está na internet é verdade. Mas essa infelizmente era. Era fato: a voz de Alan Rickman havia se silenciado para sempre.

Escolhi falar sobre essa perda aqui no blog porque, bem, porque ela é relacionada à força do amor que temos por personagens. Não vou ficar listando todos os personagens interpretados por Alan aqui, pois foram muitos e foram muito diferentes. Vou focar em Severo Snape porque nossa história é a que quero contar.

Eu sabia sobre Harry Potter, mas não tinha lido os livros ainda. Descobri a magia das páginas durante o hiato entre o gancho de “Cálice de Fogo” e a expectativa por “A Ordem da Fênix”. Mas o que me fez mergulhar nas páginas foi a explosão de sentimentos que o primeiro filme me proporcionou. Eu nunca fui fã de fantasia e apenas admirava o trabalho autoral desse gênero. Mas depois de assistir a “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, precisava saber mais sobre aqueles personagens. E principalmente sobre o misterioso e rabugento Mestre de Poções, interpretado por Alan “voz de veludo” Rickman.

Como fã do ator, me apaixonei ainda mais pelo personagem e mergulhei no fandom potteriano de cabeça. Harry Potter me trouxe uma lista de “primeiras vezes”: a primeira saga literária que acompanhei; o primeiro evento literário que apresentei (e me colocou nessa vida); o primeiro fórum e lista de discussão que integrei; as primeiras fanfictions que escrevi. Isso sem contar nos amigos que fiz e nas aventuras que vivi!

Mas será que se o personagem fosse interpretado por outro ator teria me despertado a curiosidade? Talvez não. Talvez chegasse a Potter mais tarde. A única certeza que tenho é que foi a interpretação de Alan Rickman que me levou às páginas.

Engraçado como isso acontece, né? Como os atores fazem esse link entre o nosso mundo, de carne e osso, e o Mundo das Ideias, onde vivem os personagens. Eles são como médiuns, que interpretam o que está na página e dão vida ao intangível.

Quando li a morte de Snape no livro, chorei muito. Sabia que ele não sobreviveria ao final da saga e, a cada livro, suspirava e pensava “Ufa! Desse ele passou!”. Mas sabia que viria a sofrer com a morte dele como os fãs de Sirius sofreram sua perda e tantas outras que Rowling nos fez passar. E as lágrimas vieram com intensidade e meu coração se quebrou e eu queria abraçar o personagem enquanto seus últimos suspiros deixavam seu corpo. E eu quis abraçar Alan Rickman porque, ao ver a cena no cinema, as lágrimas e o sentimento de perda voltaram.

Mas com a notícia fria nos jornais, as lágrimas não vieram. A perda estava lá e a tristeza também, mas não chorei. Não o conhecia pessoalmente, não integrava sua família ou seu círculo de amizades então como poderia sentir falta dele dessa forma? Isso faz de mim uma fã de meia tigela? Não. Entendi que a minha ligação era com a ideia que Rickman tornava real e não com ele em si.

A perda de Alan Rickman quebrou meu coração, sim, mas ele me deixou uma legião de amigos que, ao receberem a notícia, me mandaram mensagens de apoio, abraços reais e virtuais e vários “você tá bem?”. E esse é o legado imortal que ele deixou para mim e para todos que foram tocados por sua arte. O sentimento que acordou em nós nos uniu. Não importa a Casa de Hogwarts ou se concordávamos ou não com o que Snape fez na série: estamos juntos nessa perda como estávamos quando cada personagem nos deixou.

Prova disso está nas fotos abaixo. Os fãs que estavam no parque Islands of Adventure, em Orlando, no dia do falecimento, fizeram uma homenagem a Alan Rickman, erguendo suas varinhas em direção ao castelo de Hogwarts (mesmo gesto que os alunos fazem após o falecimento de Dumbledore). E, no brinquedo, alguns fãs também deixaram flores na porta de Snape e uma dessas flores era um lírio (quem leu HP sabe do que estou falando). E foi aqui que eu chorei.



Crédito: Buzzfeed

Em um momento de virada na saga, Harry pergunta para Dumbledore, “Isso é real ou está acontecendo dentro da minha cabeça?”. E o sábio bruxo responde algo como “Claro que está acontecendo dentro da sua cabeça, Harry. Mas isso não significa que não seja real”.

Podia ser a descrição de tudo que sentimos ao ler um livro, ao sofrer com ele, ao nos apaixonar por um personagem. Acontece na nossa cabeça, no nosso coração e, se sentimos, é real. Para sempre.




21 de jan. de 2016

Tons da Galera: Award Season

Parece que foi ontem que falamos disso, mas mais uma vez a temporada de premiações em Hollywood está aí e as escolhas das estrelas na hora de se vestir estão tendo, como sempre, destaque pelo mundo nos dias seguintes aos eventos. Quase uma confirmação da temporada passada e um preview da próxima, que começa no final deste mês em Paris, os stylists das estrelas esse ano não foram muito ousados e criativos, o que não quer dizer que faltou beleza e bom gosto.

Vimos muitas repetições, mas feitas de maneiras diferentes. A começar pelos recortes, vistos em Jennifer Lawrence de Dior, Julianne Moore de Tom Ford e Brie Larson de Calvin Klein no Globo de Ouro.


Recortes inusitados em lugares inesperados

Outro destaque foram as capas, curtas ou compridas, desde a apresentadora do canal E! Giulianna Rancic, Taraji P. Henson num tomara que caia branco, Cate Blanchett e Jennifer Lopez de amarelo no Globo de Ouro, parece que é a vez das super heroínas no tapete vermelho.


Mulheres Maravilhosas e suas capas

Fendas vertiginosas também apareceram aos montes, como no vestido de Olivia Wilde, Kirsten Dunst e Rosie Huntington-Whitely de Dior preto (cor muito vista também) no Critics Choice Awards.


Fendas e pretinhos nada básicos para todos os gostos em Liv Tyler, Kirsten Dunst, Rosie Huntington-Whiteley e Bryce Dallas Howard


Em breve teremos mais looks do Screen Actors Guild, Directors Guild e do aguardadíssimo Academy Awards. Vamos esperar mais surpresas boas (alô tio Oscar, já está na hora do Leonardo di Caprio ganhar uma estátua dourada para chamar de sua, não é não?) dentro e fora dos tapetes vermelhos!

14 de jan. de 2016

Design et cetera: Diferentona



Esses dias eu morri de rir com os memes da Diferentona:

“Só eu que já conhecia esse livro antes de todo mundo?”

Só você.
Única.
Pioneira.
Floco de Neve.
Etc.

O meme é engraçado porque na maioria das vezes, ninguém é tão original, inédito e descobridor quanto pensa, né. Bem, quase ninguém, porque talvez a Editora Record seja uma exceção. Não importa quantos anos você tem e nem qual seu estilo literário favorito. Se você existe, se você tá vivo e se você é brasileiro, os livros da Record fizeram parte da sua história e da sua memória afetiva.

Com mais de 70 anos no mercado editorial, a Record foi a primeira grande editora brasileira dedicada aos best-sellers de entretenimento para a massa. Se foi hit, se foi blockbuster, a gente publicou. E temos as capas mais retro-horrorosas para provar, quer ver?





Eu cresci com essa coleção infantil. A pequena vendedora de fósforos foi o primeiro livro que “mudou minha vida”. Eu tinha 3 anos e ficava inconsolável quando a vendedora de fósforos morria no final (oops, spoiler). Chorava por horas com pena da menina. Não dormia. Pedia para minha mãe reler a história e ela, coitada, mudava o final para ver se eu me consolava.

Outro clássico que habitou minha infância foi Tintin. Eu nem lembrava que as edições brasileiras eram da Record. Olha que tesouro!


TINTIN S2



STAR WARS S2

A LONG LONG TIME AGO

A gente já publicava antes de vocês.

Diferentona
Colonizadora
Pré-histórica 
Bandeirante 
Avant-garde
Descobridora 
Pioneira 
Única 


 TUBARÃO
O filme não é da minha época, mas muito antes de eu ter medo de encontrar um tubarão na piscina e morrer amputada, a Record já disseminava esse medo nas gerações passadas. Isso que é tradição.


EBOLA

E falando em medo, muito antes desse último surto de Ebola, a gente já aproveitava o gancho do surgimento da epidemia nos anos 70 para lançar esse documentário. Eu, como boa hipocondríaca obcecada por doenças letais, já estou querendo ler e já estou sentindo a manifestação dos primeiros sintomas do Ebola. Socorro.


A ESCOLHA DE SOFIA

Como não lembrar desse clássico que nos desidratou de tanto chorar?  Mais trágica que a história da Sofia, no entanto, é esse layout. Mas a gente perdoa, afinal, ser histórico é abraçar o brega.


SILÊNCIO DOS INOCENTES

Esse livro, gente. Não tenho nem palavras, estou tipo essa moça com a mariposa na boca: incapaz de falar. Eu li quando era adolescente e ficava tão aterrorizada de noite que escondia o livro na gaveta da cabeceira. Mesmo assim, inexplicavelmente, sempre tive um crush enorme no Hannibal Lecter. Meu sonho era ser comida por ele, literalmente.

E vocês? Qual livro jurássico e diferentão da Record marcou sua vida?


7 de jan. de 2016

Galera entre letras: Desafios Literários!



A primeira coluna de 2016 não poderia vir num dia mais propício, afinal, hoje é o dia do leitor!

FELIZ DIA DO LEITOR PRA TODOS NÓS!

Eu fiquei pensando durante a semana sobre o que gostaria de escrever num dia tão especial (e assunto é o que não falta pra gente na Galera entre Letras! rs) e resolvi que a melhor maneira de comemorar o dia de hoje é… lendo mais ainda em 2016! rs

E que tal se essa leitura for feita com outras pessoas e você puder discutir, trocar ideias ou mesmo reler com outros olhos as histórias que já leu?

Mas calma que eu já conto como tudo começou…

Uma amiga me chamou pra participar de um desafio literário bem legal — 12 meses de Poe. A proposta é ler todo mês um conto de Edgar Allan Poe e trocar ideias sobre os contos lidos. Eu adorei a ideia e estou acompanhando o desafio, que tem até página no Facebook.

Claro que o desafio não precisa se limitar aos contos do Poe, e também não precisa ser coletivo nem precisa de página nas redes sociais. Você pode convidar um colega, vizinho, irmão, pai, mãe ou pode seguir o desafio sozinho mesmo. E também não precisa seguir à risca a lista de textos (quem nunca mudou de ideia, não é?!). O importante é tirar um tempinho pra você reler algo de que gosta ou, quem sabe, um autor ou texto que nunca tenha lido.

E tudo bem se a sua biblioteca pessoal não é assim tão grande ou se você não tem uma biblioteca pública por perto (tem muitas espalhadas pelo Brasil e todas elas costumam ter salas de leitura ou emprestam os livros pra você levar pra casa por um prazo determinado — só não esqueça de devolver!). Tem algumas bibliotecas virtuais que permitem que você faça downloads LEGAIS de livros (porque livro pirateado não vale, né?).

Em geral, costumam ser obras clássicas, de autores em domínio público. Se você não lembra ou ainda não sabe o que são “obras em domínio público”, dá uma lida na matemática dos autores aqui.

Uma boa biblioteca de obras em domínio público (em português, inglês e espanhol) é o Portal Domínio Público. Dá pra baixar várias obras, inclusive, as de Edgar Allan Poe (infelizmente não tem nada em português, mas tem os textos originais em inglês e traduções para o espanhol). E aqui vocês encontram a tradução do Machado de Assis para um dos poemas mais conhecidos do Poe — O Corvo.

E no Project Gutenberg também tem uma “prateleira” com livros em português.

Uma biblioteca pouco conhecida de textos em língua inglesa, mas que eu adoro, é a eBooks@Adelaide.

E já que eu falava de “obras em domínio público”... na Austrália as obras caem em domínio público 50 anos após a morte do autor (ao contrário da maioria dos países, inclusive do Brasil, onde esse período é de 70 anos), então, dá pra ler muita coisa nas bibliotecas virtuais australianas que ainda não estão disponíveis nas outras — dá pra baixar também, mas você não pode publicar porque aí estaria infringindo o copyright (o direito autoral). Eu sei que é complicadinho, então, melhor só ler mesmo rs

Aqui tem o link do Project Gutenberg Australia.

Ufa! Leitura é que não vai faltar em 2016!

O meu desafio literário pessoal vai ser reler alguns contos do Conan Doyle (já deu pra perceber que um dos meus personagens favoritos é Sherlock Holmes, né? Já até falei da série nova aqui.

O conto do mês de janeiro é um dos meus preferidos, nem sei quantas vezes já li: A Scandal in Bohemia [Um Escândalo na Boêmia]. Depois falo mais sobre o desafio sherlockiano!

Espero que vocês se divirtam com o desafio literário. E quem quiser pode postar como será o seu desafio pra 2016!

Boas leituras e até!






4 de jan. de 2016

Tons da Galera: Tudo novo — ou quase.

Ano Novo, armário novo! Ou não. Em tempos de crise, pelo menos ainda podemos sonhar. Nas últimas semanas, os principais sites e especialistas em moda como The Zoe Report e Who What Wear fizeram apanhados do que promete entrar no seu armário ou ao menos na listinha de objetos do desejo de 2016.

O clima anos 1970 e 1990 (não juntos) continua imperando. Do  jeans de cintura alta e flare, abrindo na barra (guarde o boyfriend por enquanto), aos óculos retrô enormes (aposente os espelhados), os anos 1970 continuam presentes, mas um pouco menos onipresentes. Depois da enxurrada de camurça e caramelo (e camurça caramelo) que andamos vendo, esse ano trará um perfume mais Disco 70s do que pós-Woodstock 70s.

Migrando desse 70s show para os anos 1990, as estampas psicodélicas dão lugar a metalizados nas roupas e esmaltes, vestidos camisola acetinados e echarpes finas, amarradas como Gigi Hadid e Lily Rose, filha de Johnny Depp, costumam usar. As bochechas são bem coradas de blush (chega de excessos de contouring!), o delineado pode ser azul turquesa, e os lábios continuam mattes em tons amarronzados, à la Kylie Jenner, com uma participação especial do bom e velho vermelho-tomate.

Previsões do oráculo Rachel Zoe: Jeans alto flare, vestidos camisola, metálicos, óculos gigantes, bolsas brancas e maxi brincos.

As bolsas são de tamanho médio e brancas (deixe as color block descansado um tempo no armário), e os brincos continuam enooooormes, passando dos ombros. Nos pés: Tênis tênis tênis. O sneaker, ou bom e velho tênis, continua sendo a estrela da vez, geralmente branco, e muito, muito confortável. Porque sofrer pela moda é coisa do passado, e o ano é novo!


Queridinhos da vez — tênis, batom da Kylie Jenner (esgotado em horas), unhas metalizadas e Lily Rose e sua echarpes fininhas.

25 de dez. de 2015

Papos de Sexta: Toda Forma de Amor é Linda



A gente sempre diz que não tem preconceito. Mas assumo que durante muito tempo o tive e o carreguei comigo por não entender, por achar que era errado. Mas quem mesmo diz o que é certo? Nossos pais? A religião em que somos criados? Sou de uma época onde a internet não era algo tão comum na adolescência; sim, ela já existia, mas não fazia parte da vida de todos nós.  Sendo assim, a gente sabia o que vivia, o que lia na revista, o que via na TV... e tudo que se falava de homossexuais parecia errado, o mundo não aceitava (e sei que muitos ainda torcem o nariz até hoje).

Em casa também não tínhamos o hábito de discutir sobre isso, então toda vez que alguém vinha com o assunto eu pensava que não era a favor, mas não abria a boca. Gente, mas do que eu tinha que ser a favor? É isso que eu não entendia e que as pessoas não entendem...até onde a opção sexual de alguém interfere na sua vida? Não devo me meter. Sei disso hoje, mas demorei um certo tempo para descobrir.

Não vou citar nomes, mas foi quando ouvi da boca de uma amiga, que amo muito, que ela gostava de meninas que acordei para o tema. À primeira vista, pensei que ela estava brincando, depois vi que era verdade quando me apresentou à namorada. E foi exatamente o convívio com ela que me fez perceber o quão pouca informação eu tinha a respeito e o quão preconceituosa eu era. E não se enganem,  o preconceito não é somente o que você coloca para fora em palavras e gestos...ele mora em você; e, por comodismo ou outro motivo, você não se interessa em saber porque ele existe.

É tão estranho pensar na pessoa que fui e na que sou hoje em dia. Eu pude ver no rosto da minha amiga a felicidade de poder dizer a todos de quem ela gostava... o parar de se esconder foi libertador e a aceitação de quem ela amava – e isso me incluía – foi fundamental nessa fase.

Não lembro quantos anos tem isso, exatamente, mas de lá para cá as vitórias foram muitas nesse assunto. Claro que ainda há diversas batalhas a serem vencidas, mas o número de amigos e amigas que gostam do mesmo sexo só aumentou, e isso só me faz ver o quanto isso sempre existiu, mas a vida não deixava eles serem quem são.

Por abraçar o tema, e compreendê-lo e não aceitar de nenhuma forma que meus amigos se magoem com pessoas que acham que tem o direito de interferir em suas vidas, eu me encantei com os livros de David Levithan. Já tinha lido Nick & Norah e amado, mas aqui entre nós, os livros dele com a temática LGBT são sensacionais. Sempre recomendo a todos, aos que já entenderam que vencer o preconceito depende de nós. Quem ama de verdade quer ver o outro feliz, seja ele da sua família ou seu amigo.

Se você se sente como eu me sentia antes da minha amiga revelar “seu segredo”, acorde, nunca é tarde demais para mudar de lado, e os do bem, aqueles que aceitam os outros como eles são, sempre têm lugar para mais um.


Leia Will & Will, suspire com Garoto encontra Garoto, mergulhe de cabeça em Dois garotos se beijando...o resultado com certeza vai ser único. Não tem como não amar Levithan, muito menos como entrar 2016 sendo tão 1916 ;) 

18 de dez. de 2015

Papos de Sexta: 365 dias e milhares de páginas

Essa é a minha última coluna do ano e escolher o tema foi difícil.

Pensei em escrever sobre o aniversário de Jane Austen e como ela influenciou tantos autores de gerações futuras e continua a fazer isso até hoje. Mas deixei para uma próxima vez.



Pensei, em seguida, em abordar Guerra nas Estrelas e como estamos prontos para assistir a um novo filme, rezando para que ele resgate o arrepio que a trilogia clássica nos trouxe e ignore a tristeza de foi a trilogia mais nova. Mas achei melhor viver a experiência antes de escrever sobre ela.

Aí fui para o lado polêmica e pensei em fazer mais uma coluna sobre comportamento (ou a falta do mesmo) em redes sociais, tema que curto debater, inclusive por aqui. Mas achei melhor esperar para uma data menos simbólica.

E aí fiquei sem tema...  E essa falta de tema me fez pensar no ano inteirinho e como ele foi repleto de altos e baixos para todos nós.

Como brasileiros, nossa paciência com corrupção e injustiça está no fim. Buscamos justiça, mas parece que o mar de lama nos engole a cada braçada.

Por falar em lama, ela clamou vidas esse ano e a revolta fica ainda maior ao notarmos que, tentar corrigir um dos piores desastres ambientais do país parece não ser prioridade para quem o causou.

Em 2015, vimos pessoas utilizarem a beleza da fé para tentar justificar massacres.

Em 2015, vimos muita coisa ruim e revoltante nos noticiários, mas também vimos – dentro e fora da mídia – compaixão, felicidade, amor.

Como todos os anos, 2015 foi um ano complexo, de uma forma ou de outra, para todos nós. E o interessante é que, em todos esses dias, fossem eles bons ou não tão bons, tivemos uma constante: os livros.

O dia estava ruim? É só a gente se perder nas páginas do novo volume dos diários de uma certa princesa e pronto! Sorriso garantido.

O dia estava bom? Então podemos compartilhar esse sentimento com aventuras vividas em mundos fantasiosos onde o trono é de vidro e a situação é mais tensa.

Frustração, tristeza, contentamento, felicidade, angústia, e tantos outros sentimentos que nos faz humanos podem ser compartilhados entre nós e elas, as páginas.  

Então, na minha última coluna de 2015, agradeço aos autores por nos manter firmes em nossas jornadas individuais. Vocês podem estar apenas contando uma história, mas para nós, vocês fazem muito mais. Mesmo sem saber, vocês nos mantém fortes e corajosos; sensíveis e apaixonados; completos.



Que à meia-noite de 31 de dezembro de 2015, quando as doze badaladas anunciarem o novo ano, possamos olhar para trás com a certeza de que fizemos o nosso melhor. E que tenhamos a certeza em nosso coração de que os próximos 365 dias serão ainda mais incríveis. Obrigada pela leitura durante esse ano e que venha mais um!

Feliz Natal e um 2016 repleto de páginas para todos nós!

  

17 de dez. de 2015

Galera entre letras: O presente dos Magos

Na coluna de Natal do ano passado [aqui], eu já tinha citado “O Presente dos Magos” como um dos contos mais importantes que têm como tema o Natal. Hoje resolvi arriscar uma tradução e postá-la aqui, junto com meus votos de boas festas e um 2016 com muitas leituras pra todos nós! A.R.

O Presente dos Magos, de O. Henry*

Um dólar e 87 centavos. Era tudo. Sessenta moedinhas de um centavo. Moedinhas economizadas de duas em duas, às vezes, ao intimidar o dono da mercearia, o verdureiro e o açougueiro até as bochechas de um deles arderem com a acusação de parcimônia que tal negócio íntimo implicava. Três vezes Della contou. Um dólar e 87 centavos. E o Natal era no dia seguinte.

Era evidente que nada se podia fazer, além de desabar no pequeno sofá velho e chorar. E foi o que Della fez. O que provoca a reflexão moral de que a vida é feita de soluços, fungadas e sorrisos, com o predomínio de fungadas.

Enquanto a dona da casa está, aos poucos, passando do primeiro para o segundo estágio, deem uma olhada na casa. Um apartamento mobiliado a oito dólares por semana. Não é que faltassem palavras para descrevê-lo, mas certamente a palavra falta se destacava na observação para o esquadrão da pobreza.

No vestíbulo abaixo, havia uma caixa de correio na qual carta alguma entrava, e um botão elétrico, do qual nenhum dedo mortal poderia obter um som. Além disso, próximo a ela via-se um cartão com o nome “Sr. James Dilingham Young”.

O “Dilingham” fora lançado à brisa durante uma época anterior de prosperidade, quando o nomeado recebia trinta dólares semanais. Agora que a receita encolhera para vinte dólares, eles pensavam seriamente em abreviá-lo para um modesto e despretensioso D. Mas sempre que o Sr. James Dillingham Young voltava para casa e pisava em seu apartamento no andar de cima, era chamado “Jim”, e recebia um grande abraço da sra. James Dillingham Young, já apresentada a vocês como Della. O que é muito bom.

Della parou de chorar e cobriu suas bochechas com o pó facial. Ela estava parada perto da janela e fitava, indiferente, um gato cinzento que caminhava sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã era dia de Natal, e ela tinha apenas um dólar e 87 centavos para comprar um presente para Jim. Andara economizando cada centavo que podia durante meses, e este era o resultado. Vinte dólares por semana não davam para muita coisa. As despesas foram maiores do que ela havia calculado. Sempre são. Somente um dólar e 87 centavos para comprar um presente para Jim. Ela havia passado muitas horas felizes planejando comprar alguma coisa bonita. Algo belo, raro e de boa qualidade ― alguma coisa só um pouquinho digna da honra de pertencer a Jim.

Havia um imenso espelho decorado entre as janelas do cômodo. Talvez você tivesse visto um espelho desses num apartamento de oito dólares. Uma pessoa muito magra e ágil, ao observar o reflexo numa rápida sequência de faixas longitudinais, obtinha uma visão bastante precisa de sua aparência. Della, por ser esguia, tinha dominado a arte.

Subitamente ela girou e se afastou da janela, postando-se diante do espelho. Seus olhos brilhavam, mas o rosto perdeu a cor vinte segundos depois. Rapidamente ela soltou o cabelo e o deixou cair em todo seu comprimento.

Dois eram os bens do casal James Dillingham Young dos quais ambos se orgulhavam tremendamente. Um era o relógio de ouro de Jim, que havia pertencido ao pai e ao avô. O outro eram os cabelos de Della. Se a rainha de Sabá vivesse no apartamento do outro lado do duto de ventilação, Della botaria cabelos para fora da janela para secar apenas para humilhar as joias e presentes de Sua Majestade. Se o rei Salomão fosse o zelador, com todos os seus tesouros empilhados no sótão, sempre que Jim passasse por ele sacaria o relógio, apenas para ver o outro cofiar a barba com inveja.

Então agora os lindos cabelos de Della desciam como cascatas, onduladas e reluzentes, de águas castanhas. O cabelo alcançava até debaixo de seu joelho e quase se tornava uma peça de roupa para ela. Em seguida, ela o prendeu de novo, rápida e nervosamente. Ela hesitou por um instante e ficou parada enquanto uma lágrima e outra pingavam no tapete vermelho surrado.

Ela vestiu o velho casaco marrom; botou na cabeça o velho chapéu marrom. Com um giro das saias e a centelha brilhante nos olhos, passou rapidamente pela porta e desceu os degraus que davam para a rua.

Parou onde a placa dizia: “Mme. Sofronie. Cabelos de Todos os Tipos”. Della subiu correndo um degrau e se recompôs enquanto arfava. Madame, gorda, muito branca, antipática, nem parecia a “Sofronie”**.

― A senhora quer comprar o meu cabelo? ― perguntou Della.

― Eu compro cabelo ― respondeu Madame. ― Tire seu chapéu e vamos dar uma olhada nele.

A cascata castanha desceu em ondas.

― Vinte dólares ― falou Madame, erguendo a massa com mão treinada.

― Me dê rápido então ― retrucou Della.

Ah, e as duas horas seguintes voaram em asas cor-de-rosa. Esqueçam a metáfora confusa. Della estava revirando as lojas atrás do presente de Jim.

E finalmente ela encontrou. Sem dúvida, tinha sido feito para Jim e mais ninguém. Não havia outro presente como este em loja alguma, e ela tinha revirado todas. Era uma corrente de platina para relógio de bolso com um desenho simples e austero, que de modo adequado somente proclamava seu valor pela substância e não pela ornamentação vulgar ― como todas as coisas boas deveriam fazer. Era digna até do Relógio. Assim que a viu, soube que deveria pertencer a Jim. Era como ele. Austeridade e valor ― a descrição se aplicava aos dois. Tiraram dela 21 dólares, e ela se apressou para casa com 87 centavos. Com aquela corrente no relógio Jim poderia parecer adequadamente preocupado com as horas junto a qualquer companhia. Por mais grandioso que o relógio fosse, algumas vezes Jim olhava para ele disfarçadamente por causa da tira de couro velha que usava no lugar de uma corrente.

Quando Della chegou em casa, a agitação deu lugar à prudência e à razão. Ela pegou o ferro de cachear, acendeu o gás e se pôs a trabalhar para reparar a destruição feita pela generosidade somada ao amor. O que sempre é uma tarefa tremenda, caros amigos ― uma tarefa gigantesca. 

Quarenta minutos depois, sua cabeça estava coberta com cachos minúsculos, bem rentes à cabeça, que faziam com que ela se parecesse graciosamente com um garotinho preguiçoso. Ela fitou longa, cuidadosa e criticamente o reflexo no espelho.

― Se Jim não me matar ― falou para si mesma ― antes que olhe para mim uma segunda vez, ele vai dizer que pareço com uma corista de Coney Island. Mas o que eu poderia ― Oh! O que eu poderia fazer com um dólar e 87 centavos?

Às sete horas, o café fora passado e a caçarola estava no fundo do fogão quente, pronta para preparar os bifes.

Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente na mão e se sentou no canto da mesa perto da porta pela qual ele sempre entrava. Então ela ouviu seus passos no degrau do primeiro lance, e empalideceu por apenas um momento. Ela tinha o hábito de rezar uma oração curta e silenciosa sobre as coisas simples do dia a dia e agora murmurou:

― Por favor, meu Deus, fazei com que ele ainda me ache bonita.

A porta se abriu e Jim entrou e a fechou. Ele aparentava magreza e muita seriedade. Coitado, apenas 22 anos e o fardo de uma família! Precisava de um sobretudo novo e não calçava luvas. 
Jim parou no lado de dentro da porta, tão imóvel quanto um cão de caça ao sentir o cheiro da codorna. Seus olhos se fixaram em Della; neles via-se uma expressão que ela não podia interpretar, e isso a apavorou. Não era raiva, não era surpresa nem desaprovação, também não era horror ou qualquer sentimento para o qual ela estivesse preparada. Ele simplesmente a encarou com aquela expressão peculiar no rosto. 

Della circundou a mesa e foi até o marido.

― Jim, querido ― gritou ela ―, não me olhe assim! Eu cortei e vendi meu cabelo porque não podia passar o Natal sem lhe dar um presente. Vai crescer de novo... Você não vai se importar, não é? Eu simplesmente tinha que fazer isso. Meu cabelo cresce ridiculamente rápido. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e vamos ficar contentes. Você não sabe que adorável… que belo e adorável presente eu comprei para você.

― Você cortou seu cabelo? ― indagou Jim, com dificuldade, como se não ainda tivesse assimilado o fato evidente apesar do tremendo esforço mental.

― Cortei e vendi ― falou Della. ― Mas você gosta de mim do mesmo jeito, não é? Ainda sou eu sem o cabelo, não sou?

Jim olhou ao redor do cômodo com curiosidade.

― Você está dizendo que seu cabelo se foi? ― falou, com um ar de idiotia.

― Você não precisa procurar ― falou Della. ― Eu vendi, já disse… vendi e ele se foi também. É véspera de Natal, homem. Seja bonzinho comigo porque ele se foi por sua causa. Talvez os fios na minha cabeça tenham sido contados ― emendou ela com uma doçura subitamente séria ―, mas ninguém já contou meu amor por você. Será que eu devo servir os bifes, Jim?

Saindo do transe, Jim pareceu acordar rapidamente. E abraçou Della. Durante dez segundos, vamos examinar com discreta observação algum objeto sem importância em outra direção. Oito dólares por semana ou um milhão por ano… Qual é a diferença? Um matemático ou um sábio responderiam incorretamente. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Essa observação sombria será iluminada adiante.

Jim tirou um pacote do bolso do sobretudo e jogou-o sobre a mesa.

― Não se engane, Dell ― falou ele ― a meu respeito. Não acho que haja alguma coisa, seja um corte de cabelo, raspar a cabeça ou um xampu, que pudessem me fazer gostar menos de você. Mas se você abrir o pacote pode ver, para começo de conversa, por que fiquei fora algum tempo. 

Dedos brancos e ágeis rasgaram o cordão e o papel. Ouviu-se um grito extasiado de alegria; e então, que infelicidade! uma rápida mudança para lágrimas e gemidos histéricos, que necessitavam imediatamente de todos os poderes do homem da casa para acalmá-los.

Pois lá estavam Os Pentes ― o conjunto de pentes para a lateral e a parte de trás, que Della havia adorado muito tempo numa vitrine da Broadway. Belos pentes de puro casco de tartaruga, com beiradas de joia ― da exata cor para usar no belo cabelo que se foi.

Mas ela os abraçou junto ao peito, e finalmente foi capaz de erguer o olhar com olhos sombrios e um sorriso, e falou:

― Meu cabelo cresce muito rápido, Jim! 

E então Della deu um pulo feito um gatinho escaldado e gritou:

― Oh, oh!

Jim não tinha visto ainda seu belo presente. Ela o estendeu ansiosamente para o marido na palma da mão aberta.

― Não é elegante, Jim? Eu revirei toda a cidade para encontrar. Você vai ter que ver as horas cem vezes por dia agora. Me dê seu relógio. Quero ver como fica.

Em vez de obedecer, Jim desabou no sofá e pôs as mãos embaixo da nuca, sorrindo.

― Dell ― falou ele ― vamos guardar os presentes por algum tempo. Eles são bonitos demais para usarmos no momento. Eu vendi o relógio para ter dinheiro para comprar os pentes. E agora que tal você servir os bifes?

Os magos, como vocês sabem, eram homens sábios ― homens maravilhosamente sábios ― que trouxeram presentes para o bebê na manjedoura. Eles inventaram a arte de dar presentes de Natal. Por serem sábios, sem dúvida, seus presentes eram sábios, e provavelmente tinham o privilégio de serem trocados caso fossem duplicados. E aqui eu contei com certo tédio a vocês a crônica sem graça de duas crianças bobas num apartamento, que de modo nada prudente sacrificaram uma pela outra os maiores tesouros da casa. Mas numa última palavra aos sábios desses dias, que seja dito que de todos que dão presentes esses dois foram os mais sábios. De todos os que dão e recebem presentes, tais são os mais sábios. Em toda parte, eles são os mais sábios. Eles são os magos.

* Publicado em 1905, o conto é um dos mais famosos do escritor O. Henry, que não poucas vezes foi comparado a Charles Dickens
**O nome da mulher remete, em grego, à ideia de prudência e virtude.


Versão cinematográfica do conto (1952)

9 de dez. de 2015

Galera Pop: Jessica Jones


Jessica Jones foi um presente fabuloso que Marvel e Netflix nos deram neste final de ano. Vou falar aqui como uma fã de séries comum, não sou adepta das histórias em quadrinhos. Então não se assustem, ou me julguem, mas eu nunca tinha ouvido falar dessa tal de Jessica Jones antes da Netflix divulgar que iria fazer a série. Então foi mais ou menos assim, eu fui lá assistir à série e me deparo com essa mulher forte, solitária e corajosa. Como de costume, fui procurar saber mais com meu amigo Google. Com mais noção do universo em que ela vive (não, eu não assisti e nem li o Demolidor) e mais conhecimento de alguns dos personagens foi tranquilo seguir os episódios.
Krysten Ritter, de Breaking Bad e Don’t Trust the B* in Apartment 23, foi a escolhida para interpretar a super-heroína. Mesmo não conhecendo a personagem, fiquei um pouco intrigada com a escolha da atriz. Já a conhecia de vários filmes e séries no melhor estilo “comédia romântica”, então fiquei meio na duvida ao imaginá-la interpretando uma personagem que não tivesse o estilo da melhor amiga da Becky Bloom ou da roomate folgada de Apartment 23. E foi uma surpresa muito boa! Se você a conhece pelos papéis mais água com açúcar, pode confiar, ela arrasa.



A série não trás aquela coisa de fantasia da HQ, Jessica não aparece usando uniforme, não voa e está longe de ser aquela típica heroína que estamos acostumados. Ela é bem “gente como a gente”, isso faz a série chamar tanta atenção, tem problemas reais, trabalho real, apartamento real. A moça usa seus poderes só no trabalho, ela é detetive particular. E nesse meio tempo, Jessica tem algumas visões perturbadoras. A gente (se você, como eu, não conhece a história) só começa a entender isso lá pelo terceiro episódio quando o vilão, interpretado pelo David Tennant (os whovians gritam!) aparece. Kilgrave tem o poder de controlar mentes; as pessoas fazem tudo que ele manda. O cara é obcecado pela Jessica, de quem se aproveitou no passado, e, quando ele volta, ela tem que lutar para sobreviver e resistir aos abusos do vilão.



Essa relação abusiva de que ela tenta se livrar, trouxe à tona um problema que muita mulheres sofrem. A luta que ela tem todo dia para se manter longe das garras dele é uma alusão clara aos relacionamentos abusivos que estão por toda parte. Disfarçados de “quem ama cuida”, ou seja qual for a desculpa esfarrapada que caras babacas dão para serem abusivos com suas companheiras. Não vou me estender nesse tópico, mas recomendo algumas leituras:

Krysten Ritter: ‘Jessica Jones é feminista com F maiúsculo':  http://www.brasilpost.com.br/2015/12/08/jessica-jones-feminista_n_8747884.html 

Jessica Jones e relacionamentos abusivos: 

Jessica Jones e o lado mais sombrio da Marvel: 

Jessica Jones é incrível e você PRECISA conhecê-la! Prometo que não vai se arrepender.

xoxo

Fernanda


8 de dez. de 2015

Os melhores de 2015



Meu livro favorito de 2015, com certeza, foi O aprendiz, primeiro volume da série Conjurador. A história do autor Taran Matharu fez um sucesso estrondoso no Wattpad, rede social de publicação e leitura online, e conta a história de Fletcher, um órfão de 15 anos que, sem saber como, consegue conjurar um demônio. A partir daí, ele garante uma vaga na Academia Vocans, uma escola que treina seus alunos conjuradores para a guerra contra os Orcs.
Lá, Fletcher irá fazer bons amigos e inimigos realmente péssimos. E acaba descobrindo muito sobre seu passado.
Me apaixonei pela história porque sou fanático por fantasias de qualidade, e essa tem elementos muito atrativos para quem curte uns feitiços aqui, um mago acolá e, de quebra, criaturas poderosas batalhando. O estilo de escrita do Taran tem muito daquele ar fresco de autores novos, cheios de disposição para criar e desenvolver do seu jeito o universo e os personagens tão carismáticos que criaram. Além disso, os demônios, que estão mais para pokémons, podem ser fofos e poderosos, e têm uma ligação íntima com seus conjuradores.
Tem muita ação, mistério e o livro mantém, o tempo inteiro, um ritmo que te faz não querer parar de ler.
Estou desesperado pelo próximo da série. Taran, escreve logo! Nunca te pedi nada...

Bjo!

Rodrigo Austregésilo



Reencontrar a princesa Mia depois de tanto tempo foi o ponto alto das minhas leituras em 2015. E não é que ela continua engraçada e totalmente adorável? Para quem ainda não sabe, esse ano lançamos um novo volume de O diário da princesa, de Meg Cabot, O casamento da princesa. Mia já tem 26 anos, ainda namora o Michael e continua tentando se esquivar das exigências de Grandmère. Como qualquer moça da sua idade, ela só quer se divertir de vez em quando, mas as coisas não são tão simples quando se é uma princesa! Formalidade é tudo e tanto a imprensa quanto a família real andam cobrando por um compromisso mais sério entre ela e o namorado. O sim é certo, mas isso, claro, não é tudo...
Temas contemporâneos e relevantes como feminismo, política e questões raciais se misturam às trapalhadas da princesa e seu séquito. Para mim, foi como reencontrar uma velha amiga e dar boas risadas. Mas fiquei com gostinho de quero mais. Ouviu, Meg? #FicaMia #MiaNewAdult #CometoBrazilMia

Aproveitem os feriados do final do ano para conferir e depois me contem!
Ah, quem ficar com muita saudade da Mia (como fiquei), pode procurar a edição capa dura de colecionador do volume um da série, com prefácio emocionante da Paula Pimenta – ficou espetacular e digna da realeza.  

Boas festas, pessoal!

Beijo da Ana



Já é Natal! Praticamente. E chegou a hora de revelar meu livro Galera predileto, entre tantos. Aliás, tarefinha ingrata! São tantos. Alguns ainda nem publicados. Escolher o livro do ano é quase como admitir que se ama mais um filho que outro... Devia ser proibido! Mas... vamos lá!
Um dos livros que mais me chamou a atenção no ano foi o primeiro juvenil da Sophie Kinsella, À procura de Audrey. Sim, fui leitora do Diários de consumo e ri muito com as trapalhadas da Becky Bloom. Realmente estava curiosa para ver como a autora conseguiria abordar um tema tão delicado como bullying, sem perder a própria voz. Até porque, a personagem principal, Audrey, é uma adolescente. Nada a ver com as balzaquianas às voltas com encontros malsucedidos, chefes exigentes e contas a pagar. Mas Sophie conseguiu migrar de gênero, sem abandonar suas principais características, e construiu um romance com personagens incríveis de tão críveis. Delicado e bem-humorado, o livro me emocionou... Afinal, quem nunca se sentiu deslocado, sozinho e triste? Lutando para encontrar não só seu lugar no mundo, mas uma forma de se colocar nesse mesmo mundo, defendendo suas opiniões com consciência e, por que não?, sempre, com educação. Respeito às diferenças!!!! Por favor! Hoje mais que nunca! Como não amar? Sou aquário!!  

Adriana Fidalgo



Me deram a tarefa superdifícil de escolher meu livro favorito do ano. Estava aqui pensando em 2015, nas coisas importantes que vieram à tona, e em como o feminismo ganhou destaque na mídia e nas redes sociais. Esse movimento é muito importante e para efetuarmos uma mudança nos padrões de desigualdade, precisamos empoderar as mulheres, tanto as reais quanto as ficcionais. E foi pensando nisso que escolhi falar de uma das séries com a personagem feminina mais forte de todos os tempos: Trono de Vidro.

Eu nunca li nada como Trono de vidro e nunca conheci um personagem como a Celaena. Ela é uma assassina, tem seu próprio código de ética. Ela luta de igual para igual com homens e mulheres. Ela é frágil, claro, como todos somos em algum momento. Mas  a saga de Celaena não acaba com ela se apaixonando pelo homem ideal. Não. Celaena se apaixona diversas vezes, mas isso nada tem a ver com sua luta. Celaena não precisa da proteção do homem amado, pelo contrário, ela é quem o protege com unhas e dentes e lâminas afiadas. Afinal, se envolver com uma assassina desse tipo é extremamente perigoso para qualquer homem. E Celaena não enxerga as outras mulheres da corte como uma ameaça. Ela forja amizades com outras mulheres fortes e juntas elas lutam contra inimigos comuns. Além de ser um livro de fantasia de proporções épicas, cheio de reviravoltas, traições e personagens complexos, Herdeira de Fogo é um romance com uma protagonista que todas as garotas podem admirar. Afinal, já está mais do que na hora da gente ter uma heroína para chamar de nossa! E precisamos de mais livros assim.

Rafa Machado

7 de dez. de 2015

Tons da Galera: Serenity, now

Chegou a hora daquele anúncio que a gente adora: a cor do ano! Na semana passada, a Pantone anunciou a cor do ano de 2016. E a maior novidade veio no fato de que dessa vez são duas cores, um fato inédito. As escolhidas são o Rose Quartz, ou quartzo-rosa, e o Serenity, um azul calmante e suave. A duplinha já está dando o que falar, e várias marcas, é claro, já estão lançando seus produtinhos inspirados nas cores para lucrar.


Mas por que duas cores e logo essas, depois de um ano dominado pelo Marsala, um vinho terroso e intenso? Bom, o vídeo acima já explica muito. Têm sido tempos caóticos, e a Pantone, como todos nós, está em busca de mais paz. Segundo a empresa, os consumidores estão em busca de bem-estar e calma para lidar com o stress do mundo moderno, e essas duas cores juntas trazem um balanço entre o calor do rosa e a tranquilidade gelada do azul. O efeito desejado é suavidade, ordem e paz. Além disso, a recente dissolução de alguns rótulos relativos aos gêneros na moda também influenciou a escolha de tons que, juntos, remetem à igualdade e fluidez para uma geração menos preocupada com rótulos ou julgamentos.



Marcas como a própria Pantone, com seus objetos para a casa como canecas e bloquinhos e caderninhos mil, e a Sephora, com uma linha de make, já estão lucrando com as cores. Grifes que desfilaram ao longo do ano com tons pasteis e iluminados também acertaram e devem lucrar. E a onda de cabelos em tons pasteis e até barbas hipsters decoradas com glitter rosa já estavam cantando essa bola.

Eu achei esse sopro de algodão doce muito bem vindo nos tempos em que vivemos hoje, e vocês?